Após quase 35 anos filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o político amazonense Arthur Virgílio Neto anunciou na noite desta quinta-feira (17), por meio de uma rede social, que deixará de fazer parte da sigla. Em um comunicado direcionado ao presidente do PSDB no Amazonas, Bruno Araújo, o ex-tucano questionou as recentes decisões tomadas pelo partido que, segundo ele, estava se descaracterizando e se “transformando numa agremiação parecida com tantas outras, filhas da mesmice, da irrelevância e da mediocridade”.
Além disso, também reiterou que soube, apenas por meio do filho, da decisão do PSDB de nomear o senador Plínio Valério como o novo presidente do partido no estado do Amazonas. No comunicado, o ex-prefeito de Manaus, agradeceu os 35 anos de história no partido mas, não escondeu o tom de “decepção” ao anunciar a saída do partido o qual foi um dos fundadores.
Ele, que concorreu nas últimas eleições ao cargo de Senador, ressaltou ainda que há “um bom tempo” já havia pensado em deixar o PSDB. Arthur terminou a recente corrida para o Senado em terceiro lugar, ficando atrás do senador reeleito Omar Aziz (PSD) e de Coronel Menezes.
O texto de Arthur não afirmou se ele ainda pretende entrar em algum novo partido.
A destituição de Arthur do cargo ocorreu por meio da Resolução CEN-PSDB n° 048/2022, assinada por Bruno Araújo, que explica, por meio de dois considerandos, que a saída do político e a entrada de Plínio foi um pedido da bancada do PSDB no Senado, que é composta por seis parlamentares.
“CONSIDERANDO a solicitação apresentada pela bancada do Partido no Senado encaminhada a presidência nacional do PSDB; CONSIDERANDO a necessidade de manter a regular representação partidária no estado, RESOLVE
Designar nova composição para a Comissão Provisória Estadual do PSDB em Amazonas, que exercerá a competência do Diretório e da Comissão Executiva Estadual, nos termos do art. 44 do Estatuto do PSDB, com a seguinte composição:
Presidente:
- Francisco Plínio Valério Tomaz
- Secretário-Geral: Francisco Virgílio Melo da Silva
- Tesoureiro: Celso Castelo Branco Garcia
- Membro: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Membro: Sheila Patrícia Rodrigues da Silva
- Membro: Mario Barros da Silva
- Membro: Kellen Cristina Veras Felisardo Lopes“
Confira o anúncio:
“Presidente Bruno Araújo,
Fiquei feliz e aliviado quando soube, pelo meu filho e só por ele, da decisão do PSDB de entregar o comando regional do Amazonas a um grupo de pessoas às quais desejo felicidades, êxitos, distância da corrupção e independência em relação a certos partidos e certos políticos.
Fico feliz, porque me machucava bastante o coração ver aquele que já foi o melhor – e de mais significativo legado – partido da história republicana brasileira se descaracterizar e se ir transformando numa agremiação parecida com tantas outras, filhas da mesmice, da irrelevância e da mediocridade.
Minha lealdade e senso de responsabilidade me impediram, durante um bom tempo, de abandonar o partido que, incontestável e efetivamente, ajudei a construir
Obrigado, portanto, por me propiciar a oportunidade de sair, de cabeça erguida e aliviado da carga que já não me agradava carregar.
Fiz parte da 1ª Executiva Provisória do MDB, no Rio de Janeiro, por indicação da liderança estudantil, para confrontar o adesista governador Chagas Freitas e não permitir que o partido de oposição à ditadura fosse dominado pelos que tinham apego mórbido a cargos e vantagens públicos.
Daí em diante foi uma sequência de missões que, inapelavelmente, me levavam a lutar com muita força pelo restabelecimento do regime democrático.
Conquistada a democracia, muitas lutas passaram a ser motivo de vida para meu cérebro e meu coração.
Fui deputado federal e senador por 20 anos, duas vezes líder congressual do presidente-estadista Fernando Henrique Cardoso, que me conferiu a honra de poder colaborar com o Brasil na condição de Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Como senador, liderei a brilhante, influente e numerosa bancada de senadores tucanos, atuando na trilha de uma oposição dura e sensata ao presidente Lula da Silva. Capitaneamos a derrubada do imposto injusto, que cobrava a mesma alíquota de ricos e pobres: a prejudicial CPMF. E mostramos ao presidente reeleito que, com aquela bancada respeitável a vigiá-lo, ele jamais conseguiria o que era, na verdade, o “venezuelano” terceiro mandato.
Muito bem, prezado presidente Bruno. Agradeço seu gesto. Essencial para entender a índole daqueles que hoje dirigem um partido decadente, que já foi o mais respeitado no país, com reflexos mais que positivos no exterior. Mas volto a agradecer sua atitude, para mim uma alforria, uma libertação. O futuro a Deus pertence. E como bem dizia o poeta Ronaldo Cunha Lima, “em política, ninguém mata, ninguém morre”.
Há futuro pela frente e, para mim, nem posso dizer se, um dia, me filiarei a algum outro partido. Meu coração diz que não; vamos ver a mensagem do cérebro.
Comunico-lhe, enfim, minha desfiliação do partido que recebeu quase 35 anos da modesta contribuição que eu e minhas limitações lhe poderiam emprestar”.
Sobre Arthur Neto
Arthur Virgílio Neto é diplomata, sociólogo e político brasileiro. Com extensa experiência na política local e nacional, Arthur Neto já foi senador da República por oito anos, deputado federal, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República durante o Governo FHC e prefeito de Manaus por três mandatos.