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Considerada uma das chaves para o desenvolvimento sustentável e econômico, a biodiversidade amazônica compreende uma diversificação de fauna e flora com alto grau de endemismo O Brasil detém 60% do bioma amazônico, o que deve ser visto como um ativo econômico com muitas oportunidades de negócios e, com isso, a bioeconomia tem emergido como uma solução para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

No entanto, para que o país se torne uma potência em bioeconomia, é preciso de investimento, conhecimento e estratégia. A discussão sobre o tema levanta, entre outros aspectos, as principais ameaças e oportunidades da conservação da floresta amazônica. Nesse momento, entra em pauta o caminho para o desenvolvimento socioeconômico sustentável, que esbarra em assuntos polêmicos como o combate ao desmatamento ilegal e a resolução das questões fundiárias.

A concepção de economia verde foi desenvolvida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em 2008 e é um modelo de economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica. De acordo com a economista Denise Kassama, quando se fala em economia verde se fala na busca de um desenvolvimento e prática econômica com base na utilização eficiente dos recursos naturais para satisfazer as necessidades humanas em equilíbrio com a preservação ambiental.

“Apesar de ser muito falado sobre o desenvolvimento sustentável ele não tem, por exemplo, como principal indicador de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mas sim a pressão dos índices de preservação em relação ao crescimento econômico. O objetivo é a promoção da economia com base em um crescimento pleno e exato que, de modo a alcançar o bem-estar da sociedade, está centrada na questão de reduzir os riscos ambientais e poder conservar o meio ambiente. Isso é muito importante, acho que cada vez mais o mundo está discutindo essa questão do desenvolvimento e da economia sustentável por conta realmente dos problemas ambientais que o mundo tem passado. A relevância de adotar esse modelo é você conseguir preservar o meio ambiente. É algo possível, mas é preciso aliar a economia e seus processos tem que se reinventar em função da sustentabilidade”, analisou.

As três principais características, ou três pilares da economia verde são: baixa emissão de carbono, eficiência no uso de recursos e busca pela inclusão social. Uma alternativa que auxilia os países que possuem metas de redução da emissão de gases poluentes é o crédito de carbono, que tem como o objetivo principal de reduzir a emissão dos gases do efeito estufa no planeta para combater as mudanças climáticas. Nessa metodologia, um crédito de carbono é gerado a cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida.

“Essa questão dos créditos de carbono ainda não tem uma regulamentação muito clara, mas com certeza vai ajudar muito a economia sustentável. Principalmente no interior, o camarada que mora lá e que tem terras, pode protege-las, teoricamente, com a venda do crédito de carbono relativo às terras e receber por isso”, explicou a economista.

De acordo com o superintendente de Inovação & Desenvolvimento Institucional na Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Victor Salviati, o mecanismo financeiro do crédito de carbono é transicional, ou seja, ele faz parte dessa transição para uma economia de baixo carbono, economia verde ou economia sustentável. Com base nisso, a Fundação atua por meio de um o mecanismo chamado Redução de Emissão por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD).

“Quando eu tenho projetos que geram crédito de carbono, eu reinvisto os valores de crédito de carbono para que eu continue tendo aquela atividade de baixo impacto e de baixa emissão. Por meio do mecanismo onde a gente reduz ou evita um desmatamento, que estava sendo projetado por diversas razões, seja por aumento da população, construção ou pavimentação de estradas, garimpo e qualquer atividade legal. A partir disso, a gente implementa atividades relacionadas a governança ambiental, a ampliação e fomento a bioeconomia, fazendo com que aquele desmatamento não ocorra. Esse desmatamento evitado vira esse crédito e existe um mecanismo financeiro que converte este crédito em recursos. A FAS reinveste integralmente esses recursos em atividades de governança ambiental, empoderamento e bioeconomia, gerando mais reduções de emissão e mais créditos, até que a economia de baixo carbono sejam mais forte e mais rentável que as economias sujas como garimpo, madeira ilegal e por aí vai”, comentou.

Para Victor Salviati, uma economia sustentável tem que ser ambiente e mentalmente correta, socialmente justa e economicamente viável. Ainda conforme o titular, a importância de se aplicar esses conceitos da economia verde é sustentável na economia local, regional e global de atualmente e também influencia na questão de sobrevivência da própria economia.

“A gente não vai conseguir mais produzir alimentos, não vai conseguir ter uma agricultura abrangente se a gente não tiver água de quem produz água é a floresta. A gente não vai conseguir mais produzir alimentos bastante consumidos aqui na região amazônica como mandioca, açaí e pescados se a gente não preservar a cultura desses povos da floresta, seja eles indígenas ou populações tradicionais. A importância de se manter e implementar este conceito é basicamente a nossa sobrevivência e os benefícios são a gente ter mais capacidade de aumentar a economia”, pontuou.

Victor Salviati aponta ainda que, a partir do momento que essa metodologia é considerada uma economia de baixo impacto é possível adotá-la, mas ressalta a dificuldade em ter uma economia com zero emissão de carbono, visto que toda atividade humana prevê uma emissão desse elemento químico. Além disso, também reforça ainda que é preciso canalizar esforços privados e públicos por meio de políticas públicas para que haja o mínimo impacto

“A gente não consegue, por exemplo, diminuir ou zerar as emissões de viagem de avião porque ainda não tem o avião solar comercial, pronto, muito menos temos carros 100% híbridos disponíveis a preço acessível. Então, esse tripé tem que andar em comum acordo. É muito importante salientar que o um objetivo principal da economia verde e sustentável é, de fato, a gente manter essa economia viva de novo se a gente não tem matéria-prima, outros materiais e serviços providos pela natureza, a economia vai se degradando até que a gente não vai conseguir produzir. Existem estudos sobre isso. Tem um pesquisador chamado Jared Diamond que escreveu um livro sobre o colapso das grandes civilizações e todas colapsaram por conta da má gestão dos recursos naturais”, expôs.

A economista e educadora financeira Roberta Veras frisa ainda que a importância da economia sustentável envolve o reconhecimento de limites. Conforme a especialista, a economia verde é um caminho para que seja possível alcançar essa sustentabilidade que é um objetivo que você tem tanto no quanto no curto, quanto no longo prazo

“Uma hora tudo pode acabar, então a terra ela tem que ser cuidada, tem que ser bem cuidada e monitorada. É preciso cuidar da natureza e do meio ambiente pois os seus recursos são finitos. Isso tem muito a ver com a nossa maneira de agir e de pensar. Nesse cenário global, que é muito preocupante, essa economia sustentável vem como uma mudança cultural e da sociedade”, finalizou.