Focado em resgatar como a mulher é vista no cinema e como conquistou espaço na produção audiovisual amazonense neste terceiro ciclo, a jornalista Pâmela Eurídice, 27, lançou o livro ‘Olhar Feminino: O Norte na Direção’. A obra estará disponível para o público a partir de janeiro de 2022, no Casarão de Ideias e no site do Cine Set.
De acordo com a jornalista que faz parte do Coletivo Elviras de Mulheres na Crítica Cinematográfica, a ideia de ressaltar as mulheres frente à produção audiovisual local veio após o coletivo compartilhar um texto da autora, professora e teórica feminista Gloria Jean Watkins, mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks, na qual aborda como a espectadora negra se enxerga no cinema.
“Isso também se estende a outros âmbitos do audiovisual e eu fiquei pensando como isso se estendia à mulher amazônida, ao nosso olhar e como construímos nosso cinema. Pesquisei e percebi que havia uma carência nessa área, com base nos dados recentes da Agência Nacional de Cinema comecei dar prosseguimento”, conta a jornalista.
Segundo Pâmella, com os últimos estudos da Ancine sobre a produção cinematográfica feminina no Brasil, de 142 filmes que saíram nas salas de cinema em 2018, 19,7% haviam sido dirigidos por mulheres e, no período entre 1984 até 2017, não havia tido nenhum filme comercial dirigido por mulheres negras.
“Esses dados me chamaram atenção porque no Amazonas isso vai na contramão, as nossas diretoras na maioria são mulheres não brancas. São negras, pardas e indígenas e como não encontrava um local que debatesse sobre isso, eu resolvi documentar”, conta Eurídice.
Perspectiva
Quando questionada sobre as inspirações e os nomes femininos que se destacam em meio ao cenário cinematográfico local, a jornalista e crítica audiovisual cita nomes como Aline Medeiros, Dheik Praia, Eliana Andrade, Flávia Abtibol, Izis Negreiros, Kátia Brasil, Keila Serruya Sankofa e Michelle Andrews, e destaca que cada uma delas possui uma peculiaridade na forma de fazer cinema.
“É muito interessante, pois quando juntamos a ideia de várias delas percebemos a pluralidade que é o nosso cinema, e a visão que a mulher tem sobre isso. Para mim, esse caleidoscópio é o que enriquece o cinema e a produção audiovisual. Esse olhar dominante delas e esse olhar transpostos dominante para dentro das narrativas nos traz olhares diferentes, mas que contam histórias nossas, amazonenses”, explica.
Em relação ao cinema local, ela conta que funciona em ciclos, atualmente, ela explica que vivemos o chamado de terceiro ciclo do cinema amazonense. De acordo com Pâmela, mesmo em tempos pandêmicos, as produções tiveram um fôlego devidos aos festivais realizado. No livro estruturado em cinco capítulos a pesquisadora também destaca a forma particular e a narrativa encontrada no fazer cinema na Amazônia.
“O diferencial da mulher amazonense enquanto produtora são as suas narrativas. O fato da gente assistir um filme e se identificar naquilo que é mostrado. Quando temos histórias que são feitas no Amazonas, que são nossas vivências enquanto amazonenses, isso mostra que temos nossa vivência e cultura e assim uma visão mais ampla daquilo que aqui vivemos”, explica Pâmela que complementa.
“Então, por exemplo, o tempo na Amazônia é diferente, os gestos também. Nós não identificamos isso quando assistimos uma novela global, mas certamente nos identificamos quando nos deparamos com os filmes produzidos por estas mulheres. Isso mostra que temos a nossa identidade e elas registram isso. A maioria das nossas produtoras não negras, indígenas e pardas e elas trazem também questões referentes ao conflito entre o urbano e rural, gêneros e preconceitos e assim encontramos essa multipluralidade”, finaliza.
Fonte: AGÊNCIA CENARIUM