A saúde mental tem se tornado uma preocupação crescente em todo o mundo, afetando pessoas de diferentes faixas etárias e contextos sociais. O estresse, a ansiedade e a depressão são apenas algumas das questões que afetam significativamente a qualidade de vida das pessoas. Falar sobre saúde mental hoje tornou-se algo comum, há um tempo, não se ouvia falar sobre esse assunto por ser um tabu para a sociedade.
Estudos em evidência feito pela Docway, empresa especializada em soluções de saúde digital apontam um crescimento nas consultas de psiquiatria e psicologia em 2022 – um salto de 2.852 atendimentos para 35.898 no ano passado, em comparação com o ano anterior. também foi percebido uma elevação de 36,5% nos diagnósticos de pacientes com transtornos de ansiedade.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS),no 1º trimestre de 2022 cerca de 10% da população mundial sofre com transtorno mentais, o que corresponderia, aproximadamente, a 720 milhões de pessoas. O Brasil é o país que lidera o ranking de ansiedade e depressão na América Latina, com quase 19 milhões de pessoas com essas condições.
Em Manaus o cenário não é diferente, como é o caso da Jovem Maria Isadora, 21, autônoma. Que relata ao portal Amazônia Press, como é viver em constantes crises de ansiedade. Isadora está entre os 10% de pessoas que sofrem com transtorno mental, de acordo com os dados acima.
“Descobri que tinha ansiedade aos 19 anos, no dia em que eu estava no trabalho aconteceu uma coisa que não esperava, daí comecei a ter ataque de pânico, vontade de desmaiar, a pressão estava alta e aquele momento que parece que a gente tá no mundo da lua. A segunda vez que tive eu acabei entrando em um SPA com emergência, porque tive muita falta de ar e a respiração muito lenta e quando abria os meus olhos eu via tudo preto. A ansiedade começa através de preocupação, a saúde mental fica totalmente abalada”, diz Maria.
Passando por muitos momentos de incredulidade em saber se era ou não ansiedade, Maria procurou o Serviço de Pronto Atendimento (SPA), e afirma que sofreu preconceito ao chegar lá. “Nesse dia vários estagiários de enfermagem faziam comentários tolos e ficavam rindo, a gente se sente pior. Eu fiquei muito chateada, porque a gente sabe o quanto isso é um assunto sério, eles poderiam ter passado pelo menos um apoio, uma palavra dizendo que tudo isso vai passar ao invés de tá fazendo comentários ou rindo. Tive o retorno com o médico, ele simplesmente disse que era uma crise de ansiedade, que era algo que estava perturbando minha mente”, declara.
Nesta matéria, trazemos o renomado Psicólogo e Filósofo, Daniel de Souza Castilho, para falar sobre um assunto extremamente relevante: o estresse, a ansiedade e a depressão, problemas mentais que afetam um grande número de pessoas, inclusive aquelas que, como Izadora, buscam desesperadamente uma solução. Daniel nos revela que, embora essa prática não seja comum na população brasileira em comparação com o restante do mundo, houve um aumento significativo. No entanto, ele destaca a falta de acesso aos serviços de psicologia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e a dificuldade financeira para arcar com tratamentos particulares como principais obstáculos.
“No Brasil, a procura por terapia nunca foi uma prática muito comum, mas no mundo sim. Apesar da média, 3% da população brasileira faz terapia, tivemos um aumento em função da pandemia, um aumento aproximado de 60% das pessoas, Existe uma certa procura buscando mais psiquiatra que psicólogo, é na verdade,um dos principais motivos de não se procurar terapia é o acesso pelo próprio SUS, a demanda é grande e a quantidade de psicólogos é pequena e quando você vai para o particular, a população acaba não tendo recursos para arcar, porque normalmente os honorários psicológicos são por sessões”, ressalta o psicólogo.
Em seguida, Daniel discute os sintomas comuns do estresse, ansiedade e depressão, ressaltando como eles se sobrepõem e se interconectam. Ele explica que o estresse pode ser um sintoma desses transtornos e descreve sintomas como irritabilidade, falta de sono, fadiga constante e explosões emocionais. “Os sintomas de estresse normalmente são irritabilidade, falta de sono, insônia, limite emocional, explosão de ânimo, fadiga constante e sentimentos agressivos, isso são sintomas mais indicativos de estresse. Interessante como todos os sintomas convergem nesses três transtornos, o estresse é um sintoma do transtorno de ansiedade e depressão, porque uma pessoa ansiosa pode ter um quadro de pânico, um quadro de preocupação excessiva, um quadro de insônia e irritabilidade sendo eles sintomas tanto de depressão quanto de ansiedade”.
O ambiente de trabalho também é abordado, e Daniel destaca a importância de reconhecer que levamos nossos problemas e emoções para onde quer que vamos. Ele ressalta a necessidade de um acompanhamento psicológico específico para questões como burnout e assédio moral e sexual.
“Um acompanhamento psicológico específico sobre burnout, assédio moral e sexual, temas esses que nos colocam em situação de problemas emocionais, a psicologia sempre estará presente na vida do ser humano seja ela na área educacional, empresarial e no lazer onde houver a presença humana a psicologia se faz necessária. Levar o conhecimento da inteligência emocional, como lidar com as emoções, porque querendo ou nao por mais que o psicólogo aborde certas questões no ambiente de trabalho, não conseguirá resolver os problemas dos funcionários, mas pode ressaltar a certa importância e a necessidade de buscar tratamento psicológicos.”
Psicofobia
De acordo com o Psicólogo e Filósofo, Daniel de Souza Castilho, Psicofobia, refere-se ao preconceito direcionado às pessoas que têm algum problema psicológico. O termo é utilizado para descrever a discriminação e estigmatização que ocorrem em relação a essas pessoas. O preconceito geralmente surge da falta de conhecimento, de questões mal compreendidas, de condições históricas e sociais que moldaram a mentalidade da sociedade em relação aos problemas psicológicos.
Uma abordagem ideal para lidar com a psicofobia seria denunciar casos de preconceito às autoridades e órgãos competentes. Posteriormente, é importante buscar a compreensão de que o preconceito sofrido provém da ignorância de outras pessoas, que desconhecem a história e a vida de cada indivíduo. Embora não seja possível controlar completamente as ações das pessoas em relação a nós, podemos buscar minimamente compreender o que nos afeta e entender as causas que nos condicionam.
É fundamental compreender que ser alvo de preconceito não nos define, nem reflete quem realmente somos. O fato de alguém ser preconceituoso conosco ou com nossas ações cotidianas indica que essa pessoa também pode ter problemas próprios. Nesse sentido, é importante que ela busque acompanhamento psicológico, pois lidar com preconceito é um desafio e a terapia pode ajudar a filtrar as palavras e ações das pessoas, de modo que elas não nos afetem tanto.
Através de um acompanhamento psicológico, é possível compreender a forma como os outros nos tratam e agem conosco, de modo a desenvolver uma maior resiliência emocional. Lidar com preconceito envolve entender os motivos por trás dessas atitudes e, legalmente, denunciar casos de discriminação quando necessário.