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A prolongada seca no Amazonas está tendo um impacto devastador no calendário escolar das comunidades ribeirinhas. A falta de chuvas na Amazônia afeta drasticamente a vida das pessoas, uma vez que os rios são frequentemente a única via de acesso para essas pequenas cidades e vilarejos. 

De acordo com um levantamento recente da Defesa Civil do Amazonas, divulgado em 30 de setembro, 19 municípios nas bacias dos rios Alto Solimões, Baixo Solimões, Juruá, Médio Solimões e Purus foram declarados em situação de emergência, afetando diretamente 174,7 mil pessoas. Além disso, outras 36 cidades estão em estado de alerta e cinco estão em atenção. 

Em Coari e em muitos outros municípios do interior do estado, a situação é crítica, especialmente no que diz respeito à educação. O ano letivo das crianças corre sério risco de ser interrompido devido à histórica estiagem. Ozimar Oliveira, 41,  professor de educação infantil na comunidade Nova Amazônia, compartilhou as dificuldades enfrentadas pelo povo ribeirinho local. Ele destacou a falta de acesso à água, necessária para o funcionamento da escola, já que não havia poço artesiano disponível na comunidade. 


“Enquanto eu estava na comunidade antes de vir a cidade, nós puxamos água no motor bomba, colocamos a borracha no tanque, botamos o motor lá na beira da água e ligava o motor, e o tanque distribuía para os dois banheiros da escola. Lá na comunidade não tinha poço artesiano, agora eu não sei como é que estão, como é que as pessoas estão puxando água. Não sei se compraram mais borracha para emendar, porque está muito longe, está tudo muito seco lá”, relatou.

Ozimar também mencionou que as aulas tiveram que ser suspensas porque as crianças não conseguiam mais chegar à escola, uma vez que os pequenos igarapés pelos quais elas costumavam se deslocar secaram. O professor expressou preocupação sobre a incerteza quanto ao retorno das aulas, dependendo inteiramente das condições naturais. 

“Estamos parados e esse mês talvez continuemos assim com as aulas suspensas. A escola era na beira do Solimões, lá na frente é dividido, tem uma ilha bem no meio de um não tem acesso, não dá pra passar barco, estamos dependendo da natureza para ter previsão para voltar a dar aula, o retorno provável das aulas seria agora em novembro, mas não sei se vai ser possível”.

O professor finaliza com pesar e tristeza lembrando da dificuldade que os comunitários têm enfrentado, como por exemplo a falta de locais para pesca para a sobrevivência.  

Ele também lamentou a dificuldade enfrentada pelos moradores locais na pesca, uma atividade essencial para sua subsistência. A escassez de locais para pescar está afetando seriamente sua capacidade de se alimentar e sobreviver.

“Estou aqui na sede da cidade, mas tenho pensado muito como os comunitários têm se virado com a questão da pesca para se alimentar. Pois quando vim de lá tínhamos que andar quilômetros para chegar até o lago para pescar, para pegar o alimento, pegar algum peixinho para comer, é muito difícil, é longe, ainda mais agora com essa temperatura espero que todos estejam bem” concluiu. 

Além disso, pesquisadores apontam que uma das bacias mais afetadas pela seca é a do Rio Madeira, e em Manaus, o nível do Rio Negro atingiu o 13º nível mais baixo em 120 anos de medições. A seca na Amazônia está causando um impacto significativo nas vidas das pessoas e no meio ambiente.