Daniel Ricciardo é reconhecido como um dos personagens mais carismáticos e habilidosos entre os pilotos da Fórmula 1. O australiano construiu um currículo de dar inveja a muitos competidores. São oito vitórias em corridas e 32 pódios, o que o coloca na 35ª posição da modalidade na história.
Ele já terminou entre os três primeiros na mais famosa categoria do automobilismo em duas oportunidades vezes e superou Sebastian Vettel na classificação em sua última temporada como campeão de quatro títulos pela Red Bull Racing. Mas, sem dúvida, sua habilidade mais impressionante é a longevidade. Ricciardo estreou em 2011 e competiu em 14 temporadas consecutivas , somando 1.329 pontos em 256 corridas.
E ele fez tudo isso com seu sorriso característico estampado no rosto.
Apelidado de “Honey Badger” (Texugo-do-mel) por sua personalidade amigável, mas feroz nas pistas, Ricciardo passou de um jovem inexperiente de 21 anos a um veterano conhecido por frear no limite e ser um dos mais corajosos nas ultrapassagens. Estabelecido entre as figuras mais populares do esporte, ele está ciente do papel que pode desempenhar ao abrir caminho para a próxima geração.
“Algo que percebo à medida que envelheço é que talvez eu tenha essa plataforma ou essa habilidade de inspirar outra pessoa que era como eu aos cinco, seis, 10 anos, seja o que for.”, disse Ricciardo em entrevista exclusiva à CNN. “E isso é legal. Sabe, reconhecer isso, eu adoraria dar a uma criança algo para almejar.”, completou o piloto.
Ele também está feliz em compartilhar suas experiências com seus concorrentes e ajudar onde puder. Aos 35 anos, ele é atualmente o quarto piloto mais velho no grid.
“Não tenho problema em ser o cara mais velho e tentar emprestar um pouco de sabedoria.”, disse rindo.
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A volta às raízes australianas
Ricciardo nasceu em Perth, Austrália, e cresceu com aspirações de se tornar um piloto de Fórmula 1. Seu novo filme, Drive the Dream 2, presta homenagens às suas raízes.
Ricciardo e seu melhor amigo de longa data, Blake Mills, se unem para fazer uma viagem de carro pelo seu estado natal, explorando as paisagens e a cultura da região.
“Eu e Blake, meu melhor amigo, crescemos juntos. Nós realmente competimos juntos em karts. Ele viajou pelo mundo para passar tempo comigo, me assistir correr, e pensamos: ‘Beleza, vamos passar um tempo juntos, mas vamos viajar pelo nosso próprio estado e explorar a Austrália Ocidental.”, explicou Ricciardo.
A viagem incluiu uma visita à Caverna Ngilgi, um importante local na mitologia aborígene australiana.
“Josh foi nosso ancião aborígene que nos levou lá embaixo e nos mostrou tudo… lá dentro, eu nunca tinha vivenciado algo assim. Ele nos guiou e depois pegou seu dijeridu (instrumento típico aborígene) e começou a tocar, que obviamente é um instrumento muito icônico da Austrália. E era tão quieto e pacífico lá embaixo. Crescendo na Austrália e aprendendo um pouco mais sobre a terra, isso foi algo que realmente me agradou.”, disse o piloto.
A dupla também experimentou esportes radicais, como surfe e ciclismo de montanha.
“Correr é minha dose de adrenalina, me dá aquele pico de adrenalina. Mas quando não estou correndo, ainda procuro algo assim… Ainda não comecei a jogar golfe.”, detalhou.
Terra de pilotos
A Austrália tem uma história de sucesso na Fórmula 1. Apesar de ter produzido apenas 15 pilotos que começaram pelo menos um GP, o país foi representado no pódio 137 vezes e em 44 ocasiões no lugar mais alto.
Dois pilotos australianos também foram campeões da F1: o lendário Jack Brabham conquistou o título em 1959 e 1960, antes de se tornar o primeiro e único piloto a vencer o campeonato com seu próprio carro em 1966, dirigindo para a equipe Brabham, que levava seu nome; e Alan Jones, que se tornou o segundo campeão australiano em 1980.
