Não é só o petróleo que está subindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia . O conflito também jogou as cotações do trigo para cima no mercado internacional nesta quinta-feira (24), o que pode afetar o preço do pãozinho, das massas e biscoitos que chegam à mesa dos brasileiros.
Rússia e Ucrânia são responsáveis por 28% do comércio global de trigo. O risco é de diminuição global da oferta desse grão. O Brasil importa cerca de 6 a 7 milhões de toneladas de trigo por ano, o que corresponde a 50% do consumo.
A Rússia ocupa a liderança mundial na exportação de trigo, e a Ucrânia está em quarto lugar. “O Brasil importa trigo majoritariamente da Argentina. Mas os estoques mundiais do produto já diminuíram em 11 milhões de toneladas entre 2021 e 2022 (de 289 milhões de toneladas para 278 milhões) por conta de problemas climáticos nos EUA”, analisa Guilherme Bellotti, gerente da consultoria de agronegócio do Itaú BBA.
“Com um conflito militar na Europa, teremos uma interrupção na cadeia logística, que vai afetar o mercado global, impactando o Brasil”, continua.
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Um quadro de “aperto” global entre oferta e consumo de trigo pode gerar uma corrida para aumentar estoques. O preço do trigo na Bolsa de Chicago já vinha sendo cotado em patamares não vistos desde 2012.
Nesta quinta-feira, os contratos para venda em maio subiram 5,7%, para US$ 9,3475 o bushel (o equivalente a 27,1 quilos). Milho e soja também registram altas superiores a 5%.
Impacto também sobre o milho
Nesse contexto, as margens da indústria devem se reduzir já que os preços da farinha não conseguem acompanhar o ritmo de alta da cotação do trigo.
Enquanto a cotação do cereal em janeiro deste ano subiu 84,6% frente ao mesmo mês do ano passado, o preço da farinha de trigo no Brasil, no mesmo mês, foi corrigido em 59%. “Os moinhos estão com dificuldade de repassar preços ao consumidor final”, diz Bellotti.
Uma das saídas que a indústria vem utilizando é a redução do tamanho da embalagem dos produtos. Outro ponto de preocupação é que o trigo é substituto do milho na ração animal. Nas exportações globais de milho, os ucranianos ocupam a terceira posição, enquanto os russos estão em sexto lugar.
Há risco de o preço do milho subir ainda mais no mercado internacional. Além disso, a Rússia é importante fornecedor de fertilizantes ao Brasil, fluxo que também pode ter problemas.