O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse que o aquecimento global acabou, e que o mundo acaba de entrar na era da ‘ebulição global’. O discurso, realizado na última quinta-feira (27), serve para eliminar qualquer dúvida de que a humanidade precisa urgentemente cortar as emissões de gases do efeito estufa, combater o desmatamento e preservar o que resta da biodiversidade.
Em entrevista coletiva, Guterres salientou a divulgação de dados oficiais da Organização Meteorológica Mundial e do Copernicus Climate Change Service da Comissão Europeia. Nesse sentido, segundo o secretário-geral da ONU, os números confirmam que julho de 2023 foi o mês mais quente já registrado na história da humanidade.
“As consequências são claras e trágicas: crianças arrastadas pelas chuvas das monções; famílias fugindo das chamas; trabalhadores desmaiando no calor escaldante”, reforçou Gutteres.
O mês de julho acumulou recordes de temperatura. Ondas de calor vêm atingindo o norte da África, a Europa, a Austrália e a América do Norte. Apesar da distância geográfica, porém, tais queimadas podem agravar a seca em países como o Brasil, já que substâncias são transportadas para o continente sul-americano pelo ar.
Apenas o começo
O diretor de serviços climáticos da Organização Meteorológica Mundial, Chris Hewitt, endossa o alerta. Segundo Hewitt, com base em 173 anos de dados, os oito anos mais quentes já registrados ocorreram de 2015 a 2022, e que um aquecimento substancial vem ocorrendo desde a década de 1970. “A mudança climática está aqui, e é apenas o começo”, pondera.
Além disso, para Guterres, uma ação global é necessária imediatamente nas frentes de emissões e adaptação climática e finanças. “Sem mais hesitações. Não há mais desculpas. Chega de esperar que os outros se movam primeiro”, disse o secretário-geral da ONU. “Ainda é possível limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC e evitar o pior das mudanças climáticas. Mas apenas com ação climática dramática e imediata. Temos visto algum progresso. Uma implantação robusta de energias renováveis . Alguns passos positivos de setores como transporte marítimo. Mas nada disso está indo longe o suficiente ou rápido o suficiente. Temperaturas aceleradas exigem ação acelerada”, complementou.
Guterres pontuou ainda que os líderes mundiais precisam tomar medidas imediatamente, especialmente aqueles do G20, o grupo dos 20 países industrializados mais ricos. Primeiramente, são eles os responsáveis por 80% das emissões de gases de efeito estufa em todo o planeta.
“Precisamos de novas e ambiciosas metas nacionais de redução de emissões dos membros do G20… E todos os atores devem se unir para acelerar uma transição justa e equitativa dos combustíveis fósseis para os renováveis – à medida que interrompemos a expansão do petróleo e do gás e financiamos e licenciamos novos carvão, petróleo e gás… E devemos atingir a eletricidade zero líquida até 2035 nos países desenvolvidos e 2040 em outros lugares, enquanto trabalhamos para levar eletricidade acessível a todos na Terra”, afirma o secretário-geral.
Novo normal
Ademais, o secretário-geral da ONU seguiu seu pronunciamento dizendo que o clima extremo está “se tornando o novo normal” e que as nações ricas precisam apoiar os países “na linha de frente – que fizeram menos para causar a crise e têm menos recursos para lidar com ela” do consequentes inundações, secas, calor e incêndios.
Guterres exigiu também o fim das corporações e instituições financeiras que se escondem de suas culpabilidades e responsabilidades. “As instituições financeiras devem encerrar seus empréstimos, subscrições e investimentos em combustíveis fósseis e, em vez disso, mudar para energias renováveis. E as empresas de combustíveis fósseis devem mapear seu movimento em direção à energia limpa, com planos de transição detalhados em toda a cadeia de valor: chega de greenwashing. Não há mais engano. E chega de distorção abusiva das leis antitruste para sabotar alianças líquidas zero”, continuou.
Ainda segundo Guterres, é necessário colocar um preço no carbono e que os bancos de desenvolvimento precisam disponibilizar mais financiamento privado a um custo razoável para os países em desenvolvimento, bem como aumentar seu financiamento para adaptação, perdas e danos e renováveis.
“As evidências estão em toda parte: a humanidade desencadeou a destruição. Isso não deve inspirar desespero, mas ação. Ainda podemos impedir o pior. Mas, para isso, devemos transformar um ano de calor ardente em um ano de ambição ardente. E acelerar a ação climática – agora!”, finalizou.