Foto: acervo pessoal

Uma forma de expressão que pode ser manifestada de várias formas, seja em cestarias ou cerâmicas, o grafismo constitui-se em uma manifestação cultural e pode se apresentar em formatos que vão além do meio decorativo. Os povos originários chegam a carregar tais grafismos no corpo e no rosto, mostrando a identidade cultural de seu povo. As pinturas são as marcas de muitas etnias e são diferentes para cada ocasião. As tintas são feitas de elementos naturais, como urucum e jenipapo, e podem manter-se na pele por um período de 15 a 20 dias.

Vale ressaltar que muitos artistas indígenas enxergam as pinturas tradicionais indígenas como um dos atrativos turísticos por visar a aproximação cultural, fortalecendo, desmistificando e valorizando ainda mais as raízes indígenas entre os não indígenas. As pinturas feitas pelos indígenas carregam uma história com uma ancestralidade muito grande por trás de cada uma delas. Essa arte indígena está muito além do valor estético, ela obedece a preceitos mágicos simbólicos e cosmológicos da sociedade que a representa.

As pinturas corporais representam ainda a sacralidade e a proteção espiritual diante das adversidades. Em momentos de conflitos, os indígenas se pintam com a tinta e os grafismos para se sentirem fortalecidos. Morador do primeiro bairro indígena de Manaus, o Parque das Tribos, o jovem Amadeu Sateré-Mawé, de 16 anos, da etnia Sateré-Mawé, já se acostumou em ter as mãos manchadas com a tinta comporta por elementos naturais. O interesse pelo grafismo surgiu há 7 anos, no momento do início da ocupação do bairro, e desde então se tornou para o jovem mais uma oportunidade de manifestar e fortalecer as diversas culturas dos povos indígenas.

Foto: acervo pessoal

“Desde 2017, eu já trabalho com o grafismo corporal Indígena que veio ser desenvolvido no bairro indígena onde moro mais por conta de uma necessidade que havia de alguém pintar meu povo e outras etnias. Grafismo indígena é uma armadura de protesto para luta, ritual, danças e costumes culturais do nosso povo. identificação para cada povo e etnias. No nosso caso, utilizamos a fruta do jenipapo (verde), extraindo seu sumo, carvão e tala de bambú”, declarou o jovem.

Ao portal Amazônia Press, ele explicou ainda que grafismos são traços milenarmente históricos que cada povo carrega na sua base étnica. De acordo com sua explicação, cada um tem seu significado como: sabedoria, esperança, força, preparação e outros, cujo o objetivo principal é uma proteção para cada povo indígena e uma identificação.

A valorização e o crescente reconhecimento envolvendo a temática da cultura indígena Brasil afora tem criado girado em torno de um tema muito pautado na atualidade: a partir e qual momento o intercâmbio cultural pode setornar uma apropriação? O jovem Amadeu Sateré ressaltou que os grafismos são sagrados por representar proteção, força e resistência, afirmando que, para cada povo o grafismo tem um significado único e que sempre procura apresentar o significado para que a pessoa entenda e respeite.

“Eu tenho o Grafismo como minha fonte de renda e os turistas são os nosso grandes consumidores, depois dos nosso parentes indígenas, é claro”, frisou.

Complementou ainda: “Porém, eu venho levantando uma pauta muito importante e íntima de cada povo, não será ofensivo desde que o grafismo utilizado pelos turistas seja os grafismos de rituais espirituais ou de um evento cultural privado de cada povo, que infelizmente esses grafismos estão catalogados e são usados nas pessoas e momentos incorretos, mas sempre há uma abordagem da minha parte explicando esse conceito e pedindo o respeito mais profundo com cada grafismo e povo”.

Foto: acervo pessoal

Para finalizar, Amadeu aproveitou para falar sobre a importância de projetos para divulgar a arte dos povos tradicionais aos turistas e também aos demais moradores locais.

“Esses projetos ampliam, capacitem artesãos e artistas com qualificação de negócio e empreendedorismo…São artes exóticas que é extraída e vendidas super caras, uma apropriação de nossas mãos”, finalizou.