Em meio a uma negociação arrastada com o centrão, o presidente Lula (PT) tem recordado decisões consideradas dolorosas que já tomou para justificar o eventual sacrifício de aliados mais próximos na acomodação de partidos de centro e de direita na Esplanada dos Ministérios.
Essas conversas são interpretadas por interlocutores do presidente como um sinal da disposição de exonerar aliados em prol da governabilidade. Hoje Lula conta com uma base frágil e insuficiente no Congresso.
Está prevista para esta terça-feira (25) uma reunião entre o presidente e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para desenhar as mudanças na Esplanada e construir um calendário para oficialização da reforma ministerial.
Apesar de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estar fora de Brasília, membros do governo deverão se reunir nesta semana com lideranças partidárias para avançar nas discussões. Lira está em Alagoas e deverá retornar apenas no fim do mês.
Ao traçar diferentes cenários, Lula tem confidenciado a pessoas próximas que não seria a primeira vez em que precisa demitir amigos e aliados de primeira hora com o objetivo de conquistar uma base parlamentar estável.
Um ano após assumir o primeiro mandato, por exemplo, o petista demitiu seis ministros. Foi a primeira reforma ministerial, em janeiro de 2004. Lula classificou aquele momento como “doloroso”. Entre os demitidos estava José Graziano (Combate à Fome), um dos mais próximos ao petista.
A reforma foi necessária para abrir espaço para o PMDB (hoje, MDB), que selou uma aliança duradoura com o PT a partir de então.
Lula, que agora está no terceiro mandato, também tem relembrado da difícil decisão de demitir Olívio Dutra (PT-RS) do Ministério das Cidades em junho de 2005 para a entrada do PP.
Um dos fundadores do PT, Dutra conhece Lula desde 1979. Ele foi dispensado do cargo por pressão do PP, partido do então presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PE).
Agora, em julho de 2023, o filme parece se repetir.
O presidente é pressionado pelo centrão, liderado por Lira, a ceder ministérios de peso, como Desenvolvimento Social. A pasta é ocupada por Wellington Dias (PT), que foi um dos coordenadores da campanha presidencial do ano passado.
À essa pressão soma-se uma insatisfação de especialistas da área social, de dentro e de fora do PT, com o desempenho dos ministros. Uma das queixas está na montagem da equipe de Dias sem levar em conta as sugestões de representantes do setor.
Dias tem sido alvo de críticas de integrantes do Palácio do Planalto e também do próprio Lula. A pasta dele tem orçamento maior que o da Saúde e Educação e, para o presidente, o ministro não tem apresentado o volume de pautas positivas que ele gostaria.
Apesar da insatisfação com Dias, Lula quer tentar manter o ministério, que cuida do Bolsa Família, nas mãos do PT, e não do centrão.
Enquanto Lula não soluciona a equação das trocas no primeiro escalão, Dias e outros ministros são fritados há dias em Brasília. Outro alvo é o ministro Sílvio Almeida (Direitos Humanos). No Palácio do Planalto, a avaliação é de que não estaria correspondendo às expectativas do presidente.
Da cota pessoal do presidente, Silvio Almeida tem sido considerado de perfil bastante acadêmico para o cargo e tem sido criticado por ter uma agenda mais voltada ao exterior do que uma pauta propriamente voltada para a área de direitos humanos.
Presidente do PC do B, Luciana Santos pode vir a ser realocada para abrir espaço na Ciência e Tecnologia. Ela é citada para a vaga de Almeida ou de Cida Gonçalves (Mulheres) -que conta com a simpatia da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Embora tenha aberto mão de concorrer ao Governo de São Paulo em favor de Fernando Haddad, ganhando com isso crédito junto a Lula, o ministro Márcio França é um dos citados na lista de demissíveis ou remanejáveis. Isso porque seu partido (o PSB) já conta com três ministérios.
Até o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) acaba mencionado como um aliado que possa ser destituído nessa reengenharia -ele acumula a função de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Na avaliação de aliados, o presidente tem a convicção de que, mais importante que preservar amigos, é conquistar a governabilidade e apresentar resultados. Por isso, ministros que, apesar de próximos a ele, não devem ser poupados se tiverem desempenho aquém do esperado.
Alckmin é bem avaliado por Lula. O vice-presidente participou do programa de incentivo à compra de automóveis, que, na visão do petista, foi bem-sucedido, e desempenha papel relevante na interlocução com o empresariado.
Apesar de Lula já ter garantido em conversas a permanência de Ana Moser (Esportes), colaboradores do presidente não descartam a hipótese de ela ser desligada caso necessário.
A negociação sobre os ministérios que o PP e o Republicanos vão ocupar na Esplanada foi aberta no início do mês. Cerca de três semanas depois, as tratativas pouco avançaram após o retorno de Lula, que estava em viagem na Europa.
Os dois lados têm esticado a corda. Nos movimentos mais recentes, o governo tem sinalizado com ministérios menos expressivos em relação a capilaridade e orçamento que o Desenvolvimento Social. Mas o PP, de Lira, tem dito que, se não conseguir a pasta de Dias, quer uma do mesmo patamar ou ainda maior, como Saúde, Integração Nacional e Minas e Energia.
Lula blindou a pasta de Nísia Trindade (Saúde). As outras já são ocupadas por partidos que se aproximaram do governo após negociação de cargos -União Brasil, na Integração Nacional, e PSD, em Minas e Energia.
Esses ministérios, portanto, não estão nos cenários traçados para a reforma costurada pelo Planalto.
Aliados do presidente têm se convencido que, para abrir espaço para o PP e o Republicanos, ministros do PT e da cota pessoal de Lula deverão perder os cargos.