Parte da bancada federal do Podemos defende que o ex-ministro Sergio Moro seja candidato à Presidência pelo União Brasil, partido que nasceu da fusão do DEM com o PSL, aprovada nesta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo os deputados, o ex-juiz teria pedido R$ 90 milhões dos R$ 197,33 milhões estimados do fundo eleitoral da sigla, o que, na visão deles, deixaria pouco dinheiro para a eleição da bancada. Moro e a direção nacional do Podemos negam que tenha ocorrido exigência de valores.
Outro motivo apontado pelos parlamentares é a rejeição ao ex-juiz entre eleitores de regiões do país que preferem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL) . As disputas internas pelos recursos do fundão surgiram como um novo obstáculo na tentativa de viabilização dos candidatos que buscam ocupar a terceira via.
Políticos do Podemos avaliam que, para bancar a campanha de Moro, sobraria pouco dinheiro para investir na ampliação da bancada. A meta da direção nacional é mais que dobrar o número de eleitos em relação a 2018, indo de 11 para 25 deputados. Pela cláusula de barreira, para ter acesso ao fundo eleitoral a legenda precisa eleger 11 deputados. Quanto mais parlamentares entrarem na Câmara, maior a fatia do dinheiro público.
Deputados ouvidos reservadamente pela reportagem dizem que a especulação sobre a ida de Moro para o União “caiu como uma luva” e trouxe “alívio” à bancada, que tem dúvidas sobre as condições financeiras do partido para encabeçar uma campanha presidencial. Há também no incentivo à troca de partido o interesse de parlamentares que não são simpáticos à candidatura de Moro.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-juiz disse que “é falsa” a informação sobre a exigência dos recursos. O Podemos também afirmou, em nota, que está trabalhando na construção de um projeto que será apresentado ao Brasil sob a liderança de Moro.
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O partido liderado pela deputada Renata Abreu negou a exigência do presidenciável em relação ao fundo eleitoral como condicionante para a candidatura futura. “O que está em primeiro lugar é o melhor projeto que o Podemos vai oferecer aos brasileiros, tanto para a Presidência quanto para a Câmara e Senado”, diz o texto.
Longe de um acordo
Apesar de incentivarem a saída de Moro, deputados do Podemos avaliam ser pequena a chance do União Brasil abrigar a candidatura do ex-ministro do governo Bolsonaro. Isso porque, segundo eles, o nome do ex-juiz ainda não é consenso dentro da nova sigla e enfrenta resistência principalmente por parte de lideranças do DEM.
Vice-presidente nacional do PSL, o deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP) disse que o mais difícil já foi conquistado, que é reconhecer a simpatia do União com a candidatura do Moro. Agora, é preciso fazer um “ajuste fino de contas”, diz ele.
“Precisamos fazer esse debate (sobre a vinda do Moro) de forma aprofundada, para chamar todos dentro de suas responsabilidades. O interesse local não pode se sobrepor às necessidades do país”, afirmou Bozzella, que tem acompanhado o ex-ministro em agendas de campanha. “O candidato que é dirigente precisa saber que tem a responsabilidade com o seu estado, mas, através do partido, também tem responsabilidade com o povo. Tem que olhar os dois lados, não pode ser egoísta.”
A principal divergência dentro do União vem do grupo do ex-prefeito de Salvador ACM Neto, que deseja disputar o governo da Bahia e não quer estar vinculado à figura do ex-juiz. Sem citar o nome de ACM Neto, Bozzella diz que não descarta a possibilidade de um ou outro estado ficar neutro caso o Moro vá para o partido.