© MP pede proteção a índios do Maranhão há ao menos 5 anos

Equipes responsáveis por uma operação em curso na Terra Indígena Apyterewa, no Pará, detectaram um desmatamento de 1.125 hectares de floresta executado por meio de uma das técnicas mais agressivas e danosas para a destruição da mata: o arremesso aéreo de agrotóxicos.

A constatação ocorreu nesta quinta-feira (5), num sobrevoo feito por agentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), com apoio da PRF (Polícia Rodoviária Federal).

Na segunda (2), o governo federal deu início a uma operação para retirada de invasores das duas terras indígenas mais desmatadas do país: Apyterewa e Trincheira Bacajá, no Pará. Para isso, uma força-tarefa tenta pôr fim a uma vila que surgiu dentro de um dos dois territórios, com igrejas, bares, restaurantes, posto de gasolina e hotel.

A invasão envolve 1.600 famílias, segundo o MPI (Ministério dos Povos Indígenas). Agentes responsáveis pela operação dizem que os invasores podem chegar a 15 mil pessoas.

Nos territórios vivem, em 51 aldeias, 2.500 indígenas parakanãs, mebengôkres kayapós e xikrims. O avanço de invasores se deu a partir de ação ostensiva de posseiros e grileiros, com desmatamento de áreas e criação de gado numa tentativa de consolidação da invasão. A desintrusão feita pelo governo atende a decisões da Justiça Federal e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Para desmatar, uma das técnicas empregadas foi o despejo de agrotóxicos nas árvores, com o objetivo de desfolhar e matar a vegetação, para facilitação do corte.

Imagens já indicavam o uso da técnica, o que foi confirmado em sobrevoo feito por agentes do Ibama e Funai, segundo informação do grupo responsável pela desintrusão, coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência.

Agrotóxicos do tipo desfolhante foram usados para o desmatamento, conforme agentes envolvidos na ação. Uma área grande foi impactada, com coloração distinta das folhas das árvores em razão do arremesso do material.

Segundo o Ibama, moradores próximos da área confirmaram que um avião foi usado para a aplicação do agrotóxico. O objetivo é provocar a queda das folhas, para finalização da abertura da área por meio do fogo. Motosserras também são utilizadas no processo, que termina com a abertura de pastagens para gado.

A ação de fiscalização detectou resquícios de um acampamento na área. Não havia pessoas no local no momento da ação.

A desintrusão de Apyterewa e Trincheira Bacajá é planejada dentro do MPI pelo menos desde agosto. Foi colocada no topo das prioridades, em razão do avanço de posseiros e grileiros, especialmente ao longo dos anos do governo Jair Bolsonaro (PL).

A principal dificuldade será a retirada das cabeças de gado dos invasores, na avaliação de agentes envolvidos na operação.

Há ainda forte resistência política local à desintrusão e uma tentativa ilegal de reduzir o tamanho das duas terras indígenas, de forma a acomodar os invasores.

O STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a retirada de invasores de sete terras indígenas, entre elas Trincheira Bacajá, em decisões tomadas a partir de maio de 2021. O governo Bolsonaro desrespeitou a decisão, e o governo Lula (PT) vem executando ações de desintrusão a passos lentos.

Na lista dos sete territórios está a terra yanomami, território onde há uma operação de desintrusão em curso desde fevereiro. Mais de 20 mil garimpeiros haviam invadido o espaço, no lado de Roraima.

Dados do MapBiomas, uma rede formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia, mostram que Apyterewa foi a terra indígena mais desmatada no país nos últimos anos: 8.247 hectares em 2021 e 10.525 hectares em 2022. Em 2021, Trincheira Bacajá foi a segunda mais desmatada, com perda de 2.620 hectares.

Os dois territórios estão entre os municípios de São Félix do Xingu, Altamira, Anapu e Senador José Porfírio, no Pará.

O governo federal, diante da resistência de invasores, estabeleceu um prazo para a saída voluntária, com bens e gado: até o próximo dia 31. O comunicado feito afirma que decisão judicial determina retirada imediata, mas que haverá o prazo de quase um mês para que as famílias deixem as terras indígenas.

Um cadastro dos posseiros vem sendo feito por equipes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A desintrusão está prevista para durar 90 dias, com permanência de ações para evitar retorno de invasores.

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