Foto: Public Speaker

Nos últimos anos, a política no Amazonas tem passado por uma transformação significativa, impulsionada por diversos eventos em âmbito nacional e estadual. Com isso, surgiram novos rostos, debates inéditos e decisões necessárias para promover mudanças nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

A população jovem tem buscado cada vez mais se envolver e aumentar seu engajamento político em busca de um futuro melhor, levantando questões de interesse geral, como sustentabilidade, direitos indígenas, igualdade de gênero e acesso à educação de qualidade. Essas são causas que promovem a conscientização e mobilização. 

Convidamos o Cientista Político e Professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Luiz Antonio Nascimento, para compartilhar conosco sua visão sobre a participação da juventude na política. “Historicamente, a gente tem percebido que a presença de jovens na militância política, em especial na militância política partidária, tem relação com os momentos de crise, digamos assim, da sociedade. Se a gente considera desde 2016 pra cá, crise do governo Dilma, colapso do governo, impeachment da presidente Dilma, ascensão do Temer e os ataques aos direitos sociais e os ataques a universidade e especial com Bolsonaro, você produz um conjunto de elementos que provoca a juventude na direção de que eles precisam defender seus interesses, defender a universidade pública, defender o interesse e o financiamento da pesquisa, concessão de bolsas.”

Trazer a perspectiva da juventude é necessário, uma vez que há carência em várias áreas, como a preservação da Amazônia, o combate à corrupção, a melhoria da infraestrutura nas áreas rurais, o acesso a serviços de saúde e a garantia de oportunidades de emprego digno. Para o cientista Político, a inclusão de mais jovens na política deve levar em conta as demandas que se destacam.


“A inclusão de jovens no meio político sempre foi uma prática dos partidos de esquerda, que historicamente os convocaram e abriram espaço para a juventude. Mais recentemente, o Partido dos Trabalhadores definiu em congresso e resoluções a abertura para filiações, destinando uma fração das vagas que disputarão as eleições proporcionais e majoritárias para os jovens. Além disso, há uma preocupação com a representatividade de gênero e sexualidade, com a presença de 30% de mulheres na executiva do partido, bem como recursos orçamentários próprios para disputas eleitorais. Isso contribui para estimular os jovens a se engajarem na militância política partidária. Já no campo da direita, esses espaços são apoiados, principalmente por aqueles chamados de formadores de opinião, como os youtubers, devido à sua popularidade nas redes sociais.”

Um dos principais obstáculos é a falta de apoio por parte das instituições e dos atores políticos estabelecidos, ressalta o professor. Os jovens enfrentam resistência e são subestimados por sua idade e falta de experiência. Suas demandas e propostas são ignoradas ou desvalorizadas, o que desmotiva a participação ativa.

“Então você tem uma participação que me parece importante e me parece relevante que tantos jovens de direita como de esquerda assumam um protagonismo na política partidária brasileira. Agora, o que é central para a gente considerar é que esses jovens não são iguais? Enquanto que jovens da direita estão defendendo as rendas minimalistas, redução do estado, redução dos serviços públicos, redução do acesso aos bens públicos pela sociedade, obrigando a sociedade a comprar esses serviços públicos no mercado, então eles defendem, por exemplo, a extrema direita tem defendido o fim do SUS, acabar com a universidade pública, acabar com os institutos federais públicos, acabar com a reforma agrária. Isso que eles defendem, você entra na fila e se você puder comprar a vaga na universidade, você vai estudar. Se você não puder, paciência, a universidade não é para todo mundo, é para quem paga. Porque eles defendem a ideia de que – o ensino superior, mesmo o ensino médio, seja acessado por quem tem mérito onde mérito aqui se leia quem tem dinheiro para pagar”, ressalta o professor.

Outro aspecto destacado é a polarização política e a falta de diálogo construtivo. Muitas vezes, os debates se tornam acalorados e hostis, afastando os jovens que buscam uma participação mais propositiva e pacífica. A ausência de um ambiente propício para a troca de ideias e a construção conjunta de soluções dificulta o engajamento da juventude.

“Já a militância de esquerda segue defendendo um corolário, defendendo uma agenda historicamente inclusiva, democrática, antirracista, antihomofóbica, uma agenda que defende o serviço público universal para toda a sociedade, uma agenda que defende a democracia como forma de expressão máxima da resolução dos conflitos e uma transformação da sociedade, transformação que permita que a população que vive nesse país possa usufruir das riquezas desse país e não o contrário do que defende a direita, que defendem a privatização e a transferência dessas riquezas para o exterior”, finaliza.