Ricciardo se tornou o 14º piloto australiano a iniciar uma corrida quando fez sua estreia pela HRT F1 Team em 2011. Ele dividiu o grid com o compatriota e vencedor de nove corridas, Mark Webber, a quem ele substituiu na Red Bull três anos depois.
Atualmente, ele compete contra o mais jovem vencedor de uma corrida na modalidade, o compatriota Oscar Piastri, nascido em Melbourne, e que substituiu Ricciardo na McLaren em 2023. Além de Piastri, Ricciardo terá em breve a companhia de Jack Doohan nos circuitos, já que o piloto está prestes a se tornar o 16º piloto australiano de Fórmula 1 quando se juntar à Alpine para a temporada de 2025.
Ricciardo disse que está “muito orgulhoso” de representar seu país no automobilismo, abrindo caminho para a próxima geração de pilotos australianos.
“Somos uma nação muito esportiva e o automobilismo está crescendo muito. E é muito bom não só representar o país, mas também, espero, inspirar a próxima geração.”, afirmou Ricciardo.
Nunca está satisfeito
A carreira de Ricciardo na Fórmula 1 tem sido uma história de altos e baixos. Depois de se juntar à HRT no meio de 2011 e passar a temporada de estreia com a equipe espanhola, ele se mudou para a equipe júnior da Red Bull Racing, então conhecida como Toro Rosso, onde passou duas temporadas antes de ser promovido para a equipe principal.
Ele enfrentou a difícil tarefa de substituir o sempre confiável Webber e de fazer parceria com Vettel, o homem que acabara de conquistar quatro títulos mundiais consecutivos.
O australiano fez mais do que garantir seu lugar na categoria. Ele conquistou a primeira vitória no sétimo GP, no Canadá, e venceu consecutivamente na Hungria e na Bélgica mais tarde naquele ano. Ele terminou no pódio oito vezes naquela temporada e ficou em terceiro no campeonato, atrás da dupla da Mercedes, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, e à frente de Vettel, que ficou em quinto.
Os quatro anos seguintes foram ainda mais produtivos na equipe austríaca. Ricciardo levou o pouco competitivo RB11 ao pódio duas vezes em 2015 e terminou em terceiro novamente em 2016. Depois conquistou mais quatro vitórias no meio da era turbo-híbrida dominada pela Mercedes, incluindo uma vitória memorável em Mônaco em 2018.
Aquele ano acabou sendo o último de Ricciardo na Red Bull, deixando a equipe no final da temporada para se juntar à Renault. Sua saída coincidiu com a assinatura de um novo contrato de longo prazo de seu então companheiro de equipe, Max Verstappen.
Após dois anos com a equipe francesa, Ricciardo fez uma mudança infeliz para a McLaren, onde lutou para encontrar o ritmo de corrida pelo qual era famoso e muitas vezes não conseguiu igualar seu companheiro de equipe, Lando Norris, em 2021 e 2022. Sua primeira temporada com o fabricante britânico, no entanto, teve um destaque espetacular quando ele conquistou sua vitória mais recente e a primeira da McLaren desde 2012 no Grande Prêmio da Itália.
Sem lugar em 2023, a F1 experimentou um grid sem Ricciardo pela primeira vez em mais de uma década. No entanto, antes da temporada, ele optou por retornar à família Red Bull Racing como piloto de testes e reserva da equipe, uma jogada que se revelou um grande acerto. Ele substituiu o holandês Nyck de Vries no meio da temporada na equipe júnior, renomeada como AlphaTauri e rebatizada como “equipe irmã” da Red Bull Racing.
Cinco equipes diferentes e quatro delas nos últimos seis anos, Ricciardo disse que ganhou uma experiência valiosa ao mudar de escuderias e ser forçado a enfrentar novas oportunidades.
