A França tem neste domingo (19) um novo dia de protestos contra a polêmica reforma da Previdência aprovada por decreto pelo presidente Emmanuel Macron, um dia antes de uma crucial votação de uma moção de censura contra o governo no Parlamento.
Após semanas de manifestações contra o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, a polícia ordenou, no sábado (18), o fechamento da Place de la Concorde, no centro de Paris, em frente ao Parlamento.
A emblemática praça foi palco de duas noites sucessivas de protestos que terminaram em distúrbios e confrontos entre manifestantes e a polícia.
Na véspera da votação, a sede do político Eric Ciotti – presidente do partido de direita Os Republicanos, que anunciou que não votará a moção de censura – foi atingida por pedras.
Em sua conta no Twitter, Ciotti publicou fotos da sede atacada e afirmou que “não cederá aos novos discípulos do Terror”.
Deputados das forças de oposição apresentaram duas moções de censura, que serão discutidas a partir de segunda-feira (20).
Em princípio difícil, a aprovação de qualquer uma delas anularia o decreto presidencial que recorreu ao respectivo dispositivo constitucional – o artigo 49.3 -, o qual permite driblar a votação parlamentar. Isso obrigaria a primeira-ministra Elisabeth Borne a renunciar.
Os votos dos parlamentares dissidentes de Os Republicanos são fundamentais para o sucesso de qualquer moção de censura no Parlamento.
– ‘Tensão social’ –
Pelo menos 122 pessoas foram detidas em um protesto que reuniu cerca de 4.000 manifestantes, ontem, em Paris. Durante a marcha, latas de lixo foram incendiadas, e houve danos em pontos de ônibus. Algumas barricadas foram erguidas.
Em Lyon, cerca de 15 manifestantes foram presos, depois que a polícia alegou que “grupos de indivíduos violentos” provocaram confrontos.
Em nível nacional, foram 169 detidos.
Em outras partes da França também houve manifestações pacíficas e, no porto de Marselha, centenas de pessoas foram às ruas.
“O que nos resta a não ser continuar protestando?”, disse Romain Morizot, um engenheiro de telecomunicações de 33 anos.
Para Morizot, após o uso polêmico artigo 49.3 por parte do governo, “há potencial para um aumento da tensão social”.
Philippe Martinez, líder do sindicato CGT, afirmou que há um “crescente descontentamento”.
“Há uma grande maioria contra essa lei”, disse o sindicalista à emissora BFMTV.
– Fechamento de refinarias –
Ontem, a CGT anunciou que os trabalhadores vão paralisar a maior refinaria de petróleo da França, localizada na Normandia (noroeste). Até o momento, as greves impediram apenas a saída de combustível das refinarias, mas não conseguiram paralisar completamente as operações.
A mobilização também afetou a coleta de lixo em vários bairros de Paris, onde cerca de 10 mil toneladas de lixo se acumulam nas ruas.
Um nono dia de mobilizações e greves está convocado para quinta-feira.
– “Agregar caos ao caos” –
Além de aumentar a idade legal da aposentadoria, a reforma de Macron busca estender o número de anos necessários para contribuir com o sistema para receber uma pensão completa.
O governo afirma que essas mudanças são necessárias para evitar aumentar o déficit nas próximas décadas, quando a França enfrentará o envelhecimento da população.
Seus críticos afirmam que a reforma representa uma carga injusta sobre trabalhadores de baixa renda, mulheres e pessoas com empregos que supõe um desgaste fíosico. E as pesquisas de opinião pública mostram uma oposição ao aumento da idade de aposentadoria.
Uma sondagem feita com 2.000 pessoas publicada hoje pelo Journal du Dimanche mostrou 28% de apoio a Macron, o menor percentual desde o movimento dos “Coletes Amarelos” em 2019, um protesto que começou contra o aumento do preço dos combustíveis.
“Não acho que haverá maioria para derrubar o governo”, disse o ministro da Economia, Bruno Le Maire, ao jornal Le Parisien.
As atenções estão voltadas para a sigla Os Republicanos e para o comportamento de possíveis legisladores dissidentes que se afastam da posição de seu líder, Ciotti. Este último justificou sua recusa a votar as moções de censura, porque não quer “agregar caos ao caos”.