“Meu instinto de mãe e proteção falou mais alto ao ponto de sempre colocar ele acima de tudo”
O Portal Amazônia Press, tem realizado durante essa semana, matérias especiais com histórias de mamães tanto da capital quanto do interior do Amazonas. A personagem de hoje é a mãe do Francisco e da Hope, a universitária e empresária Julie Cristine, de 30 anos.
Julie assim como inúmeras mães de crianças com hidrocefalia, não ficou isenta de medos, aflições e inseguranças quanto a saúde de seu bebê, que na época pouco se tinha de informações, como o tratamento, a causa, o desenvolvimento da criança ou profissionais que poderiam vir a auxiliá-los futuramente.
A empresária relata qual foi a sua primeira reação ao descobrir a deficiência do seu então primeiro filho.
“Fiquei muito assustada! Tive medo e me recordo que na época, pela pouca idade, fui muito manipulada com relação aos cuidados. Porém, meu instinto de mãe protetora falou mais alto, ao ponto de sempre colocar ele o Francisco acima de tudo. Foi uma época muito difícil, trago alguns traumas pela maternidade conturbada e lembranças de experiências maravilhosas também”.
“Sem dúvida a minha maior dificuldade foi a ausência de uma rede de apoio, tinham muitas pessoas para dar opinião e poucas ou quase nem uma para ajudar. Com relação às várias cirurgias a que meu filho foi submetido sempre foi só eu, passamos por tudo como uma duplinha, só de lembrar aqui eu me emociono. Lembrar dele tão pequeno, passando por tudo aquilo e o máximo que eu podia fazer era segurar no colo, cantar para ele e nanar ele, não conseguir tirar a dor dele me faz voltar no tempo e perceber que foi extremamente difícil, exaustivo e muito gratificante, só Deus para me dar forças e sabedoria”, disse a universitária.
Julie Cristrine, conta que seu filho foi sua maior inspiração para fazer o curso fisioterapia, no qual iniciou com o intuito de ajudar não somente o Francisco, mas inúmeras crianças que assim como ele, carecem de cuidados especiais.
“Francisco foi meu incentivo para entrar na faculdade, e cursar fisioterapia. Atualmente estou concluindo a graduação de bacharel em fisioterapia, com foco na especialização em Neuro-funcional, esse curso além de ser minha profissão é meu incentivo para continuar dando funcionalidade para meu filho. Eu faço em casa o que antes precisava de outros colegas e isso é fascinante”, diz a mãe da criança.
Quanto aos preconceitos vividos pela sociedade como um todo, a mãe do Francisco, expõe que uns dos únicos episódios vividos por ela e pelo filho partiu da própria família. “Um dos únicos episódios de preconceito que presenciei partiu de uma pessoa da família. Olha que loucura! Essa pessoa me deixou extremamente desconfortável com algumas situações, como por exemplo: estávamos em um determinado lugar e ela ao apresentar meu filho disse: esse é o Francisco e olha mãozinha dele e cabeça dele. E terminou a frase dizendo que o sangue da mãe dele é ruim. Tirando isso, meu filho sempre foi muito bem amparado e amado por todos”.
Não diferente de outras mamães, Julie já está ansiosa com a nova fase de Francisco, a pré-adolescência, e relata o que observou nesses últimos meses. “Como descrever que não estou pronta para esse momento! Estamos passando pela fase das descobertas, Francisco está começando a conhecer seu corpo, seu comportamento mudou. Um rapazinho educado e sem filtro também. Confesso que não esperava por isso, continua sendo um bebê aos meus olhos. Posso enfatizar que ele tá mais calmo, sem crises e tá se saindo um irmão mais velho bem cuidadoso”.
Francisco, agora tem uma irmã de 3 anos, a pequena Hope, e sua mãe fala com entusiasmo da experiência de caminhar entre os 2 mundos tão diferentes.
“Vivo os dois mundos, são experiências completamente diferentes e que me deixam louca, Francisco apesar de tudo pasmem! Ele me dá menos trabalho que Hope na mesma idade. Hope é uma criança ‘normal’, em idade escolar, falante, ativa, curiosa e que ainda tem uma imunidade baixa ao contrário do irmão que na mesma idade apesar de todos os problemas posso contar nos dedos as vezes que gripou! Só posso dizer que vivo os dois mundos literalmente. Amo meus filhos e sou realizada, agradeço pelo que Deus me deu”, finalizou Julie Cristine.
Segundo o Instituto de Avaliação de Tecnologia e Saúde (IATS), a hidrocefalia pode ser definida de um modo geral, como um distúrbio da formação, do fluxo ou da absorção do líquido cefalorraquidiano (LCR), com consequente aumento do seu volume no sistema nervoso central.
Mas para uma mamãe, não há uma definição nem nome específico para aquele ser que ela gerou, a não ser o amor.
Por Karleandria Araújo