Os embates entre a esquerda e a direita sempre foram muito acalorados no Brasil e ainda parecem longe de ter um fim. A capital amazonense se tornou palco de um novo capítulo acalorado desse embate, dessa vez envolvendo dois delegados de polícia.

O “toma lá da cá” teve início em decorrência de um outdoor dizendo “Manaus é Bolsonaro”. O delegado da Polícia Civil, João Victor Tayah, publicou um vídeo em suas redes sociais ironizando e criticando veementemente os dizeres relembrando a situação enfrentada pela cidade durante a pandemia de Covid-19 e também a perseguição do ex-presidente à Zona Franca de Manaus.

“Manaus é Bolsonaro? Pergunta dos familiares dos mortos por covid se eles são Bolsonaro? O cara se negou a mandar oxigêncio para quem estava sufocando numa cama de hospital. Atrasou vacina para quem estava morrendo aqui. Aqui foi o epicentro da tragédia, do caos que foi essa gestão incompetende do Bolsonaro. Tudo o que ele pôde fazer pra destruir a Zona Franca ele fez. O cara não deu um tijolo pra Manaus e vocês vêm falar que Manaus é Bolsonaro? Vocês fumaram cloroquina estragada, é? Vocês são masoquistas? O cara caga na cabeça de vocês e você ainda puxam o saco dele? Ele deve rir da cara de vocês, de tão patético que vocês são. Não! Manaus não tá com Bolsonaro. Tem que ser muito idiota para estar”, disse ele no vídeo.

Quem decidiu se posicionar – contra Tayah – foi o também delegado Rafael Costa e Silva, que foi para o mesmo local em que o outdoor está instalado e fez um vídeo defendendo Bolsonaro e rebatendo as críticas. Ele falou sobre os desafios enfrentados por Bolsonaro durante sua gestão em decorrência da pandemia de Covid-19. Costa e Silva também comentou sobre o apoio financeiro do governo federal para Manaus durante o período.

“Quero dizer que Manaus é Bolsonaro. Bolsonaro passou uma dificuldade tremenda na gestão dele que foi lidar com a pandemia, algo que não aconteceu na gestão de ninguém, ai você vem dizer que ele não ajudou. Mais de meio bilhão veio para Manaus para ser usado na pandemia e sobre a operação Sangria da Polícia Federal, você não falou nada, que foi uma operação que investigou como esse dinheiro estava sendo utilizado”.

Além disso, Costa e Silva também decidiu questionar a integridade de Tayah ao acusá-lo de estar afastado do trabalho há mais de um ano e continuar recebendo um alto salário.

“Você está a disposição da Associação de Delegados sem trabalhar desde março de 2023, recebendo R$37 mil, num momento em que a sociedade clama por segurança e precisa de delegado trabalhando na ativa. Você tá a disposição sem trabalhar. Você quer criar narrativa e construir uma história ruim para o outro lado mas isso é hipocrisia”, afirmou.

Em entrevista ao portal Amazônia Press, João Tayah rebateu as acusações e declarou que a manifestação feita foi de suma importante para que “todos aqueles que tem consciência política possam saber que não estão sozinhos”.

“Existe muita gente em Manaus que sabe que o Bolsonaro não fez nada, não deu um tijolo e não transferiu um centavo para nossa cidade. Não tem uma obra dele aqui e pior do que isso, tudo que ele poderia fazer ele fez para destruir a Zona Franca de Manaus e para contribuir com a destruição da nossa Floresta Amazônica. E para piorar, ainda para agravar a situação da Covid na nossa cidade que enfrentou problemas gravíssimos em razão da omissão do governo federal. Vale a pena acrescentar também que o próprio delegado Costa e Silva está licenciado do cargo para concorrer à eleição mesmo tendo ganhado no último mês mais de R$ 45 mil como remuneração mensal. Ele só é contra o direito trabalhista dos outros, mas para ele, como todo bolsonarista, é a favor”, disse.

Em contrapartida, Tayah ressaltou que “o delegado Costa e Silva que precisa dar explicações sobre o que ele mesmo disse”.

“Ele coloca a culpa no governador, mas ele fez campanha para o governador ou ele já esqueceu que o Wilson Lima apoiou o Bolsonaro e o Bolsonaro apoiou o Wilson Lima. Então, se a culpa é do repasse do Governo Federal que veio para o estado e que não foi utilizado, a culpa é dele também que ele fez campanha para esse governo. Eles não podem querer cobrar do PT os erros do Wilson Lima contando que o Wilson Lima é aliado do Bolsonaro. Outra coisa que ele precisa dar explicação é se ele está criticando a minha licença sindical, que estou há um ano de licença, por que que ele usou a mesma licença durante quatro anos quando ele era presidente do Sindicato dos Delegados? Não dá para entender, se a licença é ruim ele não poderia ter usufruído, né? Falando agora em tom de crítica a um direito de um trabalhador, visto que sou um trabalhador como outro qualquer e existem outras questões ainda que eu vou falar no momento oportuno”.

Ao portal de notícias, o delegado Costa e Silva rebateu as acusações feitas por Tayah. 

“De fato, fui Presidente do Sindepol [Sindicato dos Delegados de Polícia de Carreira do Estado do Amazonas] por 4 anos (2015-2018), ocorre que nos dois primeiros anos eu era Delegado Titular de DIP [Departamento Integrado de Polícia] e Presidente do Sindepol. Após isso, houve uma assembleia na Sindepol com a presença de mais de cem delegados, onde foi deliberado que seria melhor me afastar da titularidade do DIP, uma vez que o presidente do Sindepol precisa ter autonomia para cobrar melhoria para a sua classe sem ser perseguido. O que estou falando pode ser comprovado com a ata da referida assembleia, a qual se encontra na sede do Sindepol. É preciso destacar que na época eu era presidente do Sindepol e não um cargo meramente administrativo como o do João Victor ocupa Adepol [Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Amazonas]. São 5 delegados a menos na Ponta”, declarou.