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Moradia, desemprego, saneamento básico, desigualdade e saúde são apenas alguns dos problemas presentes no Brasil. No entanto, nos últimos dias, as redes sociais e os principais meios de comunicação do pais estiveram fervorosos e deram grande repercussão nacional à polêmica envolvendo a capivara Filó, o influenciador Agenor Tupinambá, a ativista da causa animal Luísa Mell, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováreis (Ibama) e a deputada estadual Joana Darc.

O estudante Agenor Tupinambá, de 23 anos, usava seus perfis nas redes sociais, como Instagram e TikTok, no qual coleciona milhões de seguidores, para mostrar, entre outras coisas, a rotina de uma capivara que mantinha como animal doméstico e à qual apelidou de Filó. no município de Autazes (a 113 km de Manaus). Em 18 de abril, Agenor foi notificado pelo Ibama e acusado de exploração, maus-tratos e de ter matado animal silvestre, e teve que entregar a capivara ao Ibama. O que chamou a atenção da população e dividiu opiniões foi a conduta da deputada estadual joana Darc, que empurrou servidores públicos e invadiu a sede do Ibama em prol do resgate da capivara. Com tanta mobilização, o Ibama foi obrigado a a devolver a capivara que havia apreendido ao influenciador Agenor Tupinambá após decisão da Justiça do Amazonas. 

“Defender capivara é fácil! Quero ver defender o trabalhador da saúde que dá a vida para salvar a população sem o devido reconhecimento”, é uma das declarações feitas pelo profissional da saúde, militante da causa e líder do movimento social Todos Pela Saúde, Denison Vilar, mais conhecido como Denison do SAMU. O enfermeiro se juntou à outros profissionais da saúde do Hospital e Pronto-Socorro João Lúcia no dia 1º de maio – um dia após a repercussão dada ao retorno da capivara Filó à residência de Agenor – para reivindicar e lutar em prol dos direitos básicos da classe trabalhadora.

“A gente vê tudo isso e não vê nenhum parlamentar, de fato, empenhado para as questões dos trabalhadores da saúde. Não conseguimos entender como que tantos parlamentares, 41 vereadores e 23 deputados, fora as mais de 10 entidades sindicais, e justo no dia do trabalhador não aparece ninguém lutando pelo trabalhador da saúde. Somente nas redes sociais fazendo homenagem e dando parabéns, isso não enche barriga e nem paga conta de nenhum trabalhador da saúde. Nós precisamos é de valorização e de respeito desses trabalhadores. Tem trabalhador sendo despejado da sua casa, porque não consegue pagar o aluguel há dois ou três meses. Tem médico que estudou a vida inteira passando de três a cinco meses sem receber. Então assim, os nossos enfermeiros estão todos com o salário atrasado. Quando a gente olha a mídia social só se fala em capivara e Agenor. Quando todos precisarem de um de um profissional de saúde, a gente vai chamar quem? A capivara e o Agenor para salvar a vida da gente?”, disse.

Para o profissional da saúde, o parlamento é um local importante, onde é necessário defender os diversos ramos da sociedade, seja na questão de segurança pública, educação ou saúde.

“A gente vê um parlamentar completamente empenhado na causa animal e esquecendo todas as outras causas. Pela teoria, tem um monte que desejou parabéns e feliz dia do trabalhador, mas na prática o trabalhador está aí passando necessidade, dificuldade e muitos estão em depressão. Outros doentes tendo que cuidar de outros doentes para não perder benefício. Cadê os parlamentares?”, complementou.

O sociólogo Israel Pinheiro fez uma análise do ponto de vista sociológico referente à situação e pontuou que a primeira situação a ser observada diz respeito ao segmentos que compõem as próprias plataformas de redes sociais.

“A cada momento dessa história, é muito interessante porque é narrada nas redes sociais como se fosse uma novela. Esse processo da capivara tem a ver com todos esses processos geridos por essas plataformas de redes sociais . Elas não são os únicos. Não existe um único culpado ou uma pessoa. O que acontece é que essa forma de gerir as emoções ou de gerir a vida tem uma racionalidade de fundo no sentido de que a espécie humana estaria acima. Tem todo um conjunto de debates só nessa pequena relação aí, nesse fragmento dessa relação e dessa totalidade toda, que faz com que a gente não consiga, de fato, enxergar aquilo que poderia ser mais importante em uma situação dessa. Ou a gente se engajar em determinada situação e esquecer toda uma de outras situações que estão acontecendo na sociedade. E isso tem a ver com essa forma de construir comunidade de seguidores, comunidade de fãs e a forma como nós, enquanto sociedade, estamos utilizando as plataformas de redes sociais”, declarou.

O deputado estadual Wilker Barreto (Cidadania) foi um dos protagonistas, ao lado de Joana Darc, de bate-boca durante uma sessão da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). A troca de insultos entre os parlamentares começou enquanto Wilker Barreto falava de crianças no corredor do Hospital Infantil da Zona Leste, popularmente conhecido como Joãozinho. No momento, o deputado disse que a foto de crianças no corredor não tem o mesmo alcance do assunto capivara.

“Os valores estão invertidos. Eu posso mostrar a foto de criancinhas nos corredores e isso não terá o mesmo alcance do assunto da capivara. Que valores são esses? Crianças nos corredores e hoje nas redes sociais só se fala da capivara”, declarou Wilker no plenário.

Entramos em contato com ambos os parlamentares, mas não obtivemos respostas.