O mercado sabe que a política e as eleições devem ser o principal fator para 2022. O cenário eleitoral, porém, para muitas pessoas envolvidas com o mundo dos investimentos já está definido: seguindo a maior parte das pesquisas, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro é muito grande nos momentos, a rejeição do atual presidente é alta e nenhum candidato de terceira via até agora conseguiu se mostrar competitivo. Luis Stuhlberger, gestor do Verde, e Rogério Xavier, do SPX, avaliaram, em evento do Credit Suisse, que o cenário-base é a eleição do ex-presidente.
Xavier, inclusive, chegou a ressaltar que a preferência dos investidores internacionais é por Lula e não Bolsonaro. “Eu falo isso e as pessoas falam que eu sou petista. Eu nem voto mais no Brasil, só torço que o País dê certo e que todos tenhamos prosperidade. Não matem o mensageiro”, alertou. “As pessoas gostam do Lula aqui fora, e elas não gostam do Bolsonaro”, completou Xavier, lembrando que o mercado internacional espera uma melhora do Brasil com uma presidência Lula.
No evento, ambos ressaltaram que o espaço fiscal é reduzido e que a eleição do ex-presidente resultaria em um aumento de impostos, já que Lula sinaliza com mais gastos por parte do Estado. Xavier demonstrou ceticismo com os próximos meses do Brasil, principalmente por conta da fragilidade do teto de gastos – o qual Lula tem sido contra – e a inexistência de uma alternativa de arcabouço legal. “Vejo uma vida bem difícil para nós brasileiros a frente”, destacou.
Que Lula assume se ganhar?
Já o gestor do Verde lembra que o mercado foi surpreendido por um fluxo estrangeiro, que não se vê assustado pela possibilidade de o ex-presidente ganhar a eleição, e vem montando posição. “O estrangeiro hoje vê o possível governo Lula com pragmatismo. ‘Se de 2002 até 2010 ele não foi tão ruim, não vou esperar isso’“, disse.
Stuhlberger chegou a destacar que o Lula que ganhar a eleição não deve ser nem o “Lula sindicalista” e nem o “Lula revanchista”. “O Lula tem um propósito na vida de ser visto como um grande estadista, que é como a Europa o vê. Não acho que o Lula revanchista ou sindicalista, ou o Lula de esquerda vão predominar”, afirmou o gestor do Verde.
Um ponto relevante para o mercado é que Lula vem dando sinais ao centro, primeiro com encontros com o MDB e agora com a ideia, praticamente selada, de Geraldo Alckmin como vice-presidente, buscando uma coalização para governar. “Lula é o favorito para a eleição, quase que já ganhou”, ressaltou.
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A postura de acreditar que o Lula é o franco favorito para a eleição trouxe bastante críticas nas redes sociais, onde chegaram a afirmar que o nome do fundo de Stuhlberger deveria mudar de Verde para Vermelho. Não se sabe o voto dele para 2022. Ele chegou a votar em Bolsonaro em 2018, mas, desapontado com a gestão da pandemia, prometeu que o atual presidente “nunca mais teria o seu voto”.
Inflação e impostos maiores
Stuhlberger também destacou que acredita que em um eventual governo do PT, a inflação deverá ser, em média, maior do que o que foi os últimos anos, ocasionada por conta dessa expansão de gastos prevista pelos gestores – isso significaria o ritmo de aumento de preços por volta dos 5%. “Não vejo mais o Brasil em nenhuma hipótese, com o governo do PT, voltando a níveis de inflação de 3%, 3,5% como era”, afirmou.
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Para financiar esses gastos extras, o aumento de tributos é dado como certo. “Reformas, numa visão petista, certamente visarão aumentar a carga tributária e isso é um dilema. Essa visão assistencialista o PT tem, o Lula tem. Se esse dinheiro a ser gasto a mais não for equilibrado entre investimentos e medidas para aumentar o PIB potencial e só virarem aumento de salário, aumento do salário-mínimo, teremos problemas quando esse modelo esgotar”, destacou o gestor do Verde.
Isso reflete o que o próprio Lula já fez anteriormente, quando as políticas tomadas nos seus oito anos de governos se acumularam no governo Dilma e foram parte significativa para a crise econômica da década passada. “O Lula deu sorte que isso não estourou no colo dele, estourou no colo da Dilma. Ela fez o que fez para a bomba não estourar no colo dela. Não deu certo, estourou de qualquer forma”, disse Stuhlberger.
Stuhlberger destaca que hoje o Brasil tem um gasto e arrecadação de 35%, 36% do PIB, e isso deverá ser aumentado em cerca de 2%. Um ponto importante é saber a forma desse aumento de impostos: por onde ele virá? Alguns são mais. O que seria suficiente? “Aumento de PIS/Cofins, CPFM, que é altamente impopular e aumentar imposto sobre dividendo sem mexer no imposto de renda. Isso é bem negativo para a bolsa. Esse problema tem que ser visto pelo mercado, não é tão ruim para o Brasil, mas é ruim para as empresas listadas, o lucro diminui”, afirmou.
Ele destacou também que alguns dos espantalhos mais utilizados pela esquerda continuam a ser apenas espantalhos – e não tem impacto significativo na sociedade. “Imposto sobre grandes fortunas? Sobre herança? Isso não resolve, a arrecadação é pífia”, disse o gestor. “O Brasil não é fácil, não será fácil”, terminou.
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