“O garimpo gera uma série de problemas fisiológicos e de saúde para a população, como o câncer e Síndrome de Minamata”
A procura incessante pelo “minério dourado” na Amazônia remontam desde o século XVI, até os dias atuais, modernizada pela forma de extração do ouro, que hoje é efetuada de duas formas: aquática e terrestre. A aquática é feita com um maquinário de grande porte instalado em casas flutuantes, conhecidas popularmente como dragas, que faz a sucção dos sedimentos dos rios; Já a terrestre é a mais comum, onde se usam duas moto-bombas, onde um lança água sob pressão nos sedimentos e o outro bombeia esse material já desintegrado.
Em estudos do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), nos últimos anos, 60% da produção nacional deste minério é proveniente da Amazônia. O estudo ainda indica que o garimpo é a principal forma de mineração, e que a maior área dessa atividade no Brasil está localizada nesta região, com boa parte concentrada na 2ª maior via fluvial do estado, o Rio Madeira.
Impactos ambientais
A contaminação e assoreamento dos rios, são uns dos inúmeros impactos causados pelo garimpo, assim como a degradação do solo, desmatamento da rica flora e fauna e até mesmo a poluição do ar, ocasionado pela queima do mercúrio que os garimpeiros usam para separar e extrair o ouro através da queima.
Esse metal pesado é uma ameaça a vida aquática e humana, os peixes infectados por exemplo, consumidos pelos moradores, geram danos nos rins, fígado, aparelho digestivo e no sistema nervoso central.
O Doutor Lucas Ferrante, pesquisador e biólogo de formação, com mestrado e doutorado em biologia e ecologia, ressaltou em entrevista ao Portal de Notícias Amazônia Press, os malefícios que o garimpo expõe as pessoas, animais e plantação.
“É Importante que se entenda que tanto o garimpo legal como o ilegal, tem os seus impactos, esses impactos eles não são só apenas ambientais como sócio econômicos, como impactos ambientais nós podemos listar por exemplo a contaminação das águas, e dos pescados, então, diversas pequenas comunidades ao longo dos rios amazônicos, temos encontrado uma carga de contaminação por mercúrio tanto na água quanto nos peixes, em quantidades exorbitantes e acima dos limiares adequados pra saúde”.
O especialista salienta ainda, a série de problemas de saúde que a contaminação pode causar a população, que vive em torno do garimpo.
“Importante dizer que essa contaminação por mercúrio em decorrência do garimpo gera uma série de problemas fisiológico e de saúde para a população dessas comunidades, como câncer, como por exemplo a Síndrome de Minamata, que é um depressivo do sistema nervoso. Então o que nós estamos falando é que o garimpo adoece as comunidades. Isso é um dado científico”, diz o doutor.
Lucas reforça um alerta às pessoas que não só os peixes podem ser contaminados, mas também frutas.
“Os peixes assim como as frutas também podem ser contaminadas quando se utiliza a água do rio que tem uma carga alta de mercúrio, ou para consumo próprio. Então nós estamos falando de uma contaminação por mercúrio que de fato gera muitos problemas, o garimpo ele não gera desenvolvimento, isso são os dados científicos que apontam. O garimpo gera aumento de mazelas sociais, que normalmente é associado ao aumento de criminalidade e associado a problemas de saúde pública gravíssimo, então não existe desenvolvimento, tão pouco desenvolvimento sustentável com atividades de garimpo, essas comunidades ficam fadadas a problemas de saúde crônico, por isso a necessidade de criminalizar e proibir todo e qualquer garimpo no Amazonas”.
O ecologista finaliza dizendo, que a legalização do garimpo de forma alguma diminui os impactos, sejam eles ambientais ou socioeconômicos.
“Diversos estudos já apontam que é uma balela que a legalização do garimpo diminui os impactos ambientais, de fato esses impactos estão atrelado a atividade do garimpo e não só isso, mas você tem uma contaminação enorme de afluentes lençol freático, contaminação da fauna e da flora e também das comunidades tradicionais próximas, mesmo o garimpo legalizado, muitas das vezes é fomentado por organizações criminosas, então não existe viabilidade ambiental, de saúde pública ou socioeconômica para garimpo, seja ele ilegal ou regularizado. É importante que a população compreenda os danos para as comunidades que de fato a implementação de atividades de garimpo por próximo uma comunidade é algo deletério para aquela comunidade, que só vai trazer problemas”, concluiu o Dr. Lucas Ferrante .
A incerteza do sonho dourado continua, o brilho que pode transformar a vida de um garimpeiro, é o mesmo que transformar o futuro ecológico da Amazônia.
Por Karleandria Araújo.