Foto: Bruno Kelly/REUTERS
Além de perturbar a vida aquática e alterar o ecossistema, o mercúrio usado na atividade ilegal de garimpeiros em trecho do Rio Madeira também pode causar lesões nos órgãos das pessoas que se alimentam todos os dias com peixes contaminados, pois apresentam sintomas mais crônicos do minério do corpo. O mercúrio usado pelos garimpeiros afunda no leito do rio e acaba sendo consumido pelos peixes, impactando diretamente a saúde das populações tradicionais, as principais consumidoras desse pescado.
Trecho do Rio Madeira, no Amazonas, foi invadido por centenas de balsas e dragas com a presença de garimpeiros após o surgimento da informação de que havia ouro na região. Há cerca de 15 dias, várias embarcações começaram a se instalar próximo à comunidade de Rosário, no município de Autazes (distante 113 quilômetros da capital amazonense), formando uma espécie de “vila flutuante”.
De acordo com o médico e pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Cesar Basta, quando chega ao fundo do rio, o mercúrio sofre um processo de transformação química mediada por microrganismo, se transforma numa forma química ainda mais tóxica: o metil mercúrio, e entra na cadeia alimentar desse pescado.
“Quando esse povo tradicional come o peixe contaminado, ele vai ser absorvido no nosso trato gastro intestinal e vai entrar na corrente sanguínea, sendo absorvido pelo corpo. Do jeito que o mercúrio acumula no peixe, ele também acumula no corpo do ser humano. Se você come diariamente, duas ou três vezes, peixe contaminado pelo mercúrio, o corpo não tem tempo de eliminar, e ele vai acumulando. Nisso, ele vai provocando lesões em órgãos, principalmente no cérebro, rins, fígado, e no coração”, declarou.
Além disso, de acordo com o coordenador do mapeamento de mineração do MapBiomas, Pedro Waldir, os garimpeiros costumam usar substâncias que podem poluir as águas e gerar um grande impacto ambiental.
“Eles acabam lançando esses elementos químicos para fazer a separação do ouro no próprio rio. Isso causa a poluição química dos rios da Amazônia que, até então, ainda são considerados uns dos rios mais conservados do planeta. O grande problema dessa prática é a questão do lançamento de metais pesados, principalmente o mercúrio, na água”, explicou Waldir.