Foto: divulgação

Um torcedor causou revolta durante o jogo entre São Raimundo-AM e São Raimundo-RR, pela série D, no estádio Ismael Benigno (Colina) nesse domingo, em Manaus. Durante o jogo, o homem ainda não identificado tirou a camisa e exibiu nas suas costas a tatuagem da mesma águia presente em um símbolo nazista. O símbolo foi escolhido pelo partido nazista alemão (1920 – 1945) por representar poder, força, autoridade e vitória – se assemelhando à ideologia de superioridade nazista.

Um jogo que deveria ter sido marcado pela estreia vitoriosa do São Raimundo-AM por 2 a 1 contra o São Raimundo-RR, colocou em pauta algo que vem sido noticiado a algum tempo: o crescimento de casos envolvendo a apologia ao nazismo. Em 2021, houve crescimento de 60% de denúncias de neonazismo na internet em relação ao ano anterior. Foi o maior aumento desde 2010.

Após a publicação das imagens, não demorou muito para que começassem as manifestações contra o ocorrido. “Espero que esse nazista seja identificado e devidamente processado pelo crime que cometeu”, disse uma internauta. Outro internauta ressaltou: “Nosso clube @saoraimundoec é do povo do Amazonas, aqui não tem espaço para esse tipo de criminoso”. “Esses arianos da floresta não tem noção mesmo. Um absurdo”, disse um internauta.

Militante da causa racial e presidente do Instituto Nacional Afro Origem (Inaô), Christian Rocha informou à redação do portal Amazônia Press que vai solicitar a Delegacia Especializada em Crimes de Racismo, a Delegacia Geral de Polícia Civil e a Comissão de Direitos Humanos que o ocorrido seja apurado e que o homem seja investigado. Além disso, pontuou ainda que esse aumento de casos de apologia ao nazismo sempre inicia com posicionamentos através de símbolos e depois segue para a agressão.

Foto: arquivo pessoal/Christian Rocha

“Primeiro eles expõem esses posicionamentos através de símbolos desumanos, tentando enganar com a falsa aparência de liberdade de expressão e não é. Depois começam a agredir. Como militante da causa negra, isso é total desinformação, falta de caráter e, principalmente, uma infração. Esses casos aumentaram pela sensação de impunidade que o Brasil passa. O Brasil passa que todos tem carta branca para m*atar negros, mulheres… isso é muito preocupante e chega ser uma vergonha para um país, onde muitos tentam falar que todos somos iguais. Nós não somos iguais, nós só somos iguais diante de Deus. Mas sobre a lei dos homens, nós estamos muito longe de ter um tratamento igualitário”, declarou.

Complementou ainda: “O nosso Estado é muito atrasado em debates sobre política pública, preconceito e discriminação… eu, como ativista, fico muito preocupado com as pessoas querendo negar essa problemática. Tudo isso se dá pela confusão da pessoa achar que liberdade de expressão é liberdade e direito de ofender. Se existissem nos nossos parlamentos pessoas comprometidas com a causa negra, isso não passaria de forma batida. Isso começa com uma tatuagem ou com uma comunidade nas redes sociais, depois seguem para as reuniões e aí ele praticamente incentiva outras pessoas”, disse.

O professor e delegado da Polícia Civil do Amazonas, João Tayah, declarou que o aumento desses movimentos acontece pela ascensão e representação desses mesmos valores pelo poder presidencial. Tayah sinaliza ainda que tais situações não podem ser vistas como uma tentativa de liberdade de expressão por ferirem nos direitos de outras pessoas.

Foto: arquivo pessoal/João Tayah

“Tendo em vista que o povo brasileiro foi capaz de eleger como presidente da República alguém que compartilha desses mesmos pensamentos. Isso acaba transmitindo maior legitimidade, maior sensação de segurança e liberdade a esses movimentos para promover mais atos antidemocráticos e de apologia ao nazismo e ao fascismo. Todo direito constitucional possui limites para ser exercido. Nenhum direito é absoluto. A liberdade de expressão só é legítima quando não configura crime ou atinge o direito de outras pessoas. Na medida que você defende o nazismo ou valores antidemocráticos, você não está exercendo um direito de liberdade de expressão, você está promovendo crime capitulado em lei como uma conduta ilícita. A liberdade de expressão é a que não fere os direitos e liberdades de outras pessoas”, salientou.

O vereador e diretor de Futebol do São Raimundo, Rodrigo Guedes, declarou que clube está tentando identificar o homem e que o mesmo estará banido do estádio da Colina. Além disso, destacou ainda que algumas pessoas chegaram a defender o ato alegando que o mesmo poderia não saber que a águia é um símbolo nazista. O vereador ressaltou que não poderia ser uma coincidência por não ser um símbolo comum de ser usado.

Foto: reprodução

“Não sabemos quem é, mas quando identificarmos estará banido do nosso estádio. Pessoalmente denunciarei e pedirei investigação criminal sobre o caso. Não ficará sem a devida persecução penal! Obviamente que não demoraria para aparecer as passadas de pano: ‘acho que ele nem sabe que é o símbolo nazista’. Ah Sim, com certeza porque essa águia com todos detalhes nazistas é vista no ônibus, no metrô, nos órgãos públicos, na figurinha do Pokémon né?! Tudo uma grande coincidência”, declarou.

Vale ressaltar que a apologia do nazismo usando símbolos nazistas, distribuindo emblemas ou fazendo propaganda desse regime é crime no Brasil, com pena de reclusão. O crime se enquadra na  Lei 7.716/1989, que mostra que praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é crime com pena de reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social.

Caso sejam fabricados, comercializados, distribuídos ou veiculados símbolos emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo a pena é de reclusão de dois a cinco anos e multa.

Após o ocorrido, a diretoria do São Raimundo Esporte Clube alegou que repudia e condena veementemente toda e qualquer demonstração a favor de algo que foi uma das maiores manchas da história mundial. Conforme a nota, o São Raimundo ressaltou ainda que a atitude do homem não representa a história do clube.

Chegou ao conhecimento da diretoria do São Raimundo Esporte Clube, que durante o jogo contra e equipe do São Raimundo de Roraima, pelo Campeonato Brasileiro Série D 2022. Um indivíduo adentrou ao estádio usando camisa e retirou a mesma, ostentando uma tatuagem com símbolo nazista e proibida pela legislação vigente, além de atentatório à dignidade humana e provavelmente um dos capítulos mais tristes da história da humanidade, se não o mais.

O São Raimundo Esporte Clube vem a público, repudiar a atitude deste indivíduo em que nada representa a história do clube do povo. O São Raimundo condena veementemente toda e qualquer manifestação favorável àquilo que foi uma das maiores máculas da história mundial! Este indivíduo, uma vez identificado, não mais adentrará as dependências do estádio em dias de jogos do Tufão. Além disso, encaminharemos formalmente uma denúncia aos órgãos criminais para que haja a devida investigação e persecução penal.