A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, divulgou nesta quarta-feira (17) o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF), que aponta a gasolina como principal vilã da inflação. O combustível subiu 47,42% em 12 meses após ser fortemente impactado pela dinâmica do preço do petróleo no mercado internacional e da taxa de câmbio. Esse fator, somado à elevada taxa de desocupação, fizeram o rendimento médio real do brasileiro recuar 10,2% na comparação com o ano passado.
O relatório destaca queda expressiva na taxa de desemprego , mas ressalta que o aumento das contratações se concentrou em atividades de menor remuneração, o que ajuda a explicar a queda no rendimento.
A taxa de desemprego atingiu 13,2% da força de trabalho no trimestre encerrado em agosto, diminuindo 1,3 p.p na comparação com igual período do ano anterior (14,5%), de acordo com as estatísticas obtidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE.
Inflação
No mês de outubro, a inflação ao consumidor atingiu 10,67% nos últimos 12 meses , bem acima da meta de inflação para este ano, que é de 3,75% com intervalo de 1,5 p.p. para cima e para baixo – limite máximo de 5,25%.
Além da gasolina, o relatório pontua que “a inflação ao consumidor aumentou em diversos países, impulsionada pelo aumento da demanda com a reabertura das economias, pela escassez de insumos e pelo aumento dos preços de commodities no mercado internacional. No Brasil, a crise hídrica impacta os custos de energia elétrica e adiciona mais pressão sobre a alta dos preços”.
A expectativa é que haja um arrefecimento da inflação em 2022, já que está previsto para maio o fim da “bandeira de escassez hídrica”, que impacta a conta de luz. Além disso, A IFI projeta o reestabelecimento das cadeias globais de insumos de produção, que devem fortalecer a oferta de commodities.
Cenário fiscal preocupa
A PEC dos Precatórios, que autoriza o adiamento das despesas judiciais da União e altera o indexador que corrige a regra do teto de gastos , abrindo espaço orçamentário para financiar despesas em 2022 (ano eleitoral), têm adicionado incertezas ao quadro econômico nos últimos meses, com reflexo sobre as condições financeiras.
Leia Também
Entre os impactos está o aumento dos juros, que esfriará a economia no ano que vem. Entre março e setembro desse ano, a taxa Selic subiu de 2,0% para 7,75% , maior patamar em quatro anos, e economistas que elaboram o Boletim Focus já trabalham com 11% na taxa básica para o ano que vem.
Leia Também
As novas altas previstas para a Selic indicam que a despesa de juros seguirá em elevação nos próximos meses, aumentando o endividamento público e consequentemente a percepção de risco de descontrole fiscal.
O RAF reitera que PEC dos Precatórios aumentou “exacerbadamente” o cenário fiscal, “exigindo esforço do governo para alcançar resultados primários mais elevados nos próximos meses, de modo a compensar a elevação na despesa de juros”, ressalta a IFI.
Auxílio Brasil
A PEC deve abrir um espaço de cerca de R$ 93 bilhões no teto de gastos em 2022. Parte expressiva do montante será destinada ao programa social que iniciou os depósitos hoje, o Auxílio Brasil .
O substituto do Bolsa Família com parcelas temporárias de R$ 400 até dezembro de 2022 deverá contemplar 17 milhões de famílias, a um custo de R$ 81,6 bilhões.
Orçamento
Outras despesas devem receber R$ 21,5 bilhões do espaço aberto no teto de gastos, como a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos por mais dois anos, o reajuste dos pisos constitucionais de saúde e educação, o auxílio diesel para os caminhoneiros, o auxílio gás social, o aumento do fundo eleitoral e o aumento do teto dos Poderes e órgãos autônomos.
Outras despesas devem preencher mais R$ 21,5 bilhões dos R$ 93,0 bilhões de espaço aberto no teto:
- a) Prorrogação da desoneração da folha de pagamentos: a medida, válida por mais dois anos, foi anunciada pelo Presidente da República na live do dia 11 de novembro18 e, na estimativa da IFI, deve ter um impacto de R$ 6,0 bilhões em 2022 (além dos R$ 3,2 bilhões já previstos no PLOA);
- b) Reajuste dos pisos constitucionais de saúde e educação e a despesa com emendas parlamentares impositivas: esses valores estão atrelados à correção do teto de gastos. Caso a PEC no 23/2021 prospere, eles também passariam a ser reajustados pelo IPCA de dezembro do ano anterior, o que deve gerar um impacto de R$ 6,4 bilhões;
- c) Auxílio diesel: pago a caminhoneiros para compensar o aumento do preço do diesel. O benefício seria de R$ 400,00 mensais e beneficiaria 750 mil profissionais até o fim de 2022, com gasto anual próximo a R$ 3,6 bilhões.
- d) Aumento do Fundo Eleitoral (Fundo Especial de Financiamento de Campanha): o Congresso ampliaria os R$ 2,1 bilhões previstos hoje no PLOA 2022 para R$ 5,0 bilhões, um impacto, portanto, de R$ 2,9 bilhões;
- e) Auxílio Gás Social: o benefício foi aprovado pela Câmara e aguarda sanção presidencial. No parecer da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, a estimativa de impacto é de R$ 0,6 bilhão no primeiro ano do programa. O projeto aprovado, contudo, permite que o Executivo compatibilize a quantidade de famílias beneficiadas com as dotações orçamentárias existentes para o auxílio, o que pode reduzir a despesa realizada no ano; e
- f) Ampliação do teto dos demais Poderes e órgãos autônomos: como visto, dos R$ 47,6 bilhões liberados pelo recálculo do teto, R$ 2,1 bilhões se referem à ampliação dos limites do Legislativo, Judiciário, Defensoria Pública e Ministério Público da União.