Foto: acervo pessoal

Não é a primeira e, provavelmente, a última vez que a rede hospitalar Hapvida é alvo de denúncias envolvendo negligência ou algo do gênero. Dessa vez, Naiara Guerreiro, mãe do anjo Arthur Guerreiro, entrou em contato com a redação do portal de notícias Amazônia Press para compartilhar a negligência médica que enfrentou, ocasionando a morte do seu bebê. A criança estava no Hospital Rio Amazonas, rua Professo Márciano Armond, no bairro Cachoeirinha, na Zona Sul de Manaus.

A mãe revela que tudo estava normal na gravidez e que todos os exames do pequeno estavam normais, até que foi para uma ultrassom de 33 semanas de gestação e foi constatado que Arthur estava abaixo do peso. No mesmo momento, pediram que ela fosse encaminhada para a maternidade para repetir o exame. Chegando lá, não repetiram, ela foi levada para a sala de cirurgia com urgência e foi feita uma cesária.

Após o nascimento, a criança foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o ganho de peso. Naiara Guerreio declarou ainda, durante a denúncia, que Arthur foi operado com urgência durante a madrugada sem que ela fosse informada. Quando chegou na UTI no dia seguinte, já encontrou o seu filho sedado e entubado.

“Meu filho nasceu com 1.420kg e fui informada que ele só foi para UTI para ganhar peso. No dia seguinte fui vê-lo e ele estava muito bem, perfeito. Artur não precisou nem de oxigênio para respirar, passou 3 dias e meu filho não fazia o primeiro cocô. Fizeram exames e ele foi operado com urgência na madrugada, sem a minha presença e sem eu ser informada. Dia seguinte cheguei, entrei na UTI e não me informaram nada. Cheguei no leito meu filho estava sedado e entubado, entrei em desespero pois de nada fui informada. Sai da sala desesperada e à procura de informações. Só depois de tudo isso, eu e meu esposo fomos chamados para sermos informados”, declarou.

Foto: acervo pessoal

Acesso venoso no lugar errado e morte da criança

Na sequência, ela revelou para a reportagem que Arthur se recuperou bem, ganhou peso e chegou aos 2 quilos. Quando estava próximo da alta, ele mamou e passou mal. Foi constatado que Arthur estava com infecção e anemia, e os médicos desconfiaram que poderia ter sido do acesso que havia sido feito em outro dia, mas Naiara foi informada que estava tudo perfeito.

O que a equipe médica não informou inicialmente é que o acesso estava foram da veia e tudo o que passava por ele criou edema no Arthur. De acordo com Naiara, foi uma sequência de negligências por parte da equipe, visto que a médica informava que o problema envolvia somente a parte “estética”. A criança chegou a desenvolver “quilotórax”, que ocorre quando há ruptura, laceração ou obstrução do ducto torácico, com liberação de quilo no espaço pleural.

Após tanto descaso, Arthur não resistiu e veio a óbito. A causa da morte foi insuficiência renal e infecção.

“Ele ficou com o pescoço, orelha, olhos, cabeça, tudo completamente cheio de líquido. No dia seguinte foi retirado e foram feitas mais tentativas de colocar outro acesso, mais sofrimento. Ouvi vários dias a médica que ia melhorar, que só era estética, mas encheram o meu filho de diuréticos e que fizeram mal para o rim dele. Com isso, ele desenvolveu um problema chamado ‘quilotórax’ e quase perdeu a vida naquele momento. Foi entubado e, antes de terminar um antibiótico, já aparecia outra infecção, fungos, etc. Não conseguia compreender tudo isso, pois essas infecções eram o tempo todo. Um recém-nascido mal chegava a dois dias depois dessa infecção. Ele passou por muitas outras coisas, mas eu sei, meu coração diz que tudo isso foi negligência”, declarou.

Destrato e grosseria

Mesmo vendo Naiara Guerreiro enfrentando toda essa situação, a equipe médica da Hapvida ainda fez questão de tratá-la com grosserias. Ela relembrou uma situação em que seu filho estava entubado e colocaram somente uma fisioterapeuta para acompanhá-lo. Por volta das 18h, Arthur começou a passar mal e Naiara foi chamar a profissional, mas ela não foi. Chamou a enfermeira, que chamou uma médica, que se recusou a atendê-lo alegando que, naquele setor, outro médico que atendia. Naiara ressalta ainda que foi chamada de “egoísta” pela fisioterapeuta, que declarou que “não existia” apenas o Arthur para ela cuidar.

