SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) distribuiu para as escolas estaduais de São Paulo uma aula digital com um vídeo do MBL (Movimento Brasil Livre) para ser trabalhado com os alunos do 2º ano do ensino médio.

O MBL, movimento político liberal e conservador, teve como uma das principais bandeiras a defesa do projeto Escola sem Partido, que combatia uma suposta doutrinação de esquerda nas escolas brasileiras.

Após a reportagem questionar o uso do vídeo, a Secretaria da Educação diz que retirou o vídeo e abriu uma apuração preliminar sobre o caso.

A aula de língua portuguesa propõe que os professores abordem o “protagonismo estudantil”. Para tratar do assunto, o governo Tarcísio incluiu um vídeo do MBL Estudantil, que fala sobre a função dos grêmios nas escolas.

No vídeo, postado pelo MBL EM 2019, uma jovem explica como foi o processo de construção dos grêmios no país, como é o processo de eleição e, no fim, exalta que o MBL Estudantil “já está em mais de 3.000 escolas”.

A jovem ainda incentiva os estudantes a participarem do grêmio das escolas onde estudam e pede para que deixem um “comentário sobre como está sendo a inserção do MBL Estudantil no ambiente escolar”.

O vídeo termina com uma propaganda do MBL pedindo doações para o “movimento que está construindo um país melhor”. A cada valor de contribuição, o doador recebe um tipo de brinde. O kit para doações de R$ 750 é chamado de “exterminador de pelegos”.

As aulas digitais foram criadas no ano passado pela gestão Tarcísio. Elas começaram a ser produzidas quando o secretário de Educação, o empresário Renato Feder, decidiu abrir mão dos livros didáticos impressos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Na ocasião, ele alegou que iria produzir um material próprio porque os livros didáticos “perderam conteúdo, qualidade e estão superficiais”. Depois de uma série de críticas sobre a inviabilidade de se usar apenas o material digital e de diversos erros serem encontrados nas aulas produzidas pela secretaria, o governo Tarcísio anunciou um recuo parcial.

Ele decidiu que São Paulo voltaria a aderir ao programa nacional para continuar recebendo os livros impressos, mas manteve a produção e envio de slides para serem usados nas aulas

Para o terceiro bimestre deste ano, o secretário apostou em uma nova mudança na produção das aulas digitais. Elas passarão a ser feitas por uma ferramenta de inteligência artificial, em vez de serem produzidas por professores.

Agora, os docentes passam a ser apenas editores das aulas produzidas pelo ChatGPT.

Fernando Cássio, professor da USP e pesquisador da Repu (Rede Escola Pública e Universidade), lembra que professores e especialistas desde o início da produção das aulas alertaram para a falta de controle de qualidade e a possível orientação ideológico que poderia conter em um material produzido pelo governo, sem revisão externa.

“É um governo preparando materiais didático de baixa qualidade, o que já ficou evidente. Mas agora estão utilizando recursos ideologicamente orientados por movimentos, grupos políticos de extrema direita para dar aula a milhões de alunos da rede estadual”, diz Cássio.

Procurada, a Secretaria da Educação enviou nota em que afirma que a aula foi retirada da plataforma e que seu conteúdo foi “completamente editado a fim de se adequar aos protocolos pedagógicos da rede”.

A pasta afirma ainda que abriu uma apuração preliminar para responsabilizar os envolvidos.