Fernando Frazão/Agência Brasil

Após os mais difíceis períodos enfrentando a crise sanitária da Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, o mundo deve estar em alerta aos riscos de enfrentar outra zoonose com potencial para se tornar uma nova ameaça, seja no Brasil ou a nível mundial, como advertem especialistas, o Ministério da Saúde e também a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O ressurgimento recente do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil acendeu o sinal de alerta de especialistas sobre o risco de uma nova epidemia da doença causada por esse sorotipo viral. Há mais de 15 anos, o tipo 3 não causa epidemias no país. Um estudo da Fiocruz, coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), apresenta a caracterização genética dos vírus referentes a quatro casos da infecção registrados este ano, em Roraima, na região Norte, e no Paraná, no Sul do país. A circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente preocupa os especialistas.

“Nesse estudo, fizemos a caracterização genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou anos, epidemias causadas por esse sorotipo”, explica o virologista Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz, que atua como referência regional para dengue, febre amarela, chikungunya, zika e vírus do Nilo ocidental.

A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam); da Rede Genômica de Vigilância em Saúde do Amazonas; da Rede Genômica Fiocruz; do Inova Fiocruz (Inovação Amazônia); do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit) do Ministério da Saúde do Brasil; do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

De acordo com a OMS, a estimativa é de que cerca de 60% das doenças emergentes são de origem zoonótica. Trata-se de enfermidades transmitidas de animais para os homens, como o ebola, a própria covid-19 e a varíola do macaco, cujo surto atual dá sinais “reais”, na avaliação da agência, de que essa doença pode se estabelecer fora da África, única região onde, por enquanto, é endêmica.

Ao portal Amazônia Press, o chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Elder Figueira, declarou que a recente verificação da circulação do sorotipo 3 realmente acende um alerta, visto que essa circulação não ocorre há muitos anos.

“É importante considerar que a população deve sempre adotar as mesmas medidas que são adotadas para o controle do Aedes Aegypti visto que elas também funcionam, sejam os sorotipos o 1, o 2, 3 ou até mesmo o 4. As atividades e ações que a comunidade precisa ter de eliminação de criadouro, para que a gente diminua a infestação pelo mosquito são exatamente iguais. Recentemente fizemos um levantamento de índice dos municípios que tem de infestação para a dengue mesmo em um período em que estamos encerrando o período sazonal de maior intensificação das chuvas, é importante que a gente continue mantendo sempre as ações durante o ano todo”, destacou.