“Mudar de equipe pode ser instável às vezes. Mas também é uma oportunidade de crescer e aprender, porque você se coloca em um novo ambiente com novas pessoas. Obviamente, todo mundo tem sua própria maneira de trabalhar, então é uma chance de adquirir novas técnicas, novas maneiras de trabalhar, disciplina ou ética de trabalho, seja o que for.”, disse à CNN.
O grande objetivo
Ricciardo já fez praticamente tudo que há para fazer na Fórmula 1, mas seu objetivo final escapou durante toda a carreira.
“Estou orgulhoso. Tipo, não me entenda mal, se terminasse hoje, eu ficaria orgulhoso do que fiz. Mas, ao mesmo tempo, você nunca está completamente satisfeito, porque a razão pela qual entrei na Fórmula 1 foi para tentar me tornar campeão mundial. Terminei em terceiro algumas vezes, fiquei muito orgulhoso dessas temporadas. Ganhei algumas corridas. Então sim, estou feliz com alguns dias que tive no esporte ou alguns anos que tive, mas, no final das contas, o objetivo era ser campeão mundial, e isso é algo que ainda tentarei alcançar até o dia em que me aposentar.”, afirmou.
“Posso ficar orgulhoso mesmo sem isso, porque me esforcei. Mas sim, ainda quero adicionar isso. Isso me daria 100% a imagem completa de felicidade e satisfação.”, acrescentou.
A realidade da Red Bull
O retorno de Ricciardo à Red Bull marcou um momento de ciclo completo para o australiano, que ingressou na academia da equipe em 2008.
A equipe irmã foi renomeada novamente antes da temporada de 2024, adotando o chamativo nome de Visa Cash App RB Formula One Team, chamada de RB. A equipe atualmente ocupa a sexta posição no campeonato de construtores, com Ricciardo em 14º no campeonato de pilotos.
Os pilotos associados à Red Bull frequentemente enfrentam uma rotina intensa e criteriosa, com a empresa sendo notória por ser implacável com seus pilotos e fazer mudanças rápidas em suas equipes se os pilotos não estiverem rendendo. De Vries, Alex Albon e Pierre Gasly foram todos vítimas da “foice” da Red Bull nos últimos anos, mas Ricciardo acolhe a pressão, dizendo que é algo a que ele “se acostumou e aprendeu a amar.”
“Quando entrei no esporte e me mudei para a Europa, eu era – talvez algumas pessoas achem difícil de acreditar – bastante tímido, não era a pessoa mais confiante. E acho que eu também era… bem jovem e imaturo. Então, ser contratado pelo programa da Red Bull quando eu tinha 18 anos… ter essa responsabilidade, essa pressão, tudo isso me forçou a amadurecer.”, explicou.
“Sim, existe essa pressão que vem com o fato de fazer parte da família Red Bull, mas eu sei que isso é o que me faz dar o meu melhor. Acho que, por eu ser uma pessoa relativamente tranquila, às vezes preciso de um pouco disso para me sacudir e dizer: ‘Vamos lá’.”, completou.
Ricciardo estará sem contrato no final do ano e, atualmente, há uma pressão sobre ele para entregar bons resultados por razões opostas. O altamente cotado jovem da Red Bull, Liam Lawson, está à espreita, aguardando uma chance de tempo integral na F1, depois de substituir Ricciardo, que se lesionou em 2023.
No entanto, se Ricciardo entregar bons resultados no restante da temporada, ele continuará a ser vinculado a uma possível ascensão no grid. Apesar de ter contrato para as próximas duas temporadas, Sergio Pérez, o atual segundo piloto da Red Bull, está pressionado após dificuldades recentes.
Ricciardo explicou que está buscando estabilidade à medida que sua carreira se aproxima do fim, mas será que um retorno notável à equipe onde ele venceu sua primeira corrida está no horizonte?
“Na posição em que estou atualmente, gostaria de focar em um objetivo específico e não ter muita distração ao redor,” disse ele.
Seja qual for o futuro do australiano, é provável que seja tão imperdível quanto o resto de sua carreira.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Fórmula 1: Daniel Ricciardo, a trajetória marcante do piloto australiano no site CNN Brasil.