O uso de máscara em escolas no estado de São Paulo pode deixar de ser obrigatório. O governo João Doria (PSDB) estuda flexibilizar a medida. No entanto, a taxa de vacinação com duas doses na população de 5 a 11 anos continua baixa, em torno de 19%, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde.
A reportagem ouviu especialistas para entender se essa liberação seria adequada levando em consideração o contexto atual da pandemia.
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Qual a importância do uso de máscara em crianças?
Estudos já mostraram que máscaras são essenciais para barrar a transmissão do coronavírus tanto em ambientes abertos quanto em fechados, e isso não é diferente para os pequenos.
“O uso da máscara sempre traz proteção tanto contra a infecção quanto para a transmissão”, afirma Leonardo Bastos, pesquisador em modelagem de epidemias e membro do Observatório Covid-19 BR.
Para as crianças, no entanto, existe uma certa confusão porque elas tendem a ser menos infectadas, além de terem quadros mais leves comparados aos adultos. Mesmo assim, isso não indica que o equipamento seja dispensável para os pequenos, já que seria bom “tanto para evitar pegar quanto para transmitir”, reforça Bastos.
Alguns estados do país já liberaram o uso de máscaras em ambientes externos. No caso de lugares internos, como salas de aula, é possível tomar essa medida?
O maior problema de não exigir o uso de máscara em lugares fechados é que esses são os locais mais propensos para ocorrer infecções, principalmente com o surgimento de novas variantes mais transmissíveis, caso da ômicron, lembra Cristina Bonorino, imunologista e professora da UFCSPA (Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre).
Segundo ela, existem poucas situações em que há certo nível de segurança ao não utilizar o equipamento, como em um local aberto, no qual você se encontra sozinho ou com poucas pessoas, distantes umas das outras.
Como nos ambientes fechados os riscos são maiores, a retirada da obrigatoriedade das máscaras nas escolas “é um risco desnecessário”, afirma a imunologista.
Por outro lado, André Ricardo da Silva, infectologista pediátrico e professor da faculdade de medicina da UFF (Universidade Federal Fluminense), ressalta que é necessário observar com atenção os índices atuais de circulação do vírus e hospitalizações a fim de tomar a decisão de liberar ou não a máscara.
Para ele, atualmente já seria possível retirar a obrigação das máscaras para as crianças em ambiente escolar justamente por ter sido registrada uma diminuição no número de casos e internações quando comparadas a momentos anteriores da pandemia.
“Medidas assim não são tomadas do nada, elas são feitas a partir de estudos de observação da circulação do vírus e de dados da internação para você ter a garantia de que a disseminação do vírus está baixa”, diz.
Em último caso, é possível tomar uma decisão ambígua: deixar a obrigatoriedade das máscaras em espaços fechados da escola, como salas de aula, e ter alguma flexibilização nos ambientes abertos.
“Quando é em ambiente externo, eu não vejo problema que a criança possa não usar a máscara, isso pode ser opcional. Mas o espaço interno já complica. Nesses casos, a máscara deveria ser fortemente recomendada”, afirma Bastos.
A vacinação de crianças a partir dos cinco anos de idade começou em janeiro deste ano e por isso a taxa de imunização ainda está baixa. No estado de São Paulo, em torno de 19% estão com o esquema de duas doses nesse público.
Para reforçar a necessidade da vacinação até em quem já teve a doença, Bonorino cita uma pesquisa de que participou, na qual foi analisada a resposta a novas variantes do Sars-CoV-2 em pequenos que tinham sido infectados anteriormente pelo coronavírus.
“A gente viu que nessas crianças que não foram imunizadas não houve neutralização de variantes novas [gama e delta]. Elas estão completamente à mercê das novas cepas e estão se reinfectando”, afirma.
Nessa situação, a imunologista reitera que o uso de máscara é justamente necessário para protegê-los, já que as crianças ainda não tiveram acesso pleno ao nível de proteção adequado por meio dos imunizantes.
Essa visão é reiterada por Bastos. “O fato de a cobertura vacinal para crianças não ser alta o suficiente faz com que o uso de máscara em ambientes fechados deva ser mantido, como uma sala de aula.”
Ele indica que, no futuro, quando já houver uma maior porcentagem de crianças vacinadas, é possível reavaliar a liberação do equipamento nos colégios.
As crianças têm menor consciência da importância de utilizar máscara?
Por serem pequenos, pode-se acreditar que o uso de máscaras nas crianças é mais difícil de acontecer. No entanto, Bonorino ressalta que é possível tornar a utilização algo lúdico e mais agradável.
Ela cita, por exemplo, a utilização de imagens de super-herói ou de desenhos animados, como já vem sendo feito em alguns postos de vacinação. “Fazer uma coisa lúdica é uma forma de trazer [o uso de máscaras] para as crianças”, diz.
Mesmo assim, é importante considerar que o uso não adequado do equipamento pode não trazer os benefícios esperados. Silva afirma justamente esse ponto: para o infectologista, seria muito improvável ter “uma situação de disciplina” no uso de máscaras nos pequenos, fazendo com que, sem orientação, “acabe tendo o mesmo efeito de não usar”.
Seria o caso de deixar a decisão da obrigatoriedade para cada instituição de ensino?
O caminho de deixar a escolha para a escola é criticada por Bonorino. Ela indica que isso é um papel do poder público e um dos problemas que foi visto durante a pandemia foi a falta de consistência nas medidas tomadas.
“Desde o início da pandemia, as pessoas têm sofrido pela falta de orientação consistente do poder público que é quem deveria estar administrando essa situação, mas foi feito exatamente o oposto: cada um resolveu fazer uma coisa. Não é assim, essa é uma situação que afeta todo mundo e se a gente não trabalhar [em conjunto], nós não saímos disso”, opina.
Para Bastos, é importante ao menos que o poder público tome medidas parecidas no caso da rede pública de ensino –caso isso não aconteça, pode gerar certa confusão, como um exemplo hipotético em que um município continue com a obrigatoriedade nas escolas, mas a gestão estadual não o faça.
Fonte: Noticia ao Minuto