Por Arthur Virgílio Neto
O Plano Real completou 28 anos e para quem tem menos de 30 anos é quase impossível dimensionar a realidade vivida pelo país até então. Um histórico que acumulava hiperinflação, com H maiúsculo, chegando no início dos anos 90 a acumular 6.800% em um ano; um endividamento externo desproporcional a sua economia e PIB; um desequilíbrio fiscal que impedia a retomada do crescimento econômico; profundas desigualdades sociais; isso sem contar a crise política, pois estávamos ainda em um processo de transição da ditadura para democracia e um primeiro presidente civil eleito pelo voto direto teve seu mandato interrompido pelo processo de impeachment.
Para a sorte dos brasileiros, Itamar Franco assumiu o mandato e, após 12 planos econômicos consecutivos, desde 1979, sem efeito na vida dos brasileiros e na economia do país, chamou Fernando Henrique Cardoso para conduzir o Ministério da Economia. E ele chamou uma equipe de prestigiosos, talentosos e conhecidos economistas – Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha e Winston Fritsch, entre outros – que, sob a sua batuta, elaboraram o Plano Real, implementando um conjunto de reformas que se tornaram históricas para o país por diagnosticar corretamente os problemas e trazer soluções factíveis e perduráveis.
De cara, o Plano Real deu condições para o ajuste fiscal, a desindexação e a âncora nominal que, na prática, correspondem ao lançamento do Real como moeda oficial do país. Esse conjunto de medidas possibilitou o que estava sendo perseguido desde o início: o controle da inflação, incorporando também o câmbio flutuante a esse tripé macroeconômico vitorioso. Além disso, provocou efeitos culturais, políticos e sociais, com a influência, por exemplo, na elaboração da Constituição de 1988, proporcionando o que hoje se conhece como desvinculação de receitas da União. Sem contar a responsabilidade fiscal, hoje instrumento legal da sociedade para fiscalizar os gastos de seus gestores, e os efeitos na distribuição de renda para a população mais pobre.
O Plano Real é, sem dúvida, o evento econômico mais relevante dos últimos 100 anos no Brasil. Viramos as costas para um passado de fracassos e tornamos o Brasil contemporâneo ao seu próprio tempo. Tenho muito orgulho de ter sido duas vezes líder no Congresso Nacional e também ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Se o tempo voltasse, eu me dedicaria de novo à defesa apaixonada de um governo que só fez bem ao Brasil.
Sobre o autor
É diretor do Núcleo de Educação Política e Renovação do Centro Preparatório Jurídico e atual presidente do PSDB no Amazonas. Diplomata, foi por 20 anos deputado federal e senador, líder por duas vezes do governo Fernando Henrique, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, líder das oposições no Senado por oito anos seguidos e três vezes prefeito da capital da Amazônia.