Quando foi anunciado o início da produção de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, sequência de “Doutor Estranho”, de 2016, o chefão da Marvel Studios, Kevin Feige, afirmou que o filme seria “assustador”. Muitos pensaram que o longa pudesse ser o mais ligado ao terror já feito para a Marvel.
A produção, que estreia nos cinemas brasileiros nessa quinta-feira (5), possui elementos do gênero, mas nunca se aprofunda nesse estilo e prefere mesclar o terror com o estilo heroico-épico que caracteriza os filmes do UCM.
O resultado, embora pouco ousado, é agradável, até mais do que no primeiro episódio do Mestre das Artes Místicas no cinema. É recomendado para os fãs das adaptações de quadrinhos e para quem curte levar alguns sustos na tela grande.
Ambientada após “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa”, a trama mostra que o Doutor Stephen Strange (Benedict Cumberbatch, de “Ataque dos Cães”), depois de mexer com o Multiverso, tenta realinhar a vida, principalmente em relação a Christine Palmer (Rachel McAdams, de “Spotlight”).
Porém, o surgimento de uma ameaça mística em Nova York faz com que Strange volte à ação ao lado de Wong (Benedict Wong), depois que conhece a jovem America Chavez (Xochitl Gomez). Ela vem de outro universo e tem o poder de abrir portais em formato de estrela para viajar pelo Multiverso e outras realidades, o que interessa à maléfica entidade.
Em busca de ajuda para proteger America, o Doutor Estranho vai atrás de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen, de “Godzilla”), que estava num local isolado desde os eventos de “Wandavision”, e tem conhecimentos do Multiverso.
O que Strange não contava é que o problema é bem maior do que pode lidar. Isso faz o mago atravessar dimensões para encontrar o Livro de Ashanti, que pode lhe dar a solução para derrotar esse novo inimigo e impedir que o pior aconteça.
Universos paralelos
O trunfo de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” não está em sua qualidade técnica ou no ótimo elenco escalado, mas no escolhido para comandar a complexa produção: o diretor Sam Raimi.
Ele conquistou o coração dos fãs dos quadrinhos ao levar o Homem-Aranha para o cinema três vezes, na trilogia estrelada por Tobey Maguire, em filmes que são adorados por muitos até hoje.
Mas Raimi se consagrou com suas obras de terror, como os cultuados “Uma Noite Alucinante” ou “Arrasta-me para o Inferno”. Aqui, consegue colocar vários elementos de seu estilo inconfundível, como movimentos inusitados de câmera, sequências de tensão e alguns sustos.
Nada muito ousado, claro, para não assustar os espectadores mais jovens, afinal esse é um filme da Marvel. Mas o suficiente para deixar o longa levemente superior ao filme original, que foi comandado por Scott Derrickson, há seis anos atrás.
Isso sem falar no humor, que aqui não aparece tão forçado e nem tem tantas piadas quanto no primeiro filme, felizmente.
Tanto que o momento mais divertido do filme vai agradar especialmente a quem conhece o trabalho de Raimi além dos longas do Homem-Aranha, graças a uma situação que lembra muito um dos momentos mais emblemáticos dos filmes de terror do cineasta.
O filme mostra como são as diferentes versões dos universos que o protagonista acaba passando, onde descobre a presença de versões diferentes dos heróis da Marvel e alguns deles trazem surpresas que devem deixar o público entusiasmado. A construção desses novos mundos é um dos grandes achados do longa.
É uma pena, no entanto, que o ponto fraco de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” esteja em seu roteiro, assinado por Michael Waldron (da série “Loki”).
O roteiro não dá conta de trabalhar tantas narrativas paralelas e, ao não conseguir conectá-las de maneira inteligente, acaba criando subtramas que não conversam entre si. Elas se tornam episódicas e, em alguns momentos, custam a engrenar.
A obrigatoriedade de estar ligada às tramas de outros filmes e séries como “Wandavision” ou “What if” não permite que a história tenha a sua própria identidade.
Tudo isso deixa o filme no lugar comum em alguns momentos, como algo já visto antes e melhor. Se não fosse por questões como essa, o filme tinha grandes chances de ser bem mais memorável.
Encanto da Feiticeira
À frente do ótimo elenco, Benedict Cumberbatch mais uma vez mostra estar incrivelmente confortável no papel do Mestre das Artes Místicas, além de interpretar suas contrapartes nos outros universos com desenvoltura.
Uma das melhores cenas do filme é quando o herói tem que lidar com sua versão consumida pelas forças do mal.
No entanto, o destaque é mesmo Elizabeth Olsen, como a complicada Wanda Maximoff. A atriz aprofunda as dores que sua Feiticeira Escarlate sentiu ao final de “Wandavision” e se torna uma personagem ainda mais tridimensional. Ela faz o público se encantar e até ter dó de seus atos e decisões, por mais controversos que sejam durante a trama.
A novata Xochitl Gomez cativa como a viajante de universos America Chavez. Tem boas chances de aparecer de novo, não só na Marvel.
Já Benedict Wong, Rachel McAdams (a médica Christine Palmer) e Chiwetel Ejiofor (de “12 anos de Escravidão”) como Mordo, o grande inimigo do Doutor Estranho, voltam a interpretar bem seus personagens.
Com uma boa trilha sonora assinada por Danny Elfman, além de duas cenas que rolam durante os créditos finais, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” cumpre o objetivo de divertir aqueles que adoram montar teorias sobre situações e participações de personagens-surpresa, algo constante nos filmes de super-heróis.
Algumas dúvidas serão respondidas com satisfação e outras, não. Mas isso não vai tirar o prazer de rever o mago criado por Stan Lee e Steve Dikto em ação.
Fonte: G1