Pela primeira vez, o Papa Francisco sugeriu a possibilidade de que os padres abençoem casais do mesmo sexo. A fala foi dita em resposta a cinco cardiais conservadores da Ásia, Europa, África, Estado Unidos e América Latina, contudo, ele também enfatizou que a benção seria decidida caso a caso e alertou para que não fosse confundido com cerimônias de casamento de casais heterossexuais.
Em sua fala, o pontífice afirmou que a Igreja é muito clara em relação ao sacramento do matrimônio, que deveria ocorrer apenas entre um homem e uma mulher, aberto à procriação, acrescentando que a Igreja deveria evitar qualquer outro ritual que contrarie esse ensinamento.
A dúbia, respondida por Francisco na segunda-feira, 2, contém uma série de perguntas sobre temas variados e centrava-se no próximo Sínodo, uma convenção mundial de bispos que atuam como conselho consultivo do pontífice, e está marcada para acontecer de 4 a 29 de outubro.
Segundo o pontífice, algumas vezes os pedidos de benção são uma forma de as pessoas se aproximarem de Deus e viver vidas melhores, mesmo que alguns atos sejam “objetivamente moralmente inaceitáveis”. “A caridade pastoral deve permear todas as nossas decisões e atitudes. Não podemos ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem”, disse Francisco. “Quando você pede uma bênção, você expressa um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor, uma confiança num pai que pode ajudá-lo a viver melhor”, escreveu o chefe da Igreja Católica na carta.
A Igreja ensina que ter atração por pessoas do mesmo sexo não é pecado, mas engajar-se em atos homossexuais, sim. Essa nova declaração do papa contradiz com outro depoimento que ele havia dito, onde deixou claro que a Igreja não poderia abençoar as uniões entre pessoas do mesmo sexo porque “não podia abençoar o pecado”. Para Francis DeBernardo, diretor-executivo do New Ways Ministry – ele promove a aproximação da igreja com os católicos da comunidade LGBT -, esse recente posicionamento de Francisco, mostra que a igreja reconhece de fato que o amor sagrado pode existir entre casais do mesmo sexo, e que o amor dessas pessoas espelha o de Deus.
Sínodo e o futuro da Igreja
O papa Francisco abre nesta quarta-feira, 4, no Vaticano, a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o ápice de uma ampla consulta mundial sobre o futuro da Igreja católica, por meio da qual pretende instaurar um funcionamento menos piramidal. Durante dois anos, os cerca de 1,3 bilhão de católicos do mundo foram convidados a expressar sua visão sobre a Igreja e sobre questões como o acolhimento de pessoas LGBTQIA+ e de pessoas divorciadas, a poligamia, o casamento de padres, o lugar das mulheres na instituição, ou a luta contra a pedofilia.
Durante quatro semanas, os 464 participantes, 365 deles com direito a voto, se reunirão diariamente no Vaticano, divididos em grupos de reflexão em cinco idiomas. Entre eles, há 54 mulheres. O resultado destes trabalhos será entregue ao papa, que poderá levá-lo em consideração para introduzir medidas no governo da Igreja mundial.
A principal novidade deste encontro desta instituição consultiva criada por Paulo VI em 1965 é que laicos e mulheres participarão dos trabalhos e poderão votar, algo inédito descrito como uma “revolução”. A assembleia-geral se insere em uma reflexão de longo prazo, com uma segunda sessão marcada para outubro de 2024, o que torna difícil ver impactos concretos nas próximas semanas.
*Com informações da AFP