Brasileiros estão viajando mais após a pandemia de Covid-19, mas continuam escolhendo a casa de algum parente ou amigo como hospedagem na maioria das vezes. Além disso, continuam preferindo destinos com sol e praia. É o que aponta um novo estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado neste mês de setembro com base em dados da PNAD Contínua.
O número de viagens nacionais e internacionais demonstrou crescimento no período analisado: em 2020 foram registradas 13,6 milhões de viagens, que caíram para 12,3 milhões em 2021. Já em 2023, foram registradas cerca de 21,1 milhões, marcando um aumento de 71,5%.
Para completar, as viagens com finalidade pessoal lideraram o panorama: 85,7% das viagens tiveram essa motivação, e o lazer saiu na frente, com 38,7%. As pessoas também utilizaram mais transportes coletivos, como aviões, cujo uso saltou de 10,6% para 13,7% entre 2020 e 2023.
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Viagens a lazer
Comparando com 2020, o ano de 2023 demonstrou um aumento no índice de viagem pessoal, como lazer, que representou 38,7% dos deslocamentos — há quatro anos, esse número era de 33%. Na mesma categoria, 33,1% das viagens ocorreram para visitar amigos ou familiares.
Para se ter uma ideia, em 2020, o número de viagens para encontrar parentes era de 38,7% — ou seja, em comparação a 2023, houve uma queda desse percentual, mostrando uma mudança no perfil dos viajantes e na motivação das viagens.
O que buscam os viajantes?
A pesquisa aponta que 46,2% do público procurou sol e praia, enquanto 22% buscaram viagens focadas na natureza, ecoturismo e aventura. Já 21,5% focou em cultura e gastronomia. Assim, a grande demanda do público brasileiro continua sendo destinos que ofereçam sol e praia, mas essa taxa tem diminuído, segundo William Kratochwill, analista da pesquisa.
“A participação desse tipo de lazer caiu 9,4 pontos percentuais (p.p.) entre 2020 e 2023. Em contrapartida, houve um aumento de 6,0 p.p. nas viagens em busca de cultura e gastronomia”, destaca.
Em 2023, a grande maioria dos destinos dos viajantes, cerca de 97%, foi nacional. Houve um registro maior para as viagens ao Sudeste, totalizando 43,4%, seguido pelo Nordeste, com 25,3%, e pelo Sul, com 17,4%. A mesma sequência de regiões apareceu ao avaliar a origem das viagens, cada um marcando, respectivamente, 45,9%, 22,0% e 17,1%.
Com 641 mil viagens internacionais, houve um aumento de, aproximadamente, 132% neste índice em relação a 2020.
Ao relacionar a classe de rendimento às viagens, o grupo formado pelos que viviam com valor mensal menor do que meio salário mínimo per capita respondem por 12,9% dos que viajaram no período da pesquisa. Já os domicílios que acumulam um rendimento per capita de quatro ou mais salários mínimos marcam 16,4% com registro de viagem.
A falta de dinheiro apareceu como principal motivo para o impedimento de viagens entre os de baixa renda, sendo apontado por 40,1% (ou 24,9 milhões dos 62,1 milhões) de domicílios participantes da pesquisa que não fizeram viagens.
Escolhas de transporte e hospedagem
O estudo também abordou os transportes não coletivos, como carros, e os coletivos, como ônibus e avião. Com o fim da pandemia, o uso de carro particular e de empresa para viajar caiu de 57,5%, em 2020, para 51,1%, em 2023.
Porém, houve um aumento na proporção da modalidade coletiva entre 2020 e 2023: mesmo aumentando a taxa de 11,6% para 13,3%, ônibus de linha ficaram abaixo do uso de aeronaves, que saltou de 10,6% para 13,7%.
Ao falar das opções e escolhas de hospedagem, a pesquisa verificou que 41,8% do público, entre os 21,1 milhões de deslocamentos de 2023, escolheu ficar na casa de algum parente ou amigo. Ou seja, esse continua sendo o principal local de estadia dos viajantes.
Em 2023, hotéis, resorts ou flats foram usados em 18,1% das viagens, abrigando, em sua maioria, 45,4% dos hóspedes que viajaram por razões profissionais e 13,6% pessoais. A efeito de comparação, no período de isolamento social, viajantes com finalidades profissionais ficaram mais na casa de amigos ou parentes.
“Com o fim da pandemia, o percentual desse tipo de hospedagem se reduz e aumenta a participação de hotel, resort ou flat, ou seja, eles voltam a ficar em locais de hospedagem públicos e usar meios de transportes públicos, como avião ou ônibus”, diz o pesquisador.
Também entre 2021 e 2023, houve um crescimento de 71% de viagens bate e volta, sem pernoite. Já as viagens com pernoite aumentaram 70,6%.
Gastos com viagens nacionais
Com relação às despesas em viagens nacionais com pernoite, o IBGE verificou que houve um gasto total de mais de R$ 20 bilhões em 2023 — ou seja, um aumento de 78,6% em relação à estimativa de R$ 11,3 bilhões em 2021. No mesmo período, a média de gastos cresceu 7,5% e passou de R$ 1.525 para R$ 1.639.
Os maiores gastos, em todas as classes, eram relacionados à hospedagem, sendo que o gasto médio com estadia foi de R$ 1.563 entre o mesmo período, de 2021 a 2023. As famílias de maior renda registraram um aumento de 5,6%, gastando em média R$ 2.731. Já as de menor renta tiveram um aumento mais significativo: de R$ 637 saltaram para R$ 740, ou seja, 16,2% a mais.
As maiores despesas totais aconteceram no Sudeste, sendo que, dos R$ 20 bilhões gastos em viagens com pernoite, R$ 8 bilhões foram gastos por viajantes que tiveram essa região como destino. Porém, os índices marcaram o maior valor de gasto médio quando o Nordeste era o destino dos turistas.
“Todas as unidades da federação do Nordeste apresentaram valores muito baixos de gasto médio das viagens com pernoite quando elas são originadas na própria região. Mas quando as viagens têm como destino o Nordeste, ela apresenta, em média, os maiores valores, com destaque para Alagoas, onde o gasto médio de viagens foi de R$ 3.704”, diz William Kratochwill para a Agência de Notícias do IBGE.
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