A popularização do Pix — sistema de pagamento instantâneo gratuito que entrou em operação há um ano — inaugurou novos usos para a plataforma. Primeiramente, o que chamou a atenção de usuários foi a possibilidade de utilizar essa modalidade para iniciar relacionamentos afetivos, prática que recebeu o apelido de “Pix Tinder”. Ao permitir transferir dinheiro sem custo, o sistema passou a ser usado como plataforma de mensagens e contatos amorosos. Ou seja, com transferências de centavos, o Pix chegou a ser usado como uma rede de paqueras.
Para a designer de produtos Isabelle Fengler, de 20 anos, o “Pix Tinder” foi uma brincadeira. Ela soube das trocas de mensagens pelo meio de pagamento instantâneo e decidiu colocar uma de suas chaves Pix no perfil da rede de relacionamentos. A jovem chegou a receber três mensagens com transferência de baixo valor.
“São pessoas para as quais eu não dei o “match” no Tinder e, por isso, não poderiam me enviar mensagens por lá. Aproveitaram a informação do Pix para chamar a atenção e me pedir para aceitá-las”, contou.
Com o amadurecimento, o sistema agora ganhou novas formas de utilização, e está servindo até como ferramenta de investigação. Uma advogada da Bahia conseguiu iniciar um processo de pedido de pensão alimentícia após localizar o pai da criança pelo Pix.
Ela havia sido procurada por uma mulher que, ao comunicar a gravidez ao pai da criança, foi bloqueada para ligações e em todas as redes sociais dele. A jovem contou que teve um relacionamento efêmero com o rapaz, que mora em outro estado, e só sabia seu primeiro nome.
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A advogada Mylla Christie, de 30 anos, conta que somente com o primeiro nome não foi possível localizar o homem. Ela, que é usuária do Pix desde o lançamento da plataforma, teve a ideia de tentar utilizar o número do telefone do rapaz para uma transferência. A técnica foi bem-sucedida. Antes da conclusão da operação, o Pix confirma o nome completo do beneficiário:
“Fui pagar um lanche, e o senhor recebeu por Pix, com uma chave que é celular dele. Então, pensei em tentar o número do rapaz para descobrir seu nome completo. O número dele era mesmo a chave e gerou o nome. Encontrei ele nas redes sociais e achei a foto”, explicou Mylla:
“Depois, encontrei proclamas de casamento, RG, CPF, nome da esposa e local do casamento. Com nome completo, CPF e RG, pesquisei o endereço dele em sites jurídicos”, destacou.
Somente após a advogada revelar que descobriu todos os seus dados e ameaçar falar com a mulher dele, o rapaz decidiu conversar sobre a pensão alimentícia e as questões relacionadas à criança e ao seu registro.
“Demos sorte que ele fez a chave Pix com o número do telefone. Não tínhamos nenhum outro dado, e não seria possível reivindicar os direitos da criança. Na verdade, o único dado verdadeiro que ela tinha era o número de telefone, porque até o nome que ele deu a ela era falso. Não teríamos como achá-lo, se não fosse o Pix. Foi a única saída que, felizmente, se mostrou eficiente. Eu já usava o Pix para receber honorários advocatícios, mas para investigação foi a primeira vez que usei”, contou a advogada.