Ontem pudemos observar mais um eclipse parcial da lua, o que me fez
entrar numa espécie de túnel do tempo e me transportar para os idos de
1950 e 60, para a minha Itaboraí querida, a minha Pedra Bonita
escondida na água. Nesta época não tínhamos muita tecnologia e as
informações eram raríssimas e vivíamos fundamentados em crenças,
crendices, raízes culturais e tradições. É claro que, mesmo sem a
menor consciência ecológica, éramos muito mais ligados à natureza.
Mamãe então, tinha um respeito e obediência quase que neurótica.
Certas plantas só eram mudadas em algumas estações do ano e
dependendo ainda da fase da lua. Um bom momento para mudar, enxertar ou
semear, era nos meses da primavera ou do outono, nas luas crescentes e
cheias. No verão ou inverno, nem pensar. Para a poda, se fossem
árvores frutíferas ou flores, na lua crescente. Para roçar ou
capinar, as luas preferidas eram as minguantes e novas, que garantiriam
um crescimento bem lento. Para se cortar o cabelo, na lua minguante, que
é para não voltar a crescer rápido demais. Para extração de algum
dente, a lua preferida era a minguante, para evitar hemorragias. Para se
deitar uma galinha (deitar era o ato de se colocar uma galinha para
chocar), tinha que calcular a lua onde os ovos iam eclodir, para a
saída dos pintinhos. Era terminantemente impossível nascer na
minguante e ou na lua nova. Nestas duas luas, além de só vingarem
poucos pintinhos, alguns ainda nasciam defeituosos. Além das fases da
lua, o vento também era muito bem observado e traziam revelações
importantes. O vento vindo das serras de Maricá, além de muito
mosquito, trazia um cheiro insuportável do antigo matadouro municipal.
Porém, nos tempos de inverno, era sinal de uma friagem muito grande.
Já o vento vindo da serra de Teresópolis era sinal de trovoada e
tempestade. Tinha também a chamada viração, que eram ventos vindo de
várias direções e traziam a expectativa de uma tempestade severa.
Quando o céu ficava muito escuro, quando algumas nuvens brincavam de
virar cambalhotas, era hora de se cobrir os espelhos do guarda-roupas,
da penteadeira, para que eles não atraíssem os raios. No entanto, o
mais temido destes fenômenos e sinais eram os eclipses. O eclipse solar
trazia consigo um repertório enorme de tragédias, começando pelas
secas, pelas inundações, pelas ressacas e pelas marés gigantes. O
eclipse solar sempre era responsável direto pela revolta da natureza.
Já o eclipse lunar, era mais voltado para a vida animal e humana, sendo
também associado a ele, as transformações bestiais, quase sempre
fruto da imaginação. Acreditava-se que um eclipse lunar trazia uma
nova praga, uma nova doença, inclusive mortes de crianças.
Acreditava-se também, que o eclipse lunar era o combustível que
impulsionava a transformação de algumas pessoas em verdadeiras feras,
como o lobisomem. Bem, hoje a tecnologia avançou e muito. Mas
infelizmente, parece que nós regredimos ao ponto de não dependermos
mais da natureza e estamos escravizados pela tecnologia.