Observado a um metro de distância, o restauro na tela “Mulatas”, de Di Cavalcanti, é imperceptível. A obra de 1962, avaliada em cerca de R$ 20 milhões, já está praticamente restaurada.
São cinco meses de trabalho minucioso para fechar os buracos deixados por sete punhaladas sofridas em toda extensão do painel de 3,4m de comprimento por 1,1m de altura durante os atos de destruição de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.
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O quadro e outras 19 obras de arte do acervo da Presidência estão sendo recuperadas em um laboratório temporário instalado em janeiro deste ano no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.
A CNN teve acesso com exclusividade ao trabalho da equipe de cerca de 30 profissionais, acompanhados de perto pela primeira-dama Rosângela Silva, a Janja.
A socióloga faz um paralelo entre a recuperação das obras de valor histórico e cultural com o trabalho de reparação da própria tentativa de reunificar o Brasil polarizado.
“Cada caquinho, cada pedacinho de uma escultura que as profissionais do restauro fizeram aqui esse ano, acho que, paralelo a isso, o governo foi reconstruindo políticas públicas para a população, reconstruindo a democracia”, disse Janja.
O restauro das 20 obras e a atualização da documentação das pinturas, cerâmicas e estátuas devem ser concluídos até o fim do ano. O plano é organizar uma exposição em Brasília em dezembro com o acervo recuperado. O lançamento de um livro e um documentário também está no cronograma.
“A gente sabe que ainda tem muita coisa para fazer assim como ainda temos muitas peças para restaurar, porque o trabalho de restauro é um trabalho difícil, demorado, minucioso, detalhista, assim como as pecinhas, como a tela que foi ali colada e restaurada, a gente ainda tem esses caquinhos aí pelo caminho do Brasil para colar e unir e trazer de novo esse sentimento”, complementou a primeira-dama.
Gastos pós 8/1
Supremo Tribunal Federal (STF)
A destruição gerou prejuízo de mais de R$ 8,6 milhões, com 951 itens furtados, quebrados ou completamente destruídos. Já a despesa para a reconstrução do Plenário, com troca de carpetes, cortinas e outros objetos, foi de mais de R$ 3,4 milhões, totalizando cerca de R$ 12 milhões em prejuízo para os cofres públicos.
Estátua da Justiça, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), pichada. • Joedson Alves/Agencia Brasil
Até o momento foram restaurados 116 itens do acervo do Tribunal: 22 esculturas (bustos, estatuetas, itens do Plenário e a estátua “A Justiça” da Praça dos Três Poderes); 21 telas e tapeçarias; quatro galerias de retratos (Galeria de Ministros, de Presidentes, de Diretores-Gerais e Secretários-Gerais); 19 objetos (lustres, Brasão da República, vasos); e 50 itens de mobiliário (cadeiras, mesas, móvel expositor da Constituição, etc.).
Senado
Das 21 obras de arte do Senado danificadas por vândalos em 8 de janeiro de 2023, 19 já foram restauradas, 18 delas no próprio laboratório do Museu do Senado. A única delas consertada por empresa especializada, em São Paulo, foi a tapeçaria de Burlex Max; de 3,28m por 4,28 m.
A restauração do acervo do Museu do Senado, danificado durante os atos criminosos do dia 8 de janeiro, custou R$ 483 mil. Os gastos excluem a pintura a óleo do século 19 “Ato da Assinatura da Primeira Constituição”, do artista Gustavo Hastoy. A restauração está em fase de contratação.
Para reforma da estrutura física foram gastos R$ 889 mil, totalizando portanto R$ 1,3 mi em despesas.
Câmara
Na Câmara dos Deputados, o valor total de reparos, reposições e indenizações foi de R$ 2,7 milhões.
O valor para reparo de persianas, em sistemas elétricos e hidráulicos, de detecção de incêndio, além da substituição de vidros e carpetes, ficou orçado em R$ 1,2 milhão.
No Centro de Documentação e Informação, 68 bens do acervo cultural da Câmara, como pinturas, esculturas, presentes, painéis, foram danificados, com o valor do restauro ficando em R$ 1,4 milhão. A diferença foi gasta com pequenas despesas como itens de segurança.
Planalto
Foram gastos até o momento R$ 297.730,46. Separados por: reparos na parte elétrica – R$ 8.781,20; vidraçaria – R$ 204.449,26; divisórias especiais (portas e divisórias) – R$ 15.000,00; pintura – R$ 13.000,00; bancadas e tampos de mármore – R$ 7.000,00; peças sanitárias – R$ 3.000,00; gradil – R$ 7.500,00; elevador danificado – R$ 39.000,00.
Dos itens histórico-artísticos avariados, os mobiliários danificados tiveram serviço de restauro solicitado para marcenaria/vidraçaria/serralheria/tapeçaria, conforme o caso, sendo os custos de difícil mensuração, visto que os reparos foram executados também via contrato de manutenção predial corretiva e preventiva citado acima.
Já a restauração das demais peças histórica-artísticas que exigem trabalho mais especializado está sendo realizada por meio de Acordo de Cooperação Técnica, celebrado com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN). Os trabalhos são realizados pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no laboratório montado no Palácio da Alvorada.
Este conteúdo foi originalmente publicado em O delicado trabalho de restauração das obras de arte vandalizadas no 8/1 no site CNN Brasil.