Foto: Francisco Araújo

Natural do município de Nhamundá, o candidato ao cargo de deputado estadual pelo partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Sandro André – mais conhecido como Enfermeiro Sandro, foi o entrevistado da última sexta-feira (19) do programa Amazônia Press Política, apresentado pelos jornalistas Francisco Araújo e Fernanda Lopes. Durante a entrevista, Enfermeiro Sandro compartilhou um pouco da sua história, e trajetória em prol da classe da enfermagem e da população amazonense.

Com mais de 20 anos na assistência a saúde, foi eleito em 2017 como o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren-AM) e reeleito em 2020 para um segundo mandato, no qual está licenciado para concorrer ao pleito de 2022. De início, Enfermeiro Sandro relembrou a sua realidade enquanto jovem, no qual saiu do interior na busca por oportunidades na capital amazonense. Para o candidato, esse é um dos principais pontos que o incentiva a tentar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam).

“Na década de 90 o meu município Humaitá não tinha uma Universidade e pensando em coisas melhores tivemos que vir para a capital amazonense e deixar o nosso interior. Como um bom interiorano morando a mais de 20 anos em Manaus, ainda carrego as mesmas qualidades daquele adolescente sonhador, como a coragem, determinação e com muita vontade de mudança e de trabalhar para construir um Amazonas melhor para o nosso povo, essa é a minha principal vontade”, destacou.

“Depois que fiz a graduação em enfermagem, passei em dois bons concursos e transitei por todas as áreas da enfermagem, percebi a importância da nossa categoria e como tem muitas coisas a serem melhoradas. Somos a maior categoria da saúde hoje no Brasil, no país estamos caminhando para os 2,6 milhões de profissionais e no Amazonas já estamos chegando aos 58 mil. Somos gigantescos e a nossa importância é extrema, porém temos muito a conquistar ainda. Nós crescemos marginalizados na política e por conta disso nós pagamos duras penas. A nossa carga de trabalho é muito elevada, os estabelecimentos de saúde não oferecem condições para que os profissionais devolvam para a sociedade uma assistência segura e de qualidade, vivemos em ambientes totalmente inseguros, nós não temos locais dignos para descanso e chega a ser vergonhoso os locais insalubres que as equipes descansam. Isso acontece na capital e nos interiores. Nós temos uma determinação enorme de chamar a atenção dos gestores públicos, visto que sem saúde não somos nada. A saúde é essencial para a nossa população”, pontuou.

Foto: Francisco Araújo

A pandemia da Covid-19 trouxe impactos negativos para todas as áreas e, principalmente, na saúde. Desempenhando um papel de destaque, os enfermeiros formaram o maior grupo de atuantes na saúde no Brasil. O trabalho dos enfermeiros que é essencial no sistema de saúde em qualquer situação, na pandemia do novo Coronavírus se tornou ainda mais relevante e necessária. Como atuante na presidência do Coren-AM, Enfermeiro Sandro destacou um pouco da sua vivência durante esse período conturbado e doloroso.

“Antes da pandemia chegar em alguns Estados e no Amazonas, eu e vários outros presidentes cos Conselhos – juntamente com o presidente do Conselho Federal – nos dirigimos ao Ministério da Saúde e apresentamos um documento que mostrava o que as equipes de enfermagem iriam precisar para enfrentar a pandemia: a capacitação aos profissionais, equipamento de proteção individual em quantidade e qualidade adequada para os nossos profissionais e equipamentos para os estabelecimentos de saúde. Ao retornarmos de Brasília, fizemos as mesmas coisas com os gestores do nosso Estado e os posicionamos daquilo que precisaríamos para estar na linha de frente. A pandemia chegou, pegou todo mundo de surpresa, a humanidade toda se recolheu por ver muitas mortes e a enfermagem foi para a linha de frente mesmo sem equipamentos de qualidade. Nós fomos a voz da saúde no Estado do Amazonas e o Coren-AM esteve lado a lado com os nossos profissionais, que muitas vezes se desesperaram vendo os amigos morrerem e levando contaminação para as suas famílias. Nós realmente não nos recolhemos e foi aí que a humanidade passou a observar a importância da enfermagem. A pandemia serviu para tirar a nossa classe da invisibilidade social”, ressaltou.

Durante a pandemia de Covid-19, enfermeiros estão expostos a um risco maior de infecção. Além da exposição direta à contaminação pelo vírus, também sofrem os impactos psicossociais decorrentes desse contexto. De acordo um levantamento lançado pelo Coren-SP em setembro de 2021, 62,1% dos profissionais de enfermagem afirmaram ter tido algum tipo de sofrimento mental durante a pandemia, por estarem expostos aos impactos de um cenário pandêmico, em função da maior demanda de trabalho, jornadas de trabalho mais longas, sofrimento psíquico, fadiga, estigmatização, violências, preocupações, estresse e outros fatores que afetam a saúde mental.

“A enfermagem é profissão que já sofre há muito tempo com o descaso dos nossos gestores. A nossa profissão é muito explorada e já carregava consigo essas sequelas físicas e mentais. Quando veio a pandemia, isso foi elevado a milésima potência e agora que estamos vendo as sequelas emocionais. Temos inúmeros colegas com a situação da síndrome do pânico, ansiedade, depressão e, infelizmente, casos de suicídios. Nós, da frente do Conselho de Enfermagem, fizemos parcerias com a Cruz Vermelha e com o Conselho de Psicologia, para levarmos algo aos nossos profissionais dentro desse ambiente de trabalho: um momento de descontração, de conversa com psicólogos e tudo que está ao nosso alcance. Mas não é fácil e entendo que o país como um todo precisa fazer políticas públicas voltadas para esses profissionais, pois vai levar muito tempo para que consigam se recuperar das sequelas físicas e emocionais”, disse.

Ao falar sobre a realidade da saúde pública no Interior do Amazonas, visto que a falta de médicos especialistas, carência de medicamentos básicos, equipamentos quebrados e descaso das autoridades, o candidato falou um pouco sobre os seus planos para essa parcela da população.

“O que nós temos observado ao longo desses cinco anos a frente do Conselho e viajando muito pelo Estado, é que a nossa saúde é muito precária nos nossos interiores e muitas vezes os interioranos não conseguem resolver situações simples como a situação de um Raio X ou um exame de sangue. Aí essa pessoa tem que se deslocar para a capital, muitas vezes fazendo empréstimos e pedindo dos familiares. O nosso interior é muito carente e não tem médicos especialistas, não tem pediatra, cardiologista, urologista e isso mostra como o nosso povo sofre. Isso me motiva a cada vez mais dizer que é necessário sim nos envolvermos na política, apesar de ser um campo minado em todo o mundo. Não é fácil, pois a partir do momento em que você diz que é candidato, muitos não te olham com bons olhos. Mas, se assim não fizermos, não mudaremos o nosso Estado e a realidade dos nossos municípios”, comentou.

À frente da luta pelo piso salarial da enfermagem no Amazonas, Enfermeiro Sandro comentou ainda sobre a sanção do PL 2564/2020, que estabelece o piso salarial da enfermagem brasileira. O candidato a deputado estadual esteve a frente de diversas articulações com representantes do Amazonas no Senado e Câmara Federal no último ano para que o piso salarial da enfermagem ganhasse força e pudesse ser aprovado pelo Congresso Nacional. Além disso, também mobilizou a categoria para que pudessem cobrar os parlamentares através de campanhas nas redes sociais e de mobilizações nas ruas da capital e em Brasília.

“A situação dos baixos salários na enfermagem é o reflexo da ausência da classe na política. Sempre cito exemplos de classes que vejo evoluir, como os policiais, professores, dos animais, por terem no mínimo um(a) deputado (a) que os representa e isso não acontece com a enfermagem. Essa situação dos baixos salários é justamente por isso. A enfermagem só enfrenta essas dificuldades e desafios por não ter representantes na política partidária. Já entreguei para vereadores um pedido para que a enfermagem trabalhe 30h durante a semana e esse pedido foi arquivado, entreguei para vários deputados um pedido para que a classe tivesse um piso salarial, locais dignos de descanso e outras coisas, isso tudo foi arquivado. Quem está lá hoje não está preocupado com a enfermagem amazonense”, finalizou

Confira a entrevista completa: