A divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do PIB (Produto Interno Bruto) — que registrou aumento de 2,41% no primeiro trimestre — fez economistas e analistas repensarem suas projeções para a economia brasileira neste ano.
Em relação ao primeiro trimestre de 2022, o indicador mostra crescimento econômico em 3,87%. Já em comparação aos últimos 12 meses até março, o IBC-Br aponta que a atividade econômica cresceu 3,31%, impulsionada pelo elevado volume de serviços.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cresceu 1,1% em fevereiro, acumulando alta de 7,8% em 12 meses.
Um ritmo de aquecimento acima do esperado pode pressionar os preços e pesar sobre os índices de inflação, o que pode adiar o afrouxamento do atual aperto monetário do Banco Central. No entanto, os economistas acreditam que o atual crescimento pode não se sustentar ao longo do ano.
Gustavo Arruda, diretor de pesquisas para América Latina do BNP Paribas, afirma ser importante acompanhar a divulgação da inflação daqui para frente. “Devemos observar não só a inflação cheia, que deve ser ajudada pelos preços dos combustíveis e alimentação, mas também as medidas de núcleo, importante para o Banco Central tomar decisões de juros a partir de agora.”
Arruda afirma que o IBC-BR veio acima do esperado, mas lembra que as pesquisas para a composição do índice são realizadas com alguns dias de antecedência, então podem refletir totalmente os bons dados que o país teve no varejo e serviços.
“Na nossa visão, essa combinação de economia mais forte e intenção de política fiscal mais expansionista faz o mercado perceber que a inflação de núcleo está mais persistente. Com isso, essa precificação mais recente do mercado de corte nas próximas reuniões do Copom, não deve se confirmar. Vejo um sinal de corte só para 2024”.
Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, diz que o dado em si superou a expectativa de mercado. Porém, há um componente que gera alguma incerteza, que é a dessazonalização do dado.
“Uma vez que a gente pega a variação mensal e anual dos analistas, acabam apontando algumas divergências. Nossa projeção, na variação mensal, apontava alta de 0,6%, veio bem acima do esperado, mas no anual, veio bem abaixo.”
Cenário futuro
Na visão de Marco Caruso, economista do Banco Original, ainda que o primeiro trimestre tenha fechado um pouco melhor que o esperado, isso não altera a tendência de desaceleração para o ano.
“Com o resultado de hoje, mantemos nossa projeção de 1,1% para o PIB no primeiro trimestre. Para 2023, revisamos nossa projeção de PIB para 0,9%.”
Ele comenta que, embora o resultado tenha vindo abaixo das expectativas, essa contração se deve ao mês anterior ter sido muito acima do esperado. “Em março, o resultado do IBC-Br foi influenciado por um desempenho positivo de todos os setores da atividade econômica.”
Na análise da economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, o crescimento da atividade no primeiro trimestre do ano ficou bem acima do esperado, como no Focus, por exemplo, que a expectativa para o PIB do período estava em 2,1%, indicando que ainda haverá revisões positivas nas próximas semanas.
“Para os próximos trimestres, no entanto, a atividade tende a desacelerar, sem a contribuição do setor agrícola e com o impacto da restrição monetária nas atividades ligadas a investimentos, como construção, e consumo de bens duráveis, devido ao maior aperto no crédito. O crescimento do trimestre ainda deve ser suficiente para resultar em variação do PIB acima de 1,5%”, avalia Vitória.
O relatório do Banco Modal destaca que o leve recuo em março do IBC-Br, de 0,15%, sugere uma eventual perda de ímpeto do setor agropecuário no final do trimestre. Por outro lado, a revisão positiva dos dados de janeiro reforçam o desempenho robusto e acima do esperado da atividade econômica no primeiro trimestre do ano.
“A expectativa de safra recorde, que deve favorecer o desempenho do setor agropecuário, aliado a expansão fiscal planejada fortalecendo programas de transferência de renda, deve prover algum fôlego para a atividade econômica, com desaceleração gradual ao longo do ano, negativamente impactada pelo aperto monetário em vigor.”