O ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, resolveu abrir o jogo sobre o período que passou no comando da empresa, entre janeiro de 2019 e abril de 2021, quando foi demitido do cargo após inúmeras críticas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo , ao ser questionado sobre como via a gestão da economia pelo atual governo, Castello Branco disse que Bolsonaro quer agir como se fosse dono da Petrobras.
“O governo se acha o dono da Petrobras, o presidente da República diz que ele é o dono da empresa e quer proceder como tal, desobedecendo regras e regulações. Esta é uma confusão que políticos fazem, que o dono da Petrobras é o governo. Não, não é o governo. É o Estado brasileiro, a sociedade, somos todos nós”, disse ele.
Durante a entrevista, Roberto Castello Branco também se posicionou sobre a escalada nos preços dos combustíveis, que vem sendo uma tema de grande debate entre o governo federal, os estados e municípios e o Congresso. “Quando a Petrobras vende o combustível, ela tem de olhar para o custo de oportunidade, que é dado pelo preço no mercado internacional. Para complementar a oferta doméstica, nós temos de importar, e para fazer isso temos de pagar o preço do mercado internacional”, argumentou em defesa da Política de Paridade Internacional, adotada pela empresa desde 2016.
Em sua declaração, o ex-presidente da estatal ainda disse ser contrário à decisão da Petrobras de destinar R$ 300 milhões para a criação de um programa social de apoio a famílias de baixa renda para garantir que elas tenham acesso a insumos essenciais, sobretudo, o gás de cozinha.
“A solução para isso não é o subsídio de preços pela Petrobrás. Este papel cabe ao governo. Ele é que tem de estruturar um programa, que deve ser aprovado pelo Congresso, para colocar uma dotação no orçamento para subsidiar o gás, como se faz nas nações democráticas, em vez de pressionar a Petrobrás, que é uma empresa em que os acionistas privados controlam a maior parte do capital, para fazer algum tipo de política social. A Petrobras não pode contribuir dando subsídio, que, aliás, não resolve coisa nenhuma”, afirmou Castello Branco.
Leia Também
Desgaste com o governo e saída do comando da Petrobras
Roberto Castello Branco foi destituído da presidência da Petrobras em abril deste ano, após o presidente Jair Bolsonaro fazer duras críticas à gestão da estatal e às sucessivas altas no preço dos combustíveis. O general Joaquim Luna e Silva foi escolhido para assumir o cargo.
“As pressões se acumularam no primeiro trimestre de 2021, mas também não foram atendidas. Em relação aos políticos, eu tive a oportunidade de ir três vezes ao Congresso, duas à Comissão de Minas e Energia da Câmara e uma vez à Comissão de Infraestrutura do Senado, e expliquei didaticamente, detalhadamente, as políticas da Petrobras. Acho que os parlamentares ficaram satisfeitos com as minhas exposições. Agora, o presidente tem os caminhoneiros autônomos como seus apoiadores. Então, ele defendia os interesses do grupo”, alegou Castello Branco ao Estadão .
“Houve alguns pedidos relacionados a gastos com publicidade e à nomeação de pessoas, que eu rejeitei. Comuniquei não só aos meus diretores, mas ao conselho de administração. No fundo, essas coisas contribuíram para me desgastar junto ao governo, mas não me arrependo um milímetro do que fiz. Acredito que fiz a coisa certa, para proteger a integridade da companhia”, afirmou.
Castello Branco ainda disse ter sido vítima das milícias digitais bolsonaristas durante o período de crise, o que agravou ainda mais o desgaste. “Diziam que eu estava vendendo diesel para o Paraguai pela metade do preço. Era uma mentira clara. A Petrobras não vende diesel para o Paraguai desde 2017. Eu nem estava na companhia. E por que eu venderia diesel pela metade do preço? Qual seria o meu interesse nisso?”, questionou ele.
Por conta desses fatos, Roberto Castello Branco diz acreditar que deixou o cargo na Petrobras no momento certo. “Eu percebo que estava mesmo na hora de sair, porque, com o Brasil com tanta incerteza política, com tanta instabilidade, a presidência da Petrobras seria um lugar em que não me sentiria mais à vontade. Teria perdido o prazer de dirigir a companhia, coisa que tive durante o tempo em que fiquei lá. Se você perde o prazer de fazer uma coisa, não vai conseguir fazer bem”.