Foto divulgação: amazoniapress

Economistas ouvidos nesta terça-feira (28) pelo Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados (Cedes) questionaram vários pontos da política econômica do governo.

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Daniel Conceição disse que o Banco Central pode ter errado ao reduzir muito a taxa de juros em 2020 para estimular a economia em um cenário pandêmico. Ele entende que o dinheiro acabou migrando para a especulação com o dólar.

“O problema não era que a Selic estava muito elevada e isso tornava o crédito muito caro. Naquele momento, as empresas estavam ameaçadas de falência pelo colapso das suas receitas. Não adianta reduzir o custo do crédito se empresas não têm mais para quem vender”, afirmou.  Para o economista, o que resolveu o problema das empresas foi o governo “estatizar o risco do crédito” com programas como o Pronampe.

O debate no Cedes sobre “Câmbio e Macroeconomia para o Desenvolvimento” faz parte de um estudo maior sobre “Retomada Econômica e Geração de Emprego e Renda no Pós-Pandemia”. Os relatores são os deputados Da Vitória (Cidadania-ES) e Francisco Jr. (PSD-GO).

Daniel Conceição disse que, no momento, o risco de inflação inercial é grande, ou seja, a volta da indexação de preços casada com as novas expectativas relacionadas ao aumento das taxas de juros. O economista explicou que, no passado recente, o ganho dos exportadores brasileiros também não trouxe benefícios para a taxa de câmbio porque eles preferiram manter o dinheiro lá fora, justamente porque os juros brasileiros estavam baixos.

Na avaliação do economista, os gastos estatais bilionários feitos durante a pandemia mostram que o governo não tem dificuldade em se financiar porque emite a moeda que gasta. Ele sugere que este gasto continue e se volte para tornar o País menos dependente do exterior, com despesas na construção de um complexo industrial de saúde e investimentos em educação e infraestrutura.

“O governo brasileiro não é como uma dona de casa, que precisa obter dinheiro para depois gastar. O governo é o oposto. Ele gasta e com isso ele coloca o dinheiro na economia que todos os outros agentes passam a usar”, afirmou.

O professor da Unicamp Pedro Rossi defendeu planos governamentais fortes, como os anunciados pela Europa e pelos Estados Unidos, que reforcem o papel do Estado no combate às desigualdades e no desenvolvimento sustentável, entre outras políticas.

Ele acredita que o Brasil está na “contramão do debate internacional” ao promover reformas que reduzem o papel do Estado na economia. O professor disse que o resultado desta política é o País ter a quinta moeda mais volátil do mundo, que sofre variações acima de 3% todos os meses e interfere nos preços da economia.

Rossi criticou o projeto de lei (PL 5387/19) do governo que desregulamenta mais o mercado cambial ao permitir crédito em reais para não residentes e contas em dólar para residentes. Segundo ele, isso pode dolarizar a economia.

“Do ponto de vista individual pode ser interessante poder colocar seu dinheiro em dólar. Mas do ponto de vista macroeconômico não é e a experiência internacional mostra isso. Quem já foi à Argentina sabe como os argentinos pensam em dólar, têm o dólar na sua cultura. No limite chega ao caso do Equador, onde o dólar é a própria moeda”, destacou.  Com a dolarização, continuou o professor, “a gente perde a autonomia de política fiscal, de política monetária e do próprio processo de desenvolvimento”.

Pedro Rossi disse que o mercado cambial deveria ser mais controlado porque há uma grande participação de atores que estão mais interessados em especular no mercado de derivativos. Ao enviar o projeto para o Congresso, o governo justificou as mudanças pela necessidade de melhorar o ambiente de negócios, desenvolver o mercado de capitais, e reduzir a burocracia para os exportadores.

O deputado Francisco Jr. também manifestou preocupação com a questão inflacionária. “Existe o medo da inflação galopante que a gente viveu nas décadas de 70, 80, que era aquela loucura. Por outro lado, nós precisamos hoje de desenvolvimento e de investimentos, mas também temos que dar a mão para os mais necessitados e fortalecer a política de assistência”, ponderou.

Para a professora Eliane Araújo, da Universidade Estadual de Maringá, a volatilidade cambial tem contribuído para a desindustrialização da economia brasileira. Os economistas afirmaram ainda que a crise econômica de 2008 já havia modificado o consenso de que a desregulamentação é sempre o melhor caminho.

Fonte: Câmara dos Deputados. Foto divulgação: amazoniapress