Em Manaus, a falta de medicamentos nos hospitais e na distribuição gratuita para a população está se tornando um pesadelo para quem depende do fornecimento. A escassez dos remédios está sendo denunciada pela população que está cansada dos descasos no governo Wilson Lima (União Brasil) e da Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM).
Uma cena que se torna cada vez mais comum é o cidadão sair da sua casa ou mandar mensagem para a Central de Medicamentos do Amazonas (Cema) e descobrir que, na verdade, o seu medicamento acabou ou não tem previsão para estoque.
A equipe de reportagem do portal Amazônia Press conversou com uma dona de casa, beneficiada pela gratuidade e que preferiu não ter a identidade divulgada, que relatou como se sente desamparada na maioria das vezes em que precisa dos seus remédios para Parkinson, uma doença que não tem cura e causa tremores, rigidez muscular e desequilíbrio.
“Sou portadora de Parkinson há mais de 10 anos, desde então eu dependo de remédios que pego na Cema e na Prefeitura. Na Cema eu estou tendo bastantes problemas, porque nem sempre têm, nem sempre têm disponível para nós. Às vezes eu ligo para lá perguntando se tem, para não dar viagem perdida, aí a pessoa fala que tem, mas quando chego lá, vão olhar no histórico e não tem”, afirmou a paciente.
Além da dificuldade para conseguir os medicamentos de forma gratuita, a mulher afirma que também passa por graves complicações para sair de sua casa, atravessar a cidade e pegar os remédios.
“Não consigo me locomover só, dependo de alguém para me acompanhar e tudo isso me prejudica, me atrapalha e é muito chata essa situação: você ser dependente de remédio, saber que você tem direito aquele remédio, que tá na lei, que é um direito seu, mas chega na hora de você pegar e está em falta. Eu acho que o governo deveria olhar com mais carinho nesse lado aí, para que isso não venha acontecer, estar faltando, pelo menos para esse tipo de medicação. Eu moro muito longe, moro na Cidade Nova, quando preciso pegar o remédio, sempre dependo de alguém para ir comigo, porque eu não tenho dinheiro para estar pagando corrida por aplicativo para ir e voltar, o que me prejudica bastante”, declarou.
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Um problema persistente
No final de setembro deste ano, o movimento Pessoas com Deficiência no Amazonas foi até a sede da Cema para chamar a atenção de Wilson Lima, levando cartazes e faixas, fizeram uma manifestação para cobrar fraldas, insumos e medicamentos do governo Wilson Lima.
“A bronca não era com ele? Não era ele que falava: ‘A bronca é comigo’? Tem dinheiro, não faz porque não quer. Para festa tem, para isso tem, mas para comprar a quantidade de fraldas, suplementação, alimentação enteral… As pessoas precisam de alimentação para sobreviver, tem gente que não tem condições de pagar, não tem de 300 a 400 reais para comprar alimentação”, questionou uma das manifestantes.
Isso aconteceu antes do primeiro turno das eleições para a prefeitura de Manaus, onde Roberto Cidade (União Brasil), que era abertamente o candidato do governador, tentava concorrer à vaga. Durante a manifestação, uma das apoiadoras questiona se a verba que deveria estar sendo usada para comprar tudo o que faltava na saúde não estava sendo direcionada para a campanha do aliado de Lima.
Chega de descaso
O deputado estadual Wilker Barreto (Mobiliza) publicou um vídeo ainda nessa terça-feira (19), afirmando que diariamente recebe denúncias relacionadas à falta de medicamentos, e pediu uma inspeção na Cema para identificar os problemas na distribuição.
“Eu quero propor uma inspeção da Comissão de Saúde na Central de Medicamentos, porque o desabastecimento está grande. Eu tenho denúncias de pagamentos não conferindo com entrega. Ou seja, no linguajar popular, estão fazendo só papel e quando falta um medicamento no hospital, médico não faz milagre, ele precisa ter o mínimo de suporte de medicamentos, de OPME, de material para poder ele salvar vidas e eu estou muito preocupado porque a Central de Medicamentos está dia sim, dia sim, na mídia por desabastecimento”, disparou o parlamentar.
A fala do deputado ecoou nas redes sociais como um pedido de socorro e mais atenção para os problemas na saúde que se tornam cada vez mais constantes na atual administração.
“Os escândalos da saúde não param”, “No Cecon faltando quimioterapia, população sofrendo, morrendo e ninguém faz nada”, “Infelizmente quem paga isso é o povo”, e “Já estava mais do que na hora de uma intervenção urgente com auditorias sérias em relação a esse pseudo abastecimento da Cema” foram alguns dos comentários.
Nossa equipe de reportagem tentou contato com o Governo do Amazonas e a Secretaria de Saúde (SES-AM) para trazer respostas para a população sobre o que está causando a falta de medicamentos e como este problema deve ser resolvido, mas até a publicação desta matéria, não obtivemos respostas. Destacamos que deixamos o espaço aberto para que a administração possa esclarecer o ocorrido.