O G20 é desde 1999 a principal agremiação econômica que temos no mundo. Criado para evitar grandes crises financeiras globais e ampliar a cooperação e o diálogo entre países que nem sempre se sentam ao mesmo lado da mesa, o grupo heterogêneo se mostra mais relevante que as Nações Unidas em muitos aspectos, principalmente se considerarmos que cerca de 80% do PIB mundial é produzido por países do G20, enquanto 64% da população do nosso planeta vive em um dos 19 países, ou na União Europeia. Durante as últimas décadas, os encontros anuais têm sido fundamentais para promover reuniões bilaterais e multilaterais entre países que decidem muito do futuro dos mercados mundiais e a estabilidade em relação aos conflitos militares. De Rússia aos Estados Unidos, de Índia até a China, todos os países hoje representados são importantes do ponto de vista regional e com impacto global, seja ele em pequena ou grande escala.
A última vez em que foi presidente dos Estados Unidos, Donald Trump já adotou uma postura isolacionista, ecoando seu slogan de campanha “America First” (América em primeiro lugar), o que culminou com a retirada o seu país do Acordo de Paris, a utilização das Assembleias Gerais da ONU para insultar a instituição e comparecimentos sem sorrisos às cúpulas do G20. O isolacionismo da sua política externa se tornou protecionismo em sua conduta econômica, iniciando uma guerra comercial com a China, que beneficiou inicialmente os norte-americanos, mas tornou mais desafiador o diálogo global para as outras nações. Em 2025, Donald Trump retornará à Casa Branca, mas presidirá o país mais poderoso do mundo em um mundo completamente diferente de 2020. As duas guerras regionais com potencial de grandes escaladas ainda não foram resolvidas, a retórica belicista dos norte-coreanos apenas aumentou nos últimos meses e a crise do custo de vida e alta inflação no mundo desenvolvido, assusta norte-americanos e seus aliados mais fiéis na Europa e na Ásia.
Apesar de ter feito muitas promessas de campanha com forte caráter isolacionista e protecionista, a realidade de um mundo em crise inviabilizará o cumprimento das mesmas, já que, para que possa alcançar e cumprir outras tantas feitas de cunho econômico e de política externa, terá que mudar seu posicionamento. Caso queira de fato solucionar a Guerra da Ucrânia e a guerra em curso no Oriente Médio, uma posição diplomática clássica terá que ser adota pelos Estados Unidos, e um completo abandono de seus esforços em ambas as frentes significaria deixar os conflitos em curso por mais quatro anos. Caso queira recuperar a posição de respeito que os Estados Unidos tinham no mundo, precisará se fazer enxergar através da boa política e de posições atualizadas com os desafios do século XXI, e não apenas buscar a solução que não envolve o diálogo entre diferentes. Por fim, caso queira cumprir a promessa de recuperar a economia americana, isso envolverá inevitavelmente reestabelecer bons vínculos comerciais com parceiros históricos e não os intimidar, como fez Donald Trump essa semana ao ameaçar taxar produtos de seu aliado mais fiel, o Reino Unido.
No próximo ano, a África do Sul sediará a cúpula do G20, em um dos eventos que poderá, em novembro de 2025, contar com um mundo mais pacífico, mas em maior tensão do que em 2024. O grupo deverá se adaptar aos anseios do novo líder norte-americano, mas pelas circunstâncias tão peculiares desse nosso começo de século, Trump também deverá adaptar suas próprias ambições à maneira como o mundo e o G20 funcionam agora. Em 2026, quem sediará a cúpula mais importante do ano será o próprio presidente Donald Trump, que depois dos primeiros dois anos de um novo mandato deverá mostrar ao mundo qual será o legado que gostaria de deixar ao seu país e às demais nações do mundo em seus últimos dois anos como presidente dos Estados Unidos. Dada a importância do G20 e suas reuniões para a estabilidade da economia global e as promessas feitas por Trump nos últimos seis meses, realmente devemos torcer que, em 2028, o G20 não seja apenas G19.