Novembro foi mais um mês devastador para a maior floresta tropical do planeta, com quase seis milhões de quilômetros quadrados (km²). Segundo o Sistema de Monitoramento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento acumulado dos últimos 11 meses na região é o pior da última década, tendo se alastrado por 10.222 km², ou seja, sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
A área devastada é 31% maior do que a que foi destruída durante o mesmo período, em 2020. Quase todo o estrago é atribuído a apenas três dos nove Estados integrantes da Amazônia Legal Brasileira: Pará, Mato Grosso e Rondônia.
Novembro devastador
A análise feita mês a mês indica que novembro de 2021 apareceu como o segundo pior dos últimos dez anos. Foram 484 km² destruídos em 2020 em face dos 480 km² no mesmo período, um ano depois. Assim, faltaram apenas 16 km² para que o desaparecimento de cobertura vegetal no decorrer de apenas 30 dias fosse equivalente ao território de Porto Alegre.
Desmatamento ocorrido nos meses de novembro dos últimos dez anos
Líderes em desmatamento puxam o estrago
Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) apontam que o estrago foi puxado, majoritariamente, por Estados líderes em desmatamento, principalmente o Pará, que além de sempre liderar os rankings negativos, foi responsável por 60% do estrago ocorrido em novembro deste ano, ou seja, 290 km ². Em seguida, figuram Mato Grosso, com destruição de 54 km² (11%), e Rondônia, que derrubou 42 km² (9%).
A pesquisadora do Imazon Larissa Amorim destacou que juntos, “esses três concentraram 80% de tudo que foi detectado de desmatamento para a Amazônia Legal”. “Reflexo disso, é o fato de que a maioria dos municípios e das áreas protegidas que mais desmataram estão localizadas nesses três Estados”, detalhou a especialista.
Dos dez municípios em situação mais crítica, oito são do Pará. Os outros dois integram os territórios de Rondônia e Amazonas.
Povos afetados
Larissa Amorim ressalta que são inúmeras as consequências do crescimento do desmatamento. “Entre elas, podemos citar o desequilíbrio ambiental que é causado pela intensificação do aquecimento global, a alteração dos regimes de chuvas e a perda de biodiversidade de animais e plantas, por exemplo. O desmatamento também ameaça o habitat de povos tradicionais, como os povos indígenas, os quilombolas e os extrativistas”, acrescentou.
Povos originários já têm sentido tais impactos, visto que cinco das 20 Áreas Protegidas (APs) mais atingidas estão localizadas nas duas unidades da federação integrantes da Amazônia, vice-líderes em destruição do bioma: quatro em Rondônia e uma em Mato Grosso:
Estação Ecológica (Esec) de Samuel (RO)
Reserva Extrativista (Resex) Jaci Paraná (RO)
Terra Indígena (TI) Karipuna (RO)
Terra Indígena Menkü (MT)
Terra Indígena (TI) Rio Guaporé (RO)
Entre as reservas, está a Resex Jaci Paraná, onde o desmatamento aumentou 2700% desde o mês de maio, época em que ocorreu a maior redução de Unidades de Conservação (UCs) já autorizada no Brasil, por meio de uma lei de autoria do governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (PSL), agora considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RO).
Além disso, aparece, também, o território da etnia Karipuna, povo indígena rondoniense que denunciou ao Ministério Público Federal (MPF/RO), Polícia Federal (PF) e Fundação Nacional do Índio (Funai), na última semana, episódios de roubo de madeira e de grilagem de terras dentro da TI.
“Para combater o desmatamento na Amazônia Legal, é necessário intensificar a fiscalização, principalmente naquelas áreas que são mais críticas em relação ao desmatamento. E essa fiscalização também deve vir aliada com a identificação e a punição dos responsáveis por esse desmatamento ilegal. É necessário, também, embargar as atividades que estão ocorrendo nessas áreas que foram desmatadas ilegalmente”, concluiu Larissa Amorim, ao apresentar possíveis armas contra a devastação do principal bioma brasileiro.
Fonte: AGÊNCIA CENARIUM