A Construção Civil cearense, após seguidos anos de retração, voltou a registrar crescimento no seu valor adicionado bruto (VAB) – que é o valor que a atividade agrega aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo – durante o período pandêmico, o que ocorreu diante de uma conjuntura econômica relativamente mais favorável à atividade. Em 2020, o setor cresceu expressivos 5,9%, se destacando positivamente em um cenário de retração para o restante da Indústria. Após a fase mais aguda da pandemia da Covid-19 no segundo trimestre de 2020, período que marca a primeira grande onda de contaminação, a atividade da construção iniciou uma trajetória de crescimento que se manteve presente até os meses finais de 2021.
A constatação está no Enfoque Econômico (nº 233 – fevereiro/2022) – Desempenho recente da construção civil cearense, que acaba de ser lançado pela Diretoria de Estudos Econômicos (Diec) do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). De acordo com o analista de Políticas Públicas Witalo de Lima Paiva, autor do trabalho, no segundo semestre de 2020 a Construção Civil melhor aproveitou o processo de retomada local das atividades econômicas, potencializando uma conjuntura particularmente favorável e caracterizada por juros em níveis historicamente baixos; aumento de poupança e redirecionamento da demanda (diante das restrições de mobilidade); e por forte ampliação das transferências governamentais para as famílias.
Witalo Paiva observa, no entanto, que para alcançar o desempenho verificado em 2020 e 2021, os anos anteriores de retrações seguidas (-12,9% em 2016; -11,4% em 2017; -1,8% em 2028 e -1,2% em 2019) também contribuíram, seja materializando uma base de comparação muito deprimida, seja reduzindo por demais a oferta de produtos a ponto de estimular uma recomposição. Ele ressalta que, em 2021, os resultados acumulados, até o terceiro trimestre, sugerem a manutenção dos estímulos para a expansão da atividade, a despeito da continuidade da pandemia e do surgimento de outras restrições não presentes anteriormente (como inflação elevada, alta dos juros, crise energética e instabilidades no cenário político). Entre janeiro e setembro de 2021, a atividade acumula uma expansão de 16,3% na comparação com igual período do ano anterior.
Ele afirma que a intensificação dos investimentos estaduais em 2021 e a manutenção, pelo governo cearense, de uma rede local de apoio ao setor produtivo e às camadas mais carentes da sociedade, ajudam a explicar a manutenção desta dinâmica de crescimento. “Importante destacar, também, que apesar da segunda grande onda de contaminação ocorrida nos meses iniciais de 2021, o segmento da construção continuou funcionando, como ocorreu em 2020”.
O aprendizado anterior quanto à gestão da crise sanitária – ressalta Witalo – permitiu uma melhor diferenciação das atividades econômicas no binômio retorno para economia e risco sanitário (associado ao potencial de contaminação). Além do indicador de evolução do VAB, dados referentes à geração de emprego e ao comércio varejista de material de construção corroboram o crescimento da Construção Civil em 2021, dando sequência ao bom resultado de 2020.
Tendência
O segmento da Construção Civil tem alcançado e conseguido manter um ritmo de crescimento relevante para o contexto atual. O ano de 2021 deve, assim, se encerrar com uma nova alta para evolução do VAB, concretizando dois anos seguidos de expansão. Para este ano, o Analista de Políticas Públicas do Ipece afirma que as expectativas são de crescimento, porém mais modesto diante de um cenário que deverá se manter desafiador. “Por um lado, tem-se o controle maior da pandemia com a vacinação e seu processo de reforço. Soma-se a isso a característica do ciclo econômico mais longo, que pode se materializar no atual momento com o início de projetos de média duração. Localmente, a continuidade dos investimentos públicos estaduais e suas externalidades positivas sobre a dinâmica do setor privado; e a preservação de um ambiente favorável aos negócios devem também contribuir positivamente”.
Já no cenário nacional, o ambiente para formação de expectativas apresentou deterioração nos últimos meses e pode ser percebido pela redução nas previsões de crescimento para o PIB brasileiro em 2022. A taxa de inflação e a taxa de juros em níveis desfavoráveis devem, também, atuar contra o desenvolvimento dos negócios ao longo do ano. Adicionalmente, trata-se de um ano com eleições para presidente, que prometem ser acirradas e influenciar negativamente a formação de expectativas, ampliando as incertezas econômicas e políticas. Para concluir, ele frisa que os resultados recentes são positivos, mas não asseguram o retorno a uma trajetória de crescimento sustentada. Um ambiente econômico instável e nebuloso para a formação de expectativas é relativamente mais danoso para o segmento da Construção Civil.