“Depois que tudo aconteceu e o Arthur voltou a respirar, foi aí que ele apareceu perguntando o que havia acontecido. Não podia acontecer isso dentro de uma UTI de o médico estar ausente. Eu estava lá, sozinha e desesperada. Aí depois a fisioterapeuta apareceu falando alto em cima de mim, me chamando de egoísta e falando que lá não existia só meu filho para cuidar. Imagina uma mãe vendo seu filho quase morrer e ela ainda vem fazer isso”, disse.

Entramos em contato com a assessoria da rede hospitalar em busca de esclarecimentos dessa, e de outras situações, mas, até o momento não obtivemos respostas.

Outros casos

Hapvida ou Hapmorte?

Não é de hoje que mães e familiares entram em contato com a redação do portal Amazônia Press para denunciar a “negligência médica” proporcionada pelo plano de saúde oferecido pela rede hospitalar Hapvida. Em menos de um mês, o portal já trouxe cerca de quatro casos de crianças que correm risco de vida, ou vieram a óbito, nas “mãos” da Hapvida.

Como é o caso da vendedora Tayná Sarmento, de 27 anos. Mãe do Jonathan Ravi, de três anos de idade, Tayná revela que a criança se encontra internada atualmente no Hospital Rio Amazonas, no bairro Cachoeirinha, em decorrência de uma sequência de descasos do sistema de saúde. A criança – que tem Síndrome de Down – tem uma neuropatia causada por uma cirurgia feita no Hospital Francisca Mendes, que é do Sistema Único de Saúde (SUS). Desde então, o pequeno usa uma sonda para se alimentar, e, no dia 10 de março, a criança sofreu uma broncoaspiração após ter arrancado a sonda, que continha leite.

A broncoaspiração se trata da entrada de substâncias estranhas, tais como alimentos e saliva, na via respiratória. Essa condição pode ocorrer pelo enfraquecimento dos músculos usados na deglutição, o que pode causar a dificuldade no ato de engolir, também conhecida como disfagia.

Além disso, ela também revelou para a reportagem que, no dia 7 de março, Jonathan Ravi foi mandado para casa duas vezes com pneumonia química. No dia 15 de maio, a criança foi direto para a “sala vermelha” com um quadro gravíssimo de sepse pulmonar, foi entubado no mesmo dia e, atualmente, se encontra traqueostomizado.

“Quando cheguei com ele na Hapvida após a broncoaspiração, relatei para o médico o que tinha acontecido, aí ele bateu o raio-x, apareceu uma mancha no pulmão, mas ele o mandou para casa com alguns medicamentos. No dia 15, cheguei lá e a enfermeira não atendeu de imediato pois estava no celular. Quando vimos, já tínhamos que correr para a sala vermelha. Meu filho subiu para a UTI só 24 horas depois. Ele estava com a saturação muito baixa, só que estava sem vaga na UTI e veio liberar só perto das 18h da tarde”, revelou.

Além da entrevista exclusiva com o portal Amazônia Press, a vendedora Tayná Sarmento também publicou a denúncia e demonstrou o seu descontentamento por meio das suas redes sociais.

“Foi aí que conheci esse sistema corrupto que aceita planos e mais planos, mas não consegue atender a demanda. Quase todos os dias estão sem leitos vagos na UTI e com a superlotação de sempre. As pessoas estão morrendo de graça”, publicou.

Além disso, ela também relatou que, depois de um tempo, ficou sabendo que a medicação receitada anteriormente nunca ia fazer efeito.

“Depois eu venho saber que a medicação receitada nunca ia fazer efeito e, para todo mundo que eu conto sobre essa situação, principalmente as pessoas que trabalham na área da saúde, se espantam por eles terem mandado ele para casa depois de ter sofrido uma broncoaspiração, que ocorreu quando ele puxou a sonda e o leite veio pelo pulmão. Então, se eles tivessem internado, passado um antibiótico na veia, ou algo do gênero, pois não existe esse tratamento em casa. Se eles tivessem feito um tratamento pelo menos de 48 ou 72 horas com antibiótico teria feito algum efeito e ele não teria piorado e nem teria sido entubado. Aliás, ainda acho que a doutora tentou a entubação muito cedo, por exemplo, no SUS eu nunca vi uma intubação assim tão rápida”, comentou.

Ela disse ainda “Depois que ele foi entubado, a própria médica falou que foi aplicado um antibiótico errado e que ele nunca ia fazer efeito. Ou seja, era pra ter sido internado de imediato”.

Atualmente, com a traqueostomia, a criança vive internada na UTI. Outra denúncia feita por Tayná Sarmento é referente à algumas lesões e queimaduras na pele da criança que, segundo ela, o hospital Rio Amazonas alega que os ferimentos vieram da residência em que a criança vive e, em outro momento, afirmaram que foram ocasionadas pelo calor.

