Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (MS), a ansiedade é o transtorno mais presente durante a pandemia da covid-19. A procura por informações sobre o distúrbio e a busca por ajuda profissional dispararam desde o início do período pandêmico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o Brasil tem 18,6 milhões de pessoas convivendo com ansiedade. No Ceará, o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), oferece à sociedade atendimentos emergencial e ambulatorial voltado para quem tem o diagnóstico.
O médico e preceptor da Residência Médica de Psiquiatria do HSM, Matias Carvalho Aguiar Melo, afirma que os transtornos de ansiedade, quando não tratados, podem agravar-se, dificultando o manejo terapêutico. Por isso, é importante realizar o tratamento tão logo os sintomas se manifestarem.
Matias Carvalho é psiquiatra e preceptor da Residência em Psiquiatria do Hospital de Saúde Mental, em Fortaleza (imagem registrada antes da pandemia)
Confira a entrevista
Diante da terceira onda de covid-19 e do aumento de casos de influenza, o que tem sido observado em relação aos transtornos de ansiedade?
Matias Carvalho: Tem sido observado um aumento dos casos de depressão e ansiedade. Isso pode ter sido causado pelo isolamento social, pelo medo de morrer e contaminar parentes, pelas mudanças de rotina e pelos impactos financeiros. Pesquisas estimam uma elevação em cerca de 25% de transtornos afetivos e ansiosos durante a pandemia.
Como saber até que ponto a ansiedade é algo normal ou caracteriza um transtorno?
M.C.: O que diferencia a ansiedade normal da patológica é o sofrimento e a disfuncionalidade. A partir desse momento, é importante buscar ajuda psicológica e psiquiátrica.
Muitas pessoas com manifestações de ansiedade, antes mesmo de procurarem ajuda de especialistas em saúde mental, recorrem a terapias holísticas, como meditação, ioga, florais e chás calmantes para aliviar os sintomas. Essas práticas podem ajudar?
M.C.: Claro. A ideia é realizar uma abordagem multidisciplinar. Ioga, acupuntura, florais e outras terapias podem, sim, ajudar bastante. É importante também lembrar da atividade física como prevenção e tratamento tanto da ansiedade como da depressão.
A síndrome do pânico também está relacionada à ansiedade?
M.C.: O transtorno de pânico é uma manifestação da ansiedade, com sintomas físicos intensos, na forma de crise, a ponto de a pessoa achar que pode morrer. As crises geralmente duram de 20 a 30 minutos e são caracterizadas por taquicardia, falta de ar, dor no peito, tremores e sudorese, por exemplo.
Como deve ser realizado o tratamento após o diagnóstico de transtorno de ansiedade?
M.C.: A terapia deve ser tanto com psicólogo quanto com psiquiatra. As chances de uma melhora mais rápida e mais completa com o tratamento conjunto é maior. É necessário incentivar, ainda, a prática de atividades físicas e de lazer.
Quais os riscos se a doença não for tratada?
M.C.: A doença não tratada pode agravar, cronificar e dificultar o manejo terapêutico. Além disso, pode evoluir com o desenvolvimento de comorbidades, como depressão e uso de substância, além de aumentar o risco de suicídio. Por isso, deve-se buscar o tratamento o quanto antes.
Que dicas podemos seguir para equilibrar nossa saúde mental e controlar a ansiedade em meio à pandemia?
M.C.: Crie rotinas, tenha um bom sono e invista em atividades de lazer. Cuide de si mesmo, respeite seu tempo e tente relaxar diante de situações que não estejam sob seu controle.
Serviço
Núcleo de Transtorno de Ansiedade (Nuta)
Onde: Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) | Rua Vicente Nobre de Macedo, s/n – Messejana – Fortaleza – CE