Agosto é o mês que marca o Dia dos Pais. São muitos os tipos de pais, os solteiros, os casados, os jovens, os com idade mais avançada, os presentes, os ausentes, os biológicos, os adotivos e também os pais de crianças de crianças com desenvolvimento atípico, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Na maioria das vezes, as crianças buscam uma figura heróica na família para se espelhar. Em alguns casos, pode ser a mãe; outras escolhem os avós ou familiares mais próximos; e também há aquelas que enxergam o pai como o verdadeiro campeão.
Os pais de crianças atípicas, por exemplo, são fundamentais na criação dessa imagem forte e inabalável. A presença deles em pequenas situações de rotina podem mudar o futuro de seus filhos.
Uma pesquisa realizada pela professora Carol Potter, publicada no Journal of Intellectual and Developmental Disability, investigou a importância do envolvimento do pai no cuidado, na brincadeira e na educação de seus filhos com autismo, descobrindo que muitos homens estavam envolvidos nessas áreas. O estudo ainda revelou que muitos pais tiveram um papel significativo na educação e aprendizado dos filhos, 40% deles ajudando na lição de casa e participando das reuniões escolares.
Ter um filho atípico não é fácil e, para esse dia dos pais, a equipe do portal Amazônia Press entrevistou uma figura paterna que compartilha ativamente os cuidados com os filho, que é atípico, como uma homenagem a todos que, na mão inversa das estatísticas, acompanham de perto o crescimento das crianças.
O jornalista e mestre em Ciências da Comunicação, Helder Mourão é pai do Francisco Luke Mourão, que foi diagnosticado com TEA aos dois anos de idade. Hoje, o pequeno já tem cinco anos e Helder ressalta que ser um pai atípico é entender que a sua vida gira em torno disso.
“Quando ele tinha pouco mais de um ano vieram as primeiras suspeitas, os profissionais foram fortalecendo elas, até que oficialmente, ou seja, o laudo, só veio um ano depois. Você muda sua rotina, aprende coisas e desenvolve habilidades que tem a ver com seu filho e a atipicidade dele”, disse.
De acordo com o jornalista, as maiores dificuldades ou desafios que já enfrentou se atribuem à garantia aos direitos que, mesmo com as leis em vigor, a luta para garanti-los ainda se mostra necessária e, em alguns casos, até judicialmente.
“Os espaços como shoppings, escolas e etc, são sempre desafios para nossas crianças. Os adultos não compreendem e muitas vezes são intolerantes e não estão abertos a conhecer e incluir. Diferente das crianças, que sempre são exemplos. Outra dificuldade é a dedicação de tempo e dedicação financeira. As terapias são custosas, o plano de saúde é caro e leva bastante tempo de acompanhamento, o que nos dificulta fazer outras coisas ou nos faz aprender a fazer nossas coisas nos ambientes da terapia ou os intervalos dela”, pontuou.
Para Helder, o que mais deve ser evitado pelas pessoas é a “romantização”. O jornalista alega que já chegaram a dizer que a atipicidade das crianças são a evolução, que são presentes dados a nós.
“Não são. São dificuldades e limitações que as machucam muito. Ser autista é um desafio muitas vezes bem penoso pra eles e para nós pais. Não é fácil e eu gostaria que tudo fosse mais simples”, comentou
Complementou ainda: “Ademais, é fundamental não dar palpites sem conhecimento profissional. As coisas são variadas e diferentes de pessoa pra pessoa e o autismo é um transtorno não visível. Muita gente fala ‘mas ele nem parece autista, nem tem cara de autista’. Jamais diga isso. Autismo não tem cara, não tem modelo ou padrão. E para além de disso tudo, nós só percebemos suas dificuldades e necessidade de suporte, no dia a dia”.
Nesse Dia dos Pais, Helder não poupa palavras ao falar sobre o futuro que almeja e sonha para o pequeno Luke.
“Eu quero um futuro mais inclusivo e sensível. Quero que ele possa ser compreendido como alguém neuro divergente, ou seja, alguém diverso. Que com isso, possa encontrar um uma realidade onde ele tenha que se adaptar, mas que a realidade também se adapte a ele. Dessa forma, que ele possa chegar onde quiser e fazer o que quiser, de acordo com suas decisões, vontades e sonhos”, finalizou.