“Tenho muitas fotos aqui que mostram que ele foi muito lesionado. Tem queimaduras de quando ele saiu da UTI. Ainda tem algumas marcas porque eu só bati foto depois que ele saiu e foi depois de eu já ter cuidado dos ferimentos na costa dele, que estava muito lesionada. Eles não viravam ele, deixavam ele o tempo todo no calor dentro da UTI depois do banho, Cansei de chegar lá 13h da tarde e o ar-condicionado ainda estar desligado na UTI”, disse.

“Tenho muitas fotos aqui que mostram que ele foi muito lesionado. Tem queimaduras de quando ele saiu da UTI. Ainda tem algumas marcas porque eu só bati foto depois que ele saiu e foi depois de eu já ter cuidado dos ferimentos na costa dele, que estava muito lesionada. Eles não viravam ele, deixavam ele o tempo todo no calor dentro da UTI depois do banho, Cansei de chegar lá 13h da tarde e o ar-condicionado ainda estar desligado na UTI”, disse.

Complementou ainda: “Lembro também de quando eles não deixavam ficar lá, aí foi quando eu reclamei por causa das queimaduras. Eu bati foto de tudo. Tem um sensor que fica no pé dele e que mede a oximetria e os batimentos dele. Isso precisa ser de duas em duas horas. Vi que, quando eles estavam colocando, deixaram passar a noite toda e ele ficou cheio de bolhas de água. Foi aí que começou toda a confusão, que foi quando eu comecei a brigar e quando eu comecei a ver como que funcionava ali dentro. É um cobrindo o outro”.

Ela destaca que na última terça-feira (27), a criança estava internada e estável na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), até que a médica responsável apresentou para ela um sexame, de acordo com Tayná, “que não era verdade”.

“Antes de ontem o meu filho estava na UTI e se encontrava internado, estável, ótimo e acordado. Ela simplesmente matou o meu filho para mim e tirou todas minhas esperanças. Me mostrou um exame que não era verdade e hoje vou puxar todos os outros exames. Ela escreveu o resultado de caneta na hora e nem tinha chegado ainda o exame. Ele foi reanimado sem necessidade. O exame estava ‘sem pé nem cabeça’, pois estava alteradíssimo e hoje ela abafou o caso”, pontuou.

Em uma das situações, Tayná revelou que o seu filho foi socorrido às pressas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h Campos Sales, no bairro Tarumã, e que a criança nunca foi retirada de lá para o hospital da Hapvida, até que teve que fazer isso por conta própria. A mãe revela ainda que, ao cobrar o serviço que o plano de saúde cobre, foi bloqueada no WhatsApp pelo setor e pela médica responsável.

“Eles não me deram suporte algum. Foram 20 horas de espera e até hoje a ambulância nunca foi. Tive que fazer tudo por meios próprios, pois não tinha vaga no SUS com a superlotação que estava no Amazonas inteiro. Cheguei a conversar com uma amiga e ele pode voltar para o Hospital Francisca Mendes. O SUS é muito concorrido e muito lotado, diariamente as crianças sofrem por falta de vaga. Só que, mesmo assim, eu preferiria. O SUS é muito mais competente, já cheguei a passar dois anos no SUS e sou prova viva que é a melhor opção o plano do que Hapvida, que nem consultas e nem cirurgias conseguimos marcar”, concluiu.

“Excelência” com mães e recém-nascidos

Em entrevista ao portal Amazônia Press, uma mulher que preferiu não ser identificada alega que viveu meses de sofrimento durante a sua gravidez. A negligência e o descaso foi causado por diferentes profissionais da Hapvida que, segundo ela, a humilharam, chamaram de irresponsável e a fizeram se sentir péssima com o atendimento dos profissionais que juraram exercer a função de curar e cuidar com honestidade. Após todo o ocorrido, a jovem alega que desenvolveu trauma de médico por não conseguir confiar, não pode mais ter filhos e, com apenas 22 anos, ficou com sequelas de ter pressão alta.

“O meu primeiro pré-natal foi com uma enfermeira, eu tava sozinha, ela me deu o plano de parto já planejando sozinha os detalhes do parto ‘normal e humanizado’ e eu fiquei um pouco assustada. Estava com uns 4 meses e por conta de um problema que eu tenho chamado vaginismo, já tinha planejado pagar meu parto (já que o plano não cobria) cesariana por medo de complicações. Ela ficou muito indignada comigo, começou a falar que eu era leiga e ignorante, que eu não amava meu filho, que eu nem sequer tinha escolha mesmo pagando, ela me chamou de irresponsável e falou que eu tava procurando matar meu bebê, fez um show, falou que até eu completar nove meses ela ia sim me encaminhar pro parto normal e eu não tinha escolha. Saí de lá chorando, humilhada, me sentindo péssima”, destacou a jovem.

