Entusiasta da candidatura presidencial do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) defende a participação do gaúcho em uma união da terceira via e, ao mesmo tempo, prega trégua na guerra interna do PSDB ao fazer acenos na direção do ex-governador de São Paulo João Doria. A estratégia é convencer os correligionários de que a alta rejeição do paulista inviabilizaria suas pretensões ao Planalto e levaria ao encolhimento da bancada tucana e da sigla em geral, que corre o risco de não ter representante na corrida presidencial pela primeira vez desde sua fundação.
Para Aécio, ainda que Doria tenha vencido as prévias há quatro meses, a eleição interna não reflete mais o PSDB. O tucano mudou o tom ao tratar do correligionário, elogiou seu empenho para viabilizar a vacina contra a Covid-19 e procurou estabelecer pontes.
Aécio lembrou que em 2010 abriu mão da candidatura presidencial em favor de José Serra, derrotado por Dilma Rousseff. E quatro anos depois foi o candidato da legenda, quando também perdeu para a ex-presidente. Aécio indicou que, caso Doria optasse por uma “saída honrosa”, o gesto poderia ser reconhecido no futuro:
— O PSDB tem dois nomes com a mesma legitimidade. Quem tiver a menor rejeição leva. O retrato do partido de hoje não é aquele das prévias. Se o Doria tivesse condições, teria que ser nosso candidato. Se o Leite não tiver, não será. O que não podemos é nos apegar à realidade formal e tirar o PSDB do jogo. Doria pode não ser candidato agora, mas, dependendo do gesto que fizer, pode ser no futuro. Somos companheiros, não temos que ficar nessa guerra interna.
Para Aécio, a reprovação ao paulista pode ser “injusta” e “exagerada”, mas não pode ser ignorada. Na visão do ex-presidente do PSDB, é preciso que o partido reconheça que a rejeição de Doria dificulta a formação de palanques estaduais e a composição de chapas para deputados federais em diversos estados e pode levar ao encolhimento da legenda nas eleições de outubro. Neste cenário, ele entende que Leite daria ao PSDB uma candidatura competitiva.
Mesmo assim, defende que ambos se apresentem e tentem viabilizar seus nomes até 18 de maio, quando PSDB, MDB, Cidadania e União Brasil devem definir uma candidatura única à Presidência. O deputado entende que os dirigentes partidários têm que agir com “desprendimento” e não descarta a hipótese de a legenda ficar inclusive sem candidato.
— Eu defendo que seja feita uma pesquisa qualitativa com os representantes de cada partido. Acho que nós temos o melhor nome para esse projeto novo para o Brasil. Mas se o conjunto dessas forças políticas considerarem que tem outro nome melhor, nós temos de admitir também — diz.
A mudança no tratamento dispensado por Aécio a Doria é recente e ocorre desde março, quando o deputado foi absolvido no processo em que era acusado de corrupção por, segundo o Ministério Público Federal, ter recebido R$ 2 milhões em propina da J&F. O desgaste provocado pela ação penal levou Doria a defender a expulsão do colega do partido, mas o pedido foi rejeitado pela Executiva Nacional do PSDB.
“Não é pessoal”
No ano passado, em meio à campanha das prévias, a temperatura entre os dois voltou a subir. Em entrevista, o ex-governador disse que o deputado era um “pária” e deveria se afastar da sigla. O parlamentar respondeu chamando o correligionário de “desqualificado”.
— Minha questão com o ex-governador Doria não é pessoal. Até quero registrar que ele fez um gesto extremamente correto. Logo que fui absolvido das denúncias absurdas que tive de responder, ele me mandou uma mensagem. Cito isso até para dizer que ele tem gestos que são nobres — afirma.
Fonte: O Globo