Do ano passado para cá, as aves monitoradas pelo Projeto Arara Azul no Pantanal brasileiro puseram 221 ovos na estação reprodutiva. Nasceram 115 filhotes e 83 voaram. Da década de 1990 em diante, a quantidade de filhotes que cresceram aumentou de 1,5 mil para 5 mil. Já nos últimos 12 anos, foram instalados 270 ninhos artificiais e hoje a quantidade de ninhos monitorados, entre naturais e artificiais, é de 9.643. Estes são apenas alguns números do pioneiro e bem-sucedido programa de conservação da Fundação Toyota do Brasil.
O Projeto Arara Azul está conectado a um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) das Nações Unidas, assim como todos os outros programas apoiados pela fundação. Neste caso, é o ODS 15, de proteção e restauração dos ecossistemas terrestres. A fundação completou 13 anos, mas o vínculo com o Pantanal começou no final dos anos 1980.
“Inicialmente, o apoio era através da Toyota Brasil. Como instituição independente, a fundação foi criada em 2009”, conta Otacílio do Nascimento, diretor da Fundação Toyota do Brasil e gerente de Comunicação Corporativa da Toyota Brasil. “Fomos mudando a forma de contribuir com o projeto, conforme percebemos o quanto ele é relevante para a conservação de um bioma extremamente importante para o país. Estivemos no Pantanal para conhecer tudo o que já era feito. Em 2014, a arara-azul foi retirada da lista crítica de animais em extinção. Continuamos fazendo um trabalho contínuo, intenso, para não haver retrocesso.”
O Instituto Arara Azul foi criado e é comandado pela bióloga Neiva Guedes, pesquisadora reconhecida internacionalmente e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A Fundação Toyota do Brasil apoiou a elaboração de um plano de sustentabilidade e a criação de uma sede em Campo Grande (MS), que funciona também como base para receber visitantes, muitos deles estrangeiros. Cinco veículos off-road Hilux estão emprestados ao instituto em comodato. Os carros são usados para oferecer turismo de observação no Refúgio Ecológico Caiman, no Mato Grosso do Sul, o que colabora para a captação de recursos para o programa. O ecoturismo foi prejudicado nos últimos dois anos por conta das queimadas no Pantanal. Mas o Projeto Arara Azul persiste, como conta Otacílio:
“Fazemos captação de recursos, porque não podemos ter um programa que dependa 100% financeiramente da fundação. Não é saudável. E não queremos ser apenas um parceiro financeiro. Parceria não é somente dinheiro, pode ser equipamento, mídia publicitária etc. Temos produtos que geram renda. Vejo no futuro a fundação apoiando projetos capazes de gerar renda a médio e a longo prazo. Temos como característica gerir de perto os programas que apoiamos para entender o que é preciso fazer em cada momento. Na época dos incêndios, por exemplo, ajudamos com água, em uma parceria com o Instituto SOS Pantanal.”
O Projeto Arara Azul não é o único apoiado pela fundação que promove ações de defesa do meio ambiente brasileiro. Outro programa longevo e bem-sucedido é o da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que abrange 12 municípios nos estados de Pernambuco e Alagoas e está conectado ao ODS 14, voltado para a conservação da vida marinha. Em um modelo de negócio pouco comum no Brasil, uma fundação se juntou a outra, no caso, a SOS Mata Atlântica, e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Mais de mil espécies encalhadas já foram atendidas pelo programa, que promove a conservação para proteger os recifes de corais, as áreas de manguezais e o peixe-boi-marinho.
“Apoiamos o programa desde 2011. O objetivo é promover o turismo sustentável, que deve ser feito de forma responsável”, destaca o diretor da fundação. “O peixe-boi-marinho é emblemático. É uma espécie dócil e vulnerável. Elaboramos a política de visitação, convidamos a comunidade a participar, a criar suvenires que geram renda. As pessoas hoje entendem que não pode passar a mão no mamífero. Também avançamos em pesquisas”.
O apoio financeiro da Fundação Toyota do Brasil a APA Costa dos Corais começou em 2011, com R$ 1 milhão por ano, durante dez anos. Metade deste valor ia para as operações, principalmente ordenação do turismo; a outra, metade, para um fundo de investimento. A partir deste ano, o projeto começou a trabalhar com o dinheiro do fundo e os rendimentos:
“Hoje a fundação cuida da gestão e do financiamento; a Mata Atlântica é responsável pelo pessoal técnico, e o ICMBio fiscaliza. Encerramos um ciclo de dez anos no qual tivemos vários bons resultados, e agora estamos iniciando uma nova fase, mais madura”.
Da água salgada para a água doce
Mais recentemente, em 2015, com a crise hídrica do Sistema Cantareira, em São Paulo, a fundação decidiu contribuir para a conservação de água doce. Foi o ponto de partida para o projeto Águas da Mantiqueira, implementado dois anos depois. Este é um programa ligado ao ODS 6, que visa a garantir água potável e saneamento para todos, como conta Otacílio:
“Há uma abundância de nascentes na Serra da Mantiqueira. É uma região rica ambientalmente, que abastece a Grande São Paulo. Apoiamos o mapeamento das bacias hidrográficas em Santo Antônio do Pinhal e Sapucaí-Mirim, em São Paulo, e Gonçalves, em Minas Gerais. O diagnóstico ajuda a entender o comportamento das nascentes. A água precisa ter curso, e espécies exóticas têm que ser removidas para restaurar o equilíbrio”.
Depois de cinco anos, 2.300km de cursos d’água, 73 bacias inventariadas e 151 linhas de pesquisa apoiadas, o projeto, criado em parceria com a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio (Fundepag), está em sua fase final, em Gonçalves. A fundação está convidando parceiros para participarem do reflorestamento das margens dos rios.
Outro programa que Otacílio ressalta é o ReTornar, que teve início em 2011, dentro das fábricas da Toyota Brasil em São Paulo. O objetivo inicial era reduzir o desperdício dos uniformes, transformando os resíduos em outros produtos. O projeto foi conduzido por mulheres em situação de vulnerabilidade social, e valoriza a economia circular, estando conectado ao ODS 12, que promove o consumo e a produção sustentáveis. Tem como temas transversais os ODS 1, de erradicação da pobreza; 5, de igualdade de gênero; 8, de trabalho decente e crescimento econômico, e 11, de cidades e comunidades sustentáveis.
“Contratamos uma consultoria de design, criamos um e-commerce na fundação e hoje aproveitamos também resíduos dos materiais usados para confeccionar airbags e cintos de segurança. Os produtos são produzidos por duas cooperativas de costureiras no estado de São Paulo, uma em Indaiatuba e outra em Sorocaba, onde estamos localizados. E estimulamos nossos fornecedores e parceiros a comprarem os produtos”, conta Otacílio.
Como impacto positivo do upcycling e do gerenciamento de recursos, mais de 17 toneladas de resíduos foram reutilizadas, 81 mil produtos foram produzidos e 1.500 pessoas impactadas. Hoje o portfólio da ReTornar tem mais de 30 opções feitas com resíduos das fábricas.
Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou por mais de 25 anos na redação do jornal O Globo nas áreas de Comportamento, Cultura, Educação e Turismo. Editou a revista e o site Boa Viagem O Globo por mais de uma década. Anda pelo Brasil e pelo mundo em busca de boas histórias desde sempre. Especializada em Turismo, tem vários prêmios no setor e é colunista do portal Panrotas. Desde 2015 escreve como freelance para diversas publicações, entre elas o #Colabora e O Globo. É carioca e gosta de dias nublados. Ama viajar. Está no Instagram em @CarlaLencastre