Mais um escândalo para o governo de Jair Bolsonaro, e dessa vez cadeiras podem rolar, isso porque o nome do Ministro da Economia Paulo Guedes, e do Banco Central Roberto Campos, figuram nesse esquema. Os documentos do Pandora Papers mostram que 66 dos maiores devedores brasileiros de impostos, cujas dívidas à União somam R$ 16,6 bilhões, mantêm offshores com milhões depositados em paraísos fiscais. É uma lista com mais de 140 nomes, que enquanto enriqueciam, o povo ficou pobre.
Um dia depois da publicação dos chamados Pandora Papers, documentos que mostram as contas em paraísos fiscais de políticos e celebridades ao redor do mundo. No caso brasileiro, os personagens são ninguém menos que as duas principais autoridades econômicas: o superministro da economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. E foi exatamente isso o que aconteceu com Guedes e Campos Neto, que ficaram mais ricos, enquanto a imensa maioria dos brasileiros ficou mais pobre indo para a fila do osso em açougues.
Os brasileiros estão em destaque dentro desse clube exclusivo. Com 1.897 nomes, o país é o quinto com a maior quantidade de pessoas citadas na base do Pandora Papers, que conta com pelo menos 27,1 mil offshores. Constam, nesse grupo, os donos das maiores empresas do Brasil, como os irmãos Andrea, Eduardo e Fernando Parrillo, donos do plano de saúde Prevent Senior; o dono do grupo Guararapes (Riachuelo) e quase candidato à Presidência da República em 2018, Flávio Rocha.
Os donos da Grendene, Pedro e Alexandre Grendene; o patriarca da família Menin, Rubens Menin, e seus filhos, donos da MRV, do Banco Inter e da CNN Brasil, entre outras empresas; e o dono da Rede D’Or, Paulo Junqueira Moll. Todos eles afirmaram ter declarado às autoridades brasileiras que são proprietários de offshores. Uma colaboração jornalística organizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), do qual o Metrópoles faz parte, investigou, nos últimos meses, milhares dessas offshores, abertas principalmente nas Ilhas Virgens Britânicas, e cujos documentos foram entregues ao ICIJ por uma fonte anônima há cerca de um ano.
“Enquanto o ministro da economia e o presidente do Banco Central são blindados pela mídia corporativa, brasileiros sofrem com inflação alta, disparada dos combustíveis e escassez de alimentos”, escreve o jornalista Leonardo Attuch.
O resultado dessa investigação deu origem à série de reportagens Pandora Papers, que começou a ser publicada a partir neste domingo (3) por veículos como Washington Post, Le Monde, El País, The Guardian e BBC, entre outros. No Brasil, além do Metrópoles, também participaram da investigação o site Agência Pública, a revista Piauí e o site Poder 360.
Entendendo Offshores
Offshores são empresas em paraísos fiscais e constituem populares instrumentos entre as pessoas mais ricas do mundo. Elas são criadas por motivos que vão desde economizar no pagamento de impostos — um drible fiscal eufemisticamente chamado de eficiência tributária — até a proteção de ativos contra o risco político ou confiscos, como o que ocorreu no Brasil em 1990. Por estarem localizadas em países com pouca transparência e fiscalização, as offshores também são usadas por quem quer ocultar patrimônio ou por corruptos ou integrantes de organizações criminosas que desejam esconder dinheiro sujo.
No Brasil, é permitido ter offshores, desde que declaradas à Receita Federal e, quando seus ativos ultrapassam US$ 1 milhão, ao Banco Central. Uma moeda desvalorizada encarece os preços internos, como os dos combustíveis e alimentos, mas enriquece quem mantém ativos no exterior. E foi exatamente isso o que aconteceu com Guedes e Campos Neto, que ficaram mais ricos, enquanto a imensa maioria dos brasileiros ficou mais pobre.
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