A garçonete Danielle da Cruz Oliveira, de 19 anos, que acusa Frederick Wassef de racismo e injúria racial, disse se sentir aliviada com a decisão da Justiça de aceitar a denúncia do Ministério Público do Distrito Federal contra o advogado da família Bolsonaro. A denúncia descreve dois episódios envolvendo Wassef em uma pizzaria em Brasília, em que teria chamado a funcionária de “macaca”. O advogado nega as acusações.
Em entrevista ao “Correio Braziliense”, Danielle afirma que chegou a achar que o caso não teria prosseguimento, e também que sentiu medo de denunciar o advogado: “Quando soube (do prosseguimento da denúncia), fiquei feliz por saber que eu não estava sozinha nessa luta e vi que levaram a situação a sério”, desabafou.
Ao jornal, a garçonete descreveu os dois episódios. No primeiro, em outubro de 2020, Danielle afirmou que atendia Wassef e que ele a puxou pelo braço:
— Ele falou que não queria ser atendido por mim, que eu era negra e tinha cara de sonsa — relata.
Danielle disse ainda não ter reconhecido Wassef, e que só soube da relação dele com a política no mês seguinte, quando o advogado retornou ao local. A garçonete relata ter pedido para uma colega de trabalho atendê-lo, e que Wassef teria se aproximado dela, indo até o balcão para reclamar da pizza. Em seguida, perguntou se a funcionária havia comido a refeição. Segundo Danielle, insatisfeito com a resposta negativa, teria respondido: “Você é uma macaca. Você come o que te derem”.
— Dessa vez, eu retruquei, e disse que ele não era melhor do que ninguém por ser branco — afirmou.
A garçonete disse ter sido incentivada pelo gerente a fazer a denúncia. Por medo, Danielle contou ter evitado sair de casa por meses e ter deletado seus perfis nas redes sociais.
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“O comportamento do denunciado reproduz a perversa divisão dos seres humanos em raças, superiores ou inferiores, resultante da crença de que existem raças ou tipos humanos superiores e inferiores”, escreveu o Ministério Público.
A denúncia pede ainda a condenação de Wassef ao pagamento de danos morais no valor de R$ 20 mil à vítima e R$ 30 mil de danos morais coletivos à sociedade, além da condenação nos crimes previstos no Código Penal e na lei dos crimes resultantes de preconceito de raça e cor.
A promotora Mariana Silva Nunes, autora da denúncia, também aponta que não oferecerá a oportunidade de acordo para encerrar o processo, porque não são cabíveis em casos envolvendo racismo.
Na quinta-feira, dia em que se tornou réu pelo caso, Wassef afirmou que os fatos narrados não ocorreram e que houve “fraude processual”.
— A menina (denunciante) narrou uma coisa que nunca aconteceu. Sou vítima de denunciação caluniosa.
O advogado também desqualificou a denúncia apresentada, alegando que a promotora do caso foi trocada durante o curso da investigação e substituída por outro, com a intenção de lhe “perseguir”:
— Crimes e fraudes foram cometidos para me incriminar. Hoje a vítima sou eu.