Com a situação, a jovem escolheu trocar de enfermeira e se deparou com outra profissional da medicina que a destratou, gritou com ela, falou inúmeras grosserias, não a deixava falar e ainda a culpava por seu estado de saúde no momento, visto que estava com anemia e com diabete.

“O tempo passou eu troquei de enfermeira. Fui com uma médica e a mesma mal olhava para a minha cara. Durante meu pré-natal todo minha barriga não foi medida nenhuma vez. Essa doutora certa vez eu já com muitas dores, muito inchada e sozinha me pegou pra Cristo. Ela viu que no meu exame tinha dado anemia, diabetes e achou que eu fosse menor de idade, eu acho. Quando ela falou que eu tava diabética eu fiz várias perguntas e ela se irritou, gritando comigo, falando que se eu continuasse desse jeito meu filho não ia nascer, porque eu nova e diabética só podia ser culpa minha, que não me cuidava e tava tentando matar a minha criança, ela falou tantas grosserias, não deixava eu falar, me interrompia, falou que eu tinha muita frescura, ela nem sequer ler meu cartão de pré natal, ela ficava me chamando pelo nome da minha mãe (nota-se a atenção que ela teve né? nem meu nome acertava), eu fui interrompê-la pra falar que meu nome não era oque ela tava me chamando e ela falou ‘tanto faz’ eu tenho várias receitas de medicação e encaminhamento que ela passou no nome da minha mãe , que nem presente tava , achando que era meu nome , e nem deixou eu corrigir porque pra ela ‘tanto faz’ qual meu nome”, declarou.

Destacou ainda: “Eu tive pré-eclampsia, CRI, placenta descolada, meu bebê nasceu Pig. Eu fiz pré natal dos 4 aos 9 meses lá e eles não identificaram nenhum desses problemas, diziam que eu tava bem e saudável e que minhas idas na emergência todo dia gritando de dor, era só dor de mãe de primeira viagem. Uma médica da emergência chegou a afirmar que era ‘ansiedade’ a dor e o sangramento que eu tinha. Estava tomando uma medicação muito forte (tramal) e eu chegava chorando, pedindo pelo amor de Deus pra falarem o que eu tinha e ninguém me dizia nada. Os exames davam ‘normais’, mas a dor absurda que eu sentia era a placenta descolada, fui perdendo líquido e eles diziam que era xixi, cheguei a tomar 3 antibióticos de uma vez só passado por um médico (o que quase me mata)”.

A jovem teve que dar a luz ao seu filho na maternidade pública porque a própria Hapvida não quis fazer o parto, mesmo pagando pelo plano de ‘urgência e emergência obstétrica’, que dava direito a apartamento e qualquer apoio caso acontecesse algo com a mãe ou com o bebê antes do período de nove meses. A vítima da negligência ainda ressalta que o plano cobria o parto caso o bebê viesse antes do previsto, que é considerada uma emergência obstetrícia.

“Eu sentia dores de cabeça e na nuca insuportáveis, mal conseguia andar, desmaiava pela rua… Não me internaram porque o ‘plano não cobria’ mesmo eu pagando apartamento todo mês. Mandaram eu procurar uma maternidade pública porque eu precisava de uma cesárea de emergência e aí sim me passaram remédio pra pressão, depois de meses implorando por um diagnóstico. Fui pro público e descobri que meu bebê tinha restrição de crescimento, com 9 meses ele pesava 1.800kg e na Hapvida falaram que era normal o peso dele. O que eles afirmavam ser xixi, era líquido que eu tava perdendo e no público apontou uma infecção urinária absurda grave que não me falaram lá. Meu filho por muito pouco não foi pra UTI, nasceu com a glicose muito baixa e não conseguia nem chorar direito. Tive eclampsia pós-parto , me disseram que se eu tivesse entrando com medicação pra pressão ainda grávida, eu podia não ter ficado com a eclampsia de fato no pós-parto”, pontuou.

Complementou: “Eu não conseguia ficar em pé, eu não conseguia amamentar, eu não dei o primeiro banho do meu filho, não vesti a primeira roupa, eu nem conseguia levantar da cama, todos diziam que se eu tivesse tido um bom pré-natal não estaria daquele jeito, fiquei com sequela de ter pressão alta aos 22 anos. Não posso ter estresse que sobe até hoje, criei trauma de médico, não consigo confiar e não posso mais ter filhos, pois os riscos de morte pra mim e pra criança ou para os dois são extremos”.