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Uma droga experimental para Alzheimer desenvolvida pela farmacêutica Eli Lilly retardou em 35% o declínio cognitivo em um teste de estágio final, disse a empresa na quarta-feira (3). O estudo fornece o que os especialistas dizem ser a evidência mais forte até agora de que a remoção de placas amiloides do cérebro beneficia pacientes com a doença.

O medicamento donanemab atendeu a todos os objetivos do teste, disse a Lilly. Ele retardou a progressão do Alzheimer em 35%, em comparação com um placebo, em 1.182 pessoas com estágio inicial cujo cérebro tinha depósitos de duas proteínas-chave da doença: a beta-amiloide e níveis intermediários de tau, uma proteína ligada à progressão do Alzheimer e à morte de células cerebrais.

O estudo também avaliou o medicamento em 552 pacientes com altos níveis de tau e descobriu que, quando ambos os grupos foram combinados, o donanemab retardou a progressão em 29%, com base em uma escala comumente usada de progressão da demência, conhecida como Escala de Avaliação Clínica de Demência.

Usando essa escala, os especialistas disseram que as descobertas da Lilly estavam praticamente no mesmo nível do lecanemab, da Eisai e da Biogen, vendido sob a marca Leqembi, que reduziu o declínio cognitivo em 27% em pacientes com Alzheimer inicial em um estudo publicado no ano passado.

O doutor Ronald Petersen, um pesquisador de Alzheimer na Mayo Clinic, disse que o teste da Lilly é o terceiro a mostrar que a remoção de amiloide do cérebro retarda a progressão da doença, o que poderia esclarecer algumas dúvidas persistentes sobre os benefícios dos medicamentos da classe.

“O impacto primário dos resultados do estudo donanemab dá a esperança a nossos pacientes e nossas famílias de que, de fato, agora podemos intervir no próprio processo da doença subjacente”, disse ele. “Em vez de apenas tratarmos os sintomas, podemos alterar o curso da doença com um medicamento como o donanemab.”

Para o especialista, o benefício do remédio “é modesto, mas acho que é real. Acho que é clinicamente significativo”.

No grupo de tratamento com donanemab, Lilly disse que o inchaço cerebral, um conhecido efeito colateral de medicamentos desse tipo, ocorreu em 24% dos participantes, e 6,1% deles apresentaram sintomas. Hemorragia cerebral ocorreu em 31,4% do grupo donanemab e em 13,6% do grupo placebo.

No estudo Leqembi Fase 3, a droga foi associada ao inchaço cerebral em quase 13% dos participantes.

Lilly disse que a incidência de inchaço cerebral grave no estudo do donanemab foi de 1,6%, incluindo duas mortes atribuídas à doença e uma terceira que ocorreu após um incidente de inchaço cerebral grave.

A Lilly disse que planeja entrar com um pedido de aprovação tradicional nos EUA até o fim de junho e com reguladores de outros países logo depois. Um porta-voz da empresa disse que uma decisão de aprovação nos EUA deve ocorrer até o fim do ano ou o início de 2024.

“Essas descobertas são significativas para o campo, acho que principalmente para nossos pacientes, pois agora temos tratamentos disponíveis que podem ter um impacto no próprio processo da doença subjacente”, disse Petersen.

“Nos últimos 20 anos ou mais, tivemos medicamentos disponíveis que funcionam nos sintomas mas realmente não atingem a biologia subjacente da doença. Portanto, o donanemab é um medicamento que atinge o processo subjacente da doença, chamada terapia modificadora da doença, e isso é muito importante, principalmente para os pacientes e suas famílias, pois podemos impactar o resultado dessa doença.”

Os especialistas em Alzheimer disseram estar ansiosos para ver os resultados completos do estudo, incluindo dados sobre o desempenho da droga em pessoas que carregam um gene de risco de Alzheimer conhecido como APOE4, que têm tendência a aumentar o risco de efeitos colaterais em testes anteriores.

Esses resultados serão apresentados em uma reunião de Alzheimer em Amsterdã neste verão (do Hemisfério Norte).

Os participantes do estudo receberam uma infusão intravenosa mensal de donanemab. Depois de 12 meses, metade deles não apresentava evidências de placas amiloides, disse a empresa.

Além disso, 47% dos pacientes com donanemab no estudo de 18 meses não tiveram progressão da doença em 12 meses, em comparação com 29% do grupo placebo.

O medicamento da Lilly está prestes a se tornar o terceiro de sua classe no mercado, após a aprovação nos EUA de dois medicamentos semelhantes desenvolvidos pelos parceiros Eisai e Biogen – Leqembi e Aduhelm —, que não conseguiram ganhar força com médicos nem seguradoras por terem mostrado poucas evidências de que desaceleraram o declínio cognitivo.

Ambos foram aprovados pelo programa de revisão acelerada do FDA, com base em sua capacidade de remover placas amiloides.

A Lilly ainda está trabalhando para finalizar o preço do donanemab e planeja que ele esteja na mesma faixa de outras terapias semelhantes, disse o CEO David Ricks à CNBC.

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