O câncer é apenas uma palavra para um termo que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum no crescimento desordenado de células. “Câncer” uma simples palavra que mexe com os sentimentos de qualquer mulher quando usada para diagnóstico, seja ele precoce ou tardio. No Amazonas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o tumor de colo de útero é o segundo mais frequente entre as mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama. A taxa estimada é de 32,13 casos para cada 100 mil mulheres acometidas por estes dois tipos de cânceres.
Os sintomas são difíceis de identificar, muitos deles ainda em fase inicial como: quadros de secreção vaginal anormal, sangramento fora do período menstrual e cólicas intensas. O câncer do colo do útero, também conhecido por câncer cervical, é a principal causa de morte entre mulheres, sendo uma doença de evolução lenta.
Um misto de sentimentos começam a invadir a cabeça dessas mulheres ao suspeitar do possível desenvolvimento e diagnóstico positivo para essa doença que muitas vezes é agressiva. Mesmo com todas as tecnologias atualizadas e exames em dia, isso não impediu Solemara Souza da Silva, consultora financeira, de descobrir um câncer aos 40 anos de idade.
“Foi uma surpresa. Há 3 anos (2019-2021) eu ia no ginecologista, eu estava fazendo o acompanhamento anual indicado para toda mulher. Um ano antes do diagnóstico, eu percebia que alguma coisa estava estranha, a menstruação veio com fluxo intenso junto de um corrimento vaginal e durante uma relação sexual e outra o sangramento aumentava, comecei a sentir cólicas muito fortes como nunca senti, o que não era comum em mim, nunca havia passado por cólicas menstruais. Com isso, eu fui a minha ginecologista e informei sobre o sangramento e secreção vaginal. Foram me passados exames, realizei todos, meu papanicolau deu normal, os exames estavam com bons resultados. Aparentemente, segundo a doutora, não havia neoplasia maligna. Então questionei a doutora sobre o sangramento, a mesma relacionou a minha idade, hormônios e até mesmo a menopausa”, ressalta a consultora financeira.
Toda mulher preocupada com a saúde ginecológica, está ciente que uma alteração do fluxo menstrual deve ser avaliado, podendo ser um indicativo para doenças. Ela nos conta que tentou seguir normalmente, mas o sangramento anormal continuou trazendo preocupações, Em Manaus a situação da saúde encontrava-se em estado de emergência, a cidade passava pela segunda onda da Covid-19, superlotando hospitais e prontos socorros, com isso Solemara relata o adiamento do seu retorno com a médica, por medo da exposição ao vírus, assustada resolveu adiar o seu retorno.
“Em abril tive meu retorno com a médica, após receber minhas férias e com a diminuição dos casos de Covid-19, fui a clínica. Informei a doutora de que havia algo errado com meu ciclo menstrual, e no momento da coleta para a realização do papanicolau houve um sangramento, próximo a uma hemorragia, a coleta que era para um preventivo passou a ser a coleta de um material para biópsia. Informou que havia uma lesão muito grande mas que no momento através do canal da vagina ela não conseguia observar.”
“Mesmo sem a certeza do diagnóstico, a médica já vinha me preparando, e nos apegamos para que não fosse, mas pelo andar da carruagem já imaginava o impacto mesmo estando preparada, quando dizem que passa um filme na nossa cabeça é muito real, e passou a minha vida toda naquele momento em que eu recebi o resultado da biópsia, um resumo da vida pelos meus olhos enquanto eu estava sentada no carro acompanhada da minha mãe e irmão”.
O tratamento de câncer costuma ser bem invasivo, ela conta que caso precise passar por todas as fases, passará por todas, se preciso for para matar a doença”, brinca.
Solemara deixa uma reflexão. “O câncer é uma roleta russa, alguém me diz como é que previne câncer, agora o que é fundamental é o diagnóstico precoce, muitas vezes, eu não sei se vou falar muita besteira, mas os médicos acabam por pecar em questão do diagnóstico precoce, viu um nódulo, viu um sangramento muita das vezes não investiga mais afundo, solicitar uma biópsia, no meu caso, eu não culpo minha médica, mas eu fico pensando e se eu não resolvo investigar”
Auxiliadora Ribeiro Alves
Há 11 anos atrás diagnosticada com câncer de mama, a dona de casa Auxiliadora Ribeiro Alves, 58 anos, conta sobre os primeiros sintomas antes de descobrir sobre o câncer, um processo silencioso que lhe pegou de surpresa e onde foi acolhida já na fase final do seu tratamento.
“De início eu não senti nenhum nódulo na mama, senti um inchaço onde minha mama ficou muito inchada e dura e eu fui na primeira consulta em um consultório particular. Logo no início o médico praticamente já me deu o diagnóstico, só faltava confirmar com o exame de biópsia. Fiz o exame, deu positivo e logo em seguida eu operei para a retirada da mama (mastectomia). Foi um processo que eu posso considerar rápido. Após a operação eu parti para as sessões de radioterapia e logo em seguida a quimioterapia”, destaca Auxiliadora.
O Lar das Marias oferece abrigo a mulheres que estão em fase de tratamento contra o câncer, a casa abriga 50 mulheres e suas acompanhantes vindas do interior do Amazonas e de outros estados da região, oferecendo acolhimento, um lar gratuito e humanizado, o acolhimento nessa instituição muita das vezes é melhor do que o tratamento familiar.
“O lar das Marias foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida esse ano, eu não conhecia e nunca tinha ouvido falar uma amiga minha que me apresentou pois ela também fez o tratamento contra a doença, e eu falei a dificuldade que estava de “moradia e apesar de ser 11 anos de luta, não é todo mundo que nos aceita, não é todo mundo quer nos ajudar é muita humilhação e então minha amiga me apresentou o lar das marias porque eu estava precisando de um local para morar e ela me passou endereço telefone e no dia 15 de março eu operei eu vim para cá, e só tenho a agradecer por essa oportunidade”
Auxiliadora demonstra muita alegria quando fala do estágio da doença, são dias de alegria e de luta a biopsia deu negativa, sem possíveis crescimentos futuros de células cancerígenas e eu estou sarada e curada.
“A minha família se resume em três pessoas, eu (Auxiliadora), minha filha e minha irmã. O médico me informou que se eu quiser bater o sino eu já posso bater e é tudo que eu sonho em fazer, mas eu posso voltar daqui a seis meses. Bater o sino é bom, mas ter certeza que está curada não tem explicação, eu quero ter um resultado positivo que não tenho nada, pois não vale a pena bater o sino e daqui a seis meses voltar e ter outro diagnóstico ou ter dúvidas”, finaliza.