O empresário Adauto Lucio de Mesquita confirmou em depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos nesta quinta-feira (4) que financiou a campanha de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 e o acampamento golpista em frente ao Quartel General do Exército, de onde foi planejada a tentativa de golpe de 8 de janeiro. O depoente negou que tenha participado da contratação do trio elétrico para o estacionamento golpista, mas foi desmentido pelo presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), que apresentou vídeos do empresário acompanhando o trajeto do automóvel.
“O senhor participou diretamente da contratação e da arrecadação para o pagamento do trio. Tem denúncia de que o senhor que fez essa arrecadação, fez grupo de WhatsApp”, afirmou Vigilante, após apresentar vídeos do empresário bolsonarista em três momentos diferentes acompanhando a ida do trio elétrico denominado como “coyote” até a chegada em frente ao acampamento golpista. O depoente negou que tenha pagado pelo trio, mas reconheceu que ajudou a negociar o valor. “Eu sei pechinchar, mas não paguei um centavo do coyote”
“Se o senhor não contratou porque acompanhou e foi esperar o coyote [trio elétrico] na praça em frente ao acampamento?”, indagou Chico Vigilante. “Eu não fui esperar lá não. Eu estava a caminho e sai gravando nesse momento de bobeira que a gente faz. Empolgação”, disse o empresário bolsonarista.
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Adauto Mesquita reconheceu apenas os valores doados por meio de transferência bancária, durante os dias que foi ao acampamento golpista. Segundo ele foram R$ 1.210 doados por PIX para “ajudar” pessoas com a estrutura para o que chamou de “manifestação”. Ele disse que foi apenas três ou quatro vezes no acampamento e admitiu que lá haviam pessoas pedindo intervenção militar, mas minimizou: “tinha uns malucos, que tem em qualquer lugar”.
Sobre o apoio financeiro a campanha de Bolsonaro o empresário confirmou a doação de R$ 3 mil reais que teriam sido declarados. No entanto, o presidente da CPI lembrou que Adauto é indicado como um dos empresários que pagou pela instalação de outdoors usando a Copa do Mundo para fazer campanha velada para o ex-presidente da república, utilizando inclusive o slogan do candidato derrotado nas urnas. O depoente também negou tal prática.
Presidente de CPI mostra vídeos de empresário acompanhando trio elétrico até acampamento / Gabinet De. Chico Vigilante
Já o deputado Fábio Félix (PSOL) indagou sobre a ida do empresário até a Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro e lembrou que no horário que o depoente afirmou que chegou no local (por voltas das 17 horas) já estava acontecendo a invasão e depredação dos prédios públicos. “O senhor não percebeu que tinha bomba? Não tinha cheiro de gás? O senhor não viu o povo depredando nada?”, questionou Félix.
“Quando eu cheguei já tinham quebrado. Num tinha mais ninguém quebrando nada”, afirmou o depoente, acrescentando que chegou até as proximidades da rampas do Congresso viu o que estava acontecendo e foi embora.
“O senhor não viu nos grupos que já estavam depredando tudo? Como o senhor se interessou em sair de Águas Claras para ir para a Esplanada no meio de uma arruaça como essa?”, indagou Fábio Félix, que ouviu do depoente: “Eu pensei que era manifestação pacífica”.
O relator do CPI, deputado Hermeto (MDB) também questionou o empresário sobre sua participação nos atos do dia 8 janeiro e do dia 12 de dezembro, mas o depoente disse que não participou diretamente da organização e financiamento de ambos os eventos. Ele também foi questionado por esses deputados sobre o apoio de sua empresa ao acampamento, mas ele refutou, apesar das denúncias de que suas empresas forneceram alimentos e demais equipamentos aos golpistas. Adauto e Joveci Xavier Andrade, que já foi ouvido pela CPI são donos da rede Melhor Atacadista. Ambos são investigados pela polícia.
Próximos depoimentos
Antes do depoimento do empresário bolsonarista, a CPI aprovou por unanimidade a convocação do comandante-geral da PMDF, coronel Klepter Rosa Gonçalves. O requerimento é de autoria do relator Hermeto.
Veja abaixo as datas e depoentes a serem ouvidos até junho:
11/05 – Coronel Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)
18/05 – General Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP)
25/05 – José Acácio Serere Xavante, pastor Missionário Evangélico e líder indígena xavante de Terra Indígena Parabubure
01/06 – Genera Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI)
07/06 – Coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, ex-comandante do 1º Comando de Policiamento Regional (1º CPR) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)
17/06 – General Marco Edson Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI)
22/06 – Alan Diego dos Santos, suspeito de planejar ataque à bomba no Aeroporto Internacional